Tutankhamon – O faraó menino

Por Arthur Fanini Carneiro Tutankhamon foi faraó durante a XVIII Dinastia (c. 1550-1307 a.C.), sucedendo seu pai Akhenaton, governante responsável pela reforma amarniana. Nesta passou-se a cultuar um único deus, Aton – representação do disco solar. Quando Akhenaton morreu o culto a Aton foi abandonado e após uma conturbada sucessão ao trono, o jovem príncipe Tutankhamon, filho de uma segunda esposa do faraó, ascendeu ao governo com a idade entre nove e dez anos. Durante seu governo Tutankhamon reabriu os templos e retomou os cultos abolidos por seu pai, em especial ao deus Amon. Seu nome enquanto vivia na corte de Akhenaton era Tutankhaton que fazia alusão ao nome do deus Aton. Com o retorno às antigas crenças o jovem faraó alterou seu nome para a forma mais conhecida: Tutankhamon que significa “ imagem viva de Amon”. Tutankhamon casou-se com sua meia-irmã, Ankhesenamon, que era filha de Akhenaton e Nefertiti. Devido à idade do jovem soberano, a administração política e econômica ficou sob controle do vizir conhecido como Ay, o qual teve o apoio militar do principal comandante do Egito na época, o general Horemheb. Durante o reinado de Tutankhamon, a política externa foi restaurada e as relações com os vizinhos do Egito melhoradas. Mesmo assim, tendo sido um governo diplomático e tendo relações exteriores bem-sucedidas, batalhas ocorreram entre egípcios, núbios e asiáticos sobre o território que controlava as rotas de comercio. Tutankhamon ordenou reparações de templos sagrados como a continuação da construção do templo de Karnak, em Luxor, a antiga Tebas.  Uma rara imagem do faraó Tutankhamon em seu papel oficial como governante se localiza na tumba de seu vice-rei, Amenhotep Huy, na Nubia. Nela podemos ver o jovem rei realizando seus deveres oficiais sozinho. O papel do vice-rei era manter o ouro fluindo da Nubia para o Egito, ouro que seria utilizado tanto no ataúde quanto na máscara mortuária do faraó. Entre dezenove e vinte anos de idade Tutankhamon faleceu. Seu corpo levou setenta dias para ser mumificado por completo, e esse foi o tempo que os trabalhadores tiveram para os preparativos de sua tumba. Seu corpo foi transportado de balsa pelo Nilo até o local de seu sepultamento no Vale dos Reis. Tutankhamon não deixou herdeiros. Ankhesenamon era a única herdeira real viva, e após a morte de seu marido casou-se com o vizir Ay, tornando-o o novo faraó. Ay teve grande influência no reinado de Tutankhamon. Aconselhava o rei, ministrava a justiça e controlava a entrada ao palácio. Apesar de seu curto governo, Tutankhamon é um dos faraós mais famosos da história egípcia, não tanto por seus atos políticos, mas por sua tumba descoberta em 1922, por Howard Carter, que revelou uma grande riqueza em termos de objetos funerários e cotidianos a qual nenhuma outra tumba real possui.         Detalhe do trono de Tutankhamon. Original: Museu Egípcio – Cairo   Máscara do Tutankhamon. Original: Museu Egípcio – Cairo.   Tumba de Amenhotep-Huy – Amenhotep-Huy com o rei Tutankhamon   Referências Bibliográficas BRIER, Bob. O Assassinato de Tutancâmon. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2001. CARDOSO, Ciro Flamarion. O Egito Antigo. São Paulo: Ed. Brasiliense, 2004. CARTER, Howard. The Tomb of Tutankhamun. London: Ed. Bloomsbury, 2014. CARTER, Howard e MACE, A.C. A Descoberta da Tumba de Tutankhamon. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2004. COELHO, Liliane Cristina. Mudanças e Permanências no Uso do Espaço: A cidade de Tell El-Amarna e a questão do urbanismo no Egito Antigo. Tese de Doutorado. Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2015. 308f. DODSON, Aidan. Amarna Sunset: Nefertiti, Tutankhamun, Ay, Heremheb, and the Egyptian Counter-Reformation. Cairo: AUC Press. 2009. FRONZA, Vanessa. Ações restauradoras de Tutankhamon: a retomada de Tebas como principal centro religioso do Egito após a reforma amarniana. Revista Plethos, Niterói, 3, 2, 2013. p.105-118. HANKEY, Julie. A Passion for Egypt. London: Ed. Publishers, 2001. JOHNSON, Paul. Egito Antigo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. MELLA, Federico A. Arborio. O Egito dos Faraós. São Paulo: Editora Hermus, 1998. PRICE, Bill. Tutankhamun: Egypt’s most famous Pharaoh. Herts: Ed. Pocket Essenials, 2007.    

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TUTMÉS III: “O Napoleão do Egito Antigo”

Por Jessica Cabral – Estagiária do Museu Egípcio e Rosacruz O faraó era o símbolo máximo de poder na sociedade egípcia. Era revestido com suas insígnias de poder, como as coroas e os cetros. Além disso, o faraó era encarregado de fazer reinar Maat na terra. Mas, o que isso significa? Filha do deus Ra, Maat era a deusa que representava um conceito divinizado na sua figura, a Ordem, que devia ser garantida pelo faraó, para que o mundo funcionasse de maneira harmoniosa. Portanto, o dever principal do faraó enquanto governante era manter Maat. Sendo esse o papel fundamental dos faraós, Tutmés III, assim como seus antecessores, também tinha seu poder legitimado pela mitologia egípcia. Tutmés III “Menkheperre”[1] foi o quinto faraó da XVIII Dinastia, durante o período chamado Reino Novo, governando de 1479 até a sua morte, aproximadamente em 1425 a. C.. Esse faraó em questão é relativamente conhecido por dois fatores que marcaram sua trajetória. O primeiro fator é a chamada corregência, que acabou acontecendo por conta da ascensão muito prematura de Tutmés III ao trono, seguida de uma mudança política gradual promovida por sua tia, a rainha Hatshepsut. E, o segundo fator é o que lhe concede o título de “Napoleão do Egito Antigo”, título a ele conferido na contemporaneidade graças às numerosas campanhas militares e conquistas territoriais que fez durante seu reinado, sendo, portanto, uma associação direta ao conquistador francês do início do séc. XIX, Napoleão Bonaparte. Sabendo dessas primeiras informações, podemos concordar que Tutmés III e seu período de reinado se torna, no mínimo, curioso, não é mesmo? Tutmés III reinou por mais de 50 anos, era filho de Tutmés II e foi nomeado faraó pelo oráculo na regência de sua tia. Conta-se que em uma certa ocasião, “o deus Amon havia forçado os portadores da arca sagrada a ajoelhar-se durante o festival de celebração. A arca então saudou dentro do templo, o infante príncipe Tutmés, que servia a um tipo de culto separado e reservado aos príncipes do Egito. Amon e os portadores da arca sagrada se prostraram em frente ao príncipe e então, Tutmés III levantou-se para tomar seu trono”. Sendo ainda criança, Tutmés III, apesar de ser o escolhido, não era capaz de dar conta às tarefas de um faraó, de maneira que a rainha Hatshepsut, assumiu o poder em uma regência institucionalizada a partir da coroação do jovem rei. Além disso, Tutmés III casou-se com Neferura, filha da rainha Hatshepsut, porém, a princesa morreu prematuramente. Apesar da pouca idade, Tutmés III é representado utilizando as roupas e coroas de um rei e continuou contando seus anos de reinado sem exercer o poder efetivamente. Essa situação perdurou do sétimo ao vigésimo-segundo ano de reinado de Tutmés III, quando Hatshepsut desaparece dos registros. Em seu governo, Tutmés III regulou as relações internas no Egito, configurou os padrões para os vizirs, que eram governantes locais, e para as cortes oficiais, reforçando sua imagem enquanto soberano legítimo, acabou decidindo pela destruição dos monumentos à Hatshepsut após 15 anos do desaparecimento da rainha. Talvez essa ação de Tutmés III tenha sido uma tentativa de legitimar o futuro governo de seu filho Amenhotep II, e não permitir que outros descendentes reclamassem o trono. Já nas relações externas, a mudança foi ainda mais expressiva. Pesquisadores alegam que o faraó Tutmés III conduziu algumas campanhas militares ainda durante o reinado de Hatshepsut, e gastou um bom tempo no preparo das forças terrestres e navais do Egito para suas próprias expedições. Ele iniciou de fato o seu reinado atacando o rei de Kadesh e seus aliados numa região do norte mediterrânico. Conquistou e batalhou em territórios estrangeiros com o objetivo de reestabelecer o domínio egípcio. Ele conduzia seus próprios regimentos, enviando barcos para a costa palestina para explorá-la e encarando exércitos como na batalha de Megido, na Ásia Menor. Tutmés III foi um dos maiores generais egípcios da história, o que leva algumas pessoas a compararem-no com Napoleão Bonaparte, que conduziu exércitos e levou a França a conquistar outros territórios, consolidando um Império na primeira metade do século XIX. Tutmés III conquistou terras do rio Nilo ao rio Eufrates e carregava em sua sombra o imperialismo egípcio. A hegemonia egípcia que tinha se consolidado com suas bem-sucedidas campanhas militares, foi concretizada em outros territórios pelo estabelecimento de um sistema de controle: as cidades da Sírio-Palestina, embora preservando certa autonomia, foram sujeitadas a pagar impostos às tropas egípcias colocadas em locais estratégicos. Além do pagamento de impostos, alguns príncipes estrangeiros eram levados ao palácio para serem educados à maneira egípcia e algumas princesas se casavam com o faraó para reforçar essas relações com os povos conquistados. Ele morreu ao 55º ano de reinado e foi enterrado em sua tumba no Vale dos Reis, descoberta em 1898, pelo egiptólogo francês Victor Loret. A tumba do faraó foi decorada com registros do Amduat que são uma versão do Livro dos Mortos utilizada principalmente em tumbas de faraós durante o Reino Novo. No entanto, apesar da tumba pertencer a Tutmés III, sua múmia foi encontrada entre outras múmias de faraós num esconderijo em Deir el-Bahari, em 1881. Atualmente, a múmia de Tutmés III encontra-se exposta no Museu do Cairo, no Egito. [1] Também chamado como Tuthmés ou Thoutmosis: formas gregas do nome egípcio [Djehoutymosé], que significa algo como “o deus Toth fez nascer o mundo”.   Acesso à tumba de Tutmes III no Vale dos Reis TUTMÉS III “O Napoleão do Egito Antigo”   Faraó Tutmes III – Museu de Luxor, Egito.   Acesso à tumba de Tutmes III no Vale dos Reis   REFERÊNCIAS: BUNSON, Margaret R. Encyclopedia of Ancient Egypt. FactsOnFile. New York. 2002. BAINES, J.; MALEK, J. Atlas of Ancient Egypt. AUC Press: Cairo. 2002. CERNIVAL, Jean-Louis de. Les Annales de Thoutmosis III. Département des Antiquités égyptiennes – Museé du Louvre: Croyances religieuses et funéraires. Disponível em: <http://www.louvre.fr/oeuvre-notices/les-annales-de-thoutmosis-iii>. DESPLANCQUES, Sophie. Egito Antigo. Porto Alegre: L&PM, 2009. DUBIELA, Ewerson Thiago silva. A análise do “homem de Estado” na Figura de Hatshepsut, rainha

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CLEÓPATRA VII- “rainha dos reis”

Por: Jéssica Franco – monitora do Museu Egípcio e Rosacruz Cleópatra VII théa philopator, que em grego significa “deusa que ama seu pai” foi a última rainha do Egito antes da conquista e anexação do território egípcio por Roma. Cleópatra pertencia a dinastia Ptolomaica, ela nasceu em Alexandria em 69 a.C, seus pais eram Ptolomeu XII Aulete (80 – 51 a.C.), sua mãe não se sabe ao certo. Era a segunda filha de cinco irmãos. Com a morte de seu pai em 51 a.C., Cleópatra então com dezoito anos, subiu ao trono como rainha regente com seu irmão Ptolomeu XIII (51- 47 a.C.). Apesar dos alexandrinos não estimarem muito os romanos, foi a dois deles que a vida de Cleópatra ficou intimamente ligada. Júlio César (100- 44 a.C.) conheceu a jovem quando ela foi exilada de Alexandria acusada pelo séquito de seu irmão de conspirar para governar sozinha. O romano chegou à cidade alexandrina em 48 a.C. e foi surpreendido com a ousadia da jovem, quando ela pediu a seu servo fiel, Apolodoro, entregar um saco de estopa ao general como um presente, e dentro dele, Cleópatra se encontrava escondida. Cleópatra se tornou aliada política de Júlio César, e mais do que isso, os dois se tornaram amantes. O fruto desta relação se chamaria Cesário, ou pequeno César, como os egípcios chamavam o filho do casal. Depois do assassinato de Júlio César em 44 a.C. pelos conspiradores do Senado romano, houve a aproximação entre ela e Marco Antônio, cônsul romano que lutou ao lado de Júlio César na guerra civil romana. Os dois também se tornariam amantes e teriam três filhos. Foi junto a Marco Antônio que Cleópatra empreendeu uma guerra contra Otávio, sobrinho de Júlio César e rival dos amantes. Derrotados, ambos se suicidaram. O suicídio da rainha se tornaria lenda, segundo a hipótese mais aceita, ela teria se suicidado pela picada de uma serpente, assim, foi vítima de uma morte rápida e digna, pois não sofreria a humilhação de ser prisioneira de seu inimigo. Depois de dois mil anos a figura de Cleópatra ainda desperta o interesse e a imaginação do mundo. A repercussão que essa personagem histórica teve nas artes, na literatura, no cinema e no teatro foi imensa. Contudo, as fontes sobre a verdadeira Cleópatra são escassas, além da propaganda negativa sobre ela empreendida por Otávio, inimigo político de Cleópatra. Por isso, grande parte das fontes utilizadas para formatar a imagem dela tratam-se de documentos romanos posteriores a sua morte. Portanto, apesar de toda a sua fama, a rainha ainda continua sendo um enigma na história. As únicas fontes mais precisas sobre sua aparência são moedas cunhadas a mando da própria rainha que contém seu busto. Através das poucas fontes egípcias que resistiram ao tempo e a destruição por seus inimigos, é que Cleópatra legitimava-se perante o seu povo através de uma estreita ligação com as deusas Ísis e Háthor. Em seu governo ela também enfrentou crises econômicas, mas estabilizou a economia, aumentou significativamente o acervo da biblioteca de Alexandria, estimulou as artes, a filosofia e o conhecimento. Realizando uma política externa eficiente, manteve o Egito independente por mais de vinte anos até que ele se tornasse uma província romana em 30 a.C.         Morte de Cleópatra-1874 por Jean-Andre CLEÓPATRA VII- “rainha dos reis”[1] [1]  Título dado a ela por Marco Antônio na cerimônia do Ginásio (34 a.C, Alexandria). Referências: HUGHES-HALLETT, Lucy. Cleópatra: histórias, sonhos e distorções. Tradução: Luiz Antonio Aguiar. Editora Record, São Paulo, 2005. SCHWENTZEL, Christian-Georges. Cleópatra. Tradução: Paulo Neves. Editora L&PM Pocket, Porto Alegre, 2009. SCHIFF, Stacy. Cleópatra: uma biografia. Tradução: José Rubens Siqueira. Editora Zahar, Rio de Janeiro, 2011. www.seshat.com.br

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Anúbis – O Senhor do Embalsamamento

  Por: Arthur Fanini Carneiro –  Monitor do Museu Egípcio e Rosacruz A divindade representativa da mumificação, Anúbis, é o senhor do embalsamamento, seu nome vem do grego Ἄνουβις (Anupu), mas o povo egípcio o chamava de Inpw que significa abridor dos caminhos, era representado na sua forma antropozoomórfica com cabeça de chacal e corpo de homem ou um chacal deitado. De acordo com a crença egípcia, o falecido depois de mumificado, renasceria no mundo dos mortos e passaria a eternidade com os deuses. Os mitos e lendas do Egito Antigo se referem a Anúbis com a forma de canídeo, uma espécie de “cão”, pois observavam que essa espécie de cachorro, o chamado “chacal”, habitava a região desértica ocidental do vale do Nilo, próxima as necrópoles, locais destinados as tumbas e sepultamentos. O deus Anúbis poderia ser representado inclinado sobre pavilhões, atuando como protetor das múmias dentro das tumbas, guardando-as contra as forças que tentassem prejudicar a pessoa morta. O deus da mumificação está presente em objetos, amuletos, entalhes ou pinturas nas paredes de tumbas e sarcófagos. A origem de Anúbis está narrada nos textos das Pirâmides. De acordo com estes textos, Nut e Geb, deuses do céu e da terra respectivamente, tiveram quatro filhos, Osíris, deus da fertilidade e responsável por tudo que cresce no Egito, Isis e Néftis, deusas da magia e Seth, deus do caos.  O principal deus do panteão egípcio era Ra, divindade relacionada ao sol, o mesmo governava todo aquele mundo. Quando estava ficando cansado e velho, Ra passou as coroas do Alto e Baixo Egito para seu bisneto Osíris, mas com essa tarefa, houve o despertar da inveja do seu irmão mais novo, Seth. Como deus da fertilidade, Osíris poderia ter filhos, diferente de seu irmão, que era casado com Néftis. Após uma briga, a deusa teve uma ideia, se disfarçou de Isis, sua irmã gêmea e esposa de Osíris, e foi aos aposentos desse deus. Néftis acabou engravidando, dando à luz a Anúbis, o que aumentou o ódio de Seth pelo seu irmão mais velho. Seth tomado pelo ódio fez com que seu irmão caísse em uma armadinha, trancou-o em uma caixa e o jogou no Nilo. Após o assassinato, Isis sabendo do ocorrido, partiu em busca do corpo de Osíris, encontrando-o no palácio do rei da cidade de Biblos, na Fenícia. Conseguindo recuperar o corpo, voltou ao Egito, aonde tentou através de magia, ressuscitar o deus. Ao falhar, a deusa escondeu Osíris em um pântano de papiro, e viajou a fim de aprender a magia necessária. Entretanto, Seth encontrou o cadáver do irmão durante uma caça. Resolveu esquarteja-lo em quatorze partes que foram espalhadas por todo o Egito. Na companhia de alguns deuses, Isis foi em busca das partes de Osíris. Ao reuni-las, Isis tentou novamente devolver-lhe a vida, mas sem êxito. Então, Anúbis ficou responsável pela guarda do corpo do pai, o embalsamou, transformando Osíris na primeira múmia. Por conta dessa história, o povo egípcio aderiu a ideia de que era necessária a conservação do corpo para garantir a vida além-túmulo. Osíris embalsamado, portanto, tornou-se o soberano do outro mundo. Segundo o Livro dos Mortos, no tribunal de Osíris, Anúbis auxiliava na pesagem do coração da pessoa morta. O coração simbolizava o que a pessoa fez de bom e de ruim durante sua vida terrena. É difícil atribuir o início do culto ao deus Anúbis, mas sabe-se que havia uma divindade chamada Kbentiamentiu cuja fisionomia era muito semelhante à de Anúbis. Ao mesmo tempo, Kbentiamentiu também possuía semelhanças com o deus Osíris, por ser também representado como uma múmia. Era comum no Egito a mumificação de animais ligados as divindades, como cães e chacais em honra ao deus Anúbis, algumas foram encontradas na necrópole de Saqqara, em Mênfis. Com a presença greco-macedônica e romana no Egito, verifica-se que Anúbis foi helenizado, sendo associado à Hermes, transformando-se em Hermanubis. Seu culto era bastante forte no período romano, mas ao longo do tempo, com a cristianização dos povos habitantes do Império, o culto foi abandonado. Suas representações eram com corpo humano, cabeça de chacal e portando o caduceu, um bastão em torno do qual se entrelaçam duas serpentes e cuja parte superior é adornada com asas e com a cabeça do deus egípcio na sua forma canídea.   REFERÊNCIAS SHAFER, Byron E. As Religiões no Egito Antigo – Deuses, mitos e rituais domésticos. São Paulo: Editora Nova Alexandria, 2002. ARAÚJO, Emanuel. Escritos para a eternidade: a literatura no Egito faraônico. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2000. WILKINSON, R. H. Reading Egyptian art. A hieroglyphic guide to ancient Egyptian painting and scupture. Londres: Editora Thames and Hudson, 1994. TRAUNECKER, C. Os deuses do Egito. Trad. Emanuel Araújo. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1995. RICE, Michael. Who’s Who in Ancient Egypt. 1ª Edição. Londres: Editora Routledg. 1999.  

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Háthor Representações do feminino no Egito Faraônico

  Háthor em egípcio antigo ḥwt-ḥr, que significa recinto ou casa de Hórus, era uma das deusas mais cultuadas pelos antigos egípcios. Dentre suas várias representações ela aparece como sendo uma mulher com um disco solar acima de sua cabeça entre seus chifres bovinos ou com corpo de mulher e orelhas de vaca, quase sempre segurando um was, cetro com cabeça de um cervo, ou ainda o wadj, um cetro com a planta de papiro, já que para os egípcios a morada dessa deusa era nas plantações desse vegetal que localizavam-se na parte Delta do rio Nilo, onde havia também muitos rebanhos de bovinos. Entre as suas múltiplas denominações as principais aparecem como: “A Grande Vaca Selvagem”, “A Distante” ou “A Senhora do Ocidente” pois era a senhora do deserto e das terras estrangeiras, “A Senhora Turquesa” e “A Dourada” uma vez que era também a deusa dos metais e dos minérios, e “A Senhora do Submundo”, sendo ela protetora dos mortos. Seu culto no Egito faraônico remonta ao Reino Antigo (2686-2181 a.C) considerando os registros de cabeça bovina esculpidos na paleta de Narmer (3100 a.C) e os achados arqueológicos junto a fonte textual no Templo do Rei Khafra (2520-2494 a.C). Contudo, houve claramente uma veneração de deusas-vacas no Egito pré-dinástico (5500- 3100 a.C) como a deusa Bat que foi associada a Háthor posteriormente. Háthor era uma deusa muito popular na antiguidade egípcia. Por esse motivo era venerada em várias regiões do Egito, seu templo foi construído em Dendera, uma cidade localizada na margem ocidental do rio Nilo. Na mitologia egípcia Háthor possui várias faces, sua natureza é benigna, mas essa deusa possui um prisma relacionado a destruição e fúria. Háthor é filha do deus sol Rá, e a mitologia retrata a deusa como a vingadora de seu pai quando os homens se voltam contra ele, dentre suas várias manifestações, nesse momento se torna a deusa Sekhmet, um deusa leoa patrona de batalhas e da guerra. Em algumas partes a mitologia conta que Háthor carregou Hórus em seu ventre, portanto ela é considerada a mãe simbólica e divina do faraó, representante de Hórus na Terra. Essa relação materna da deusa com o governante do Egito, está retratada na estátua de Amenhotep II (1424-1398 a.C) – atuamente no Museu do Cairo – nesse artefato a deusa está amamentando o próprio faráo em seu colo. Em algumas versões mitológicas mais antigas Háthor era venerada como a deusa que deu a luz e amamentou todos os outros deuses, por isso a deusa é muitas vezes representada e associada à Isis, a deusa da maternidade. As Sete Háthors* são os sete aspectos da deusa, essas em específico são mais ligadas a fertilidade e capazes de prever o futuro de um recém nascido. Na iconografia que ilustra passagens do livro dos mortos na tumba da rainha Nefertari (1292- 1186 a.C), Háthor é representada através das sete vacas cujo papel é determinar o destino de uma criança ao nascer. Em muitas versões entre os diversos mitos presentes na religião egípcia, a deusa é a paredra do deus Hórus, ou seja, sua esposa e consorte. Tendo em vista a quantidade de faces que essa deusa possuia dentro da religiosidade egípcia, fica claro que ela tinha muitos atributos. Entre eles se destacam o amor, a beleza, a sexualidade, a dança e a alegria. Háthor era uma deusa muito ligada a festividades, pois os mitos contam que na ânsia de vingar seu pai ela promoveu uma carnificina entre os homens, e para apaziguar sua fúria, Rá a embebedou com sete mil jarros de cerveja, uma vez embriagada a deusa era associada a festas. Ela também é a deusa do amor, os gregos imediatamente associaram Háthor à Afrodite e os romanos a sua Vênus, rituais mágicos e poemas de amor são encontrados em nome da deusa em paredes de tumbas e templos. A beleza e a sensualidade eram princípios dessa deusa, mulheres utilizavam espelhos de bronze polido adornados com capiteis ou estátuas da deusa. Peles de pantera e incenso de ébano, joias de ouro, bronze e turquesa eram seus elementos. A música era um componente importante nas celebrações de adoração a deusa Háthor, seus instrumentos rituais o sistrum, “sesheshet” em egípcio, um chocalho de bronze com capetéis hathóricos, e o menat, um colar espesso de contas com um contrapeso longo de ouro ou bronze, emitiam sons atribuidos a essa divindade. Na arquitetura, os capitéis hathóricos eram construídos acima de grandes pilares de templos para representar a suntuosa deusa. Por fim, Háthor era uma divindade com um culto acessível no Egito antigo, entre as diversas representações do feminino na religião egípcia, Háthor simbolizava o comportamento feminino, em especial a relação das mulheres egípcias com o corpo e o amor. *Sete denominações e aspectos da deusa adorados por seus sacerdotes e sacerdotisas. Cada sacerdote (a) só poderia cultuar um aspecto. As denominações variam de acordo com a cidade e com os cultos locais de cada região, pois poderia ser inserido um deus local da cidade entre as sete. Por: Jéssica Franco Referências: NOBLECOURT, Christiane Desroches. A mulher no tempo dos faraós. Campinas, Papirus, 1994. REMLER, Pat. Egyptian Mythology A to Z. 3ª edition Publisher, Chelsea House, 2010. HART, George. The Routledge Dictionary Of Egyptian Gods And Goddesses. 2ª edition Publisher, Taylor & Francis Group, 2005. Site: www.seshat.com.br

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O deus egípcio Bes

O nome pelo qual é chamado, ‘Bes’, originário da palavra ‘besa’, que significa ‘proteger’ era designado para representar uma variação de dez deuses que tinham muitas características semelhantes – Aha, Amam, Bes, Hayet, Ihty, Mefdjet, Menew, Segeb, Sopdu e Tetetenu. Suas origens datam do Reino Antigo, onde o deus Aha seria seu ancestral. Existe a hipótese de que seja originário da região onde atualmente se encontra a Turquia, uma vez que imagens do mesmo foram encontradas em escavações em território turco. Bem como acredita-se também de que seja originário da África subsaariana, pois um dos títulos que lhe é agregado, “Senhor de Punt”, denomina uma antiga terra pertencente à região. Inclusive, a coroa emplumada que Bes utiliza é muito semelhante com a coroa da deusa Anuket, originária das fronteiras sulistas do Egito. Há várias maneiras de ser representado, sendo muitas vezes de forma pitoresca, sendo um anão, de corpo peludo e nu ou envolvido em uma pele felina e também vestindo o saiote kilt. Rosto largo, barbudo, dotado de características felinas, muitas vezes projetando sua língua para fora da boca, pernas tortas e flexionadas. Em algumas representações aparece com as mãos apoiadas à cintura, em outras, empunha uma espécie de espada em uma delas e, ainda, a estrangular uma serpente. Também pode aparecer com o sinal ‘sa’, que significa proteção. Há casos em que é mostrado batucando um pandeiro. Sua forma de ser representado também se diferencia muito de os outros deuses egípcios, pois Bes muitas vezes é mostrado de frente e poucas vezes de perfil, como a maioria dos demais deuses egípcios, dando a sua representação uma maior impressão de movimento. Apesar da aparência grotesca em que muitas vezes é representado, Bes é dotado de uma índole benéfica, onde uma das suas principais funções era salvaguardar as gestantes, inclusive, o mesmo faz parte do grupo seleto de sete deuses do parto junto às deusas Hathor, Heket, Meskhenet, Isis, Nekbet e Tauret. Várias representações do deus são encontradas nas casas ‘mammisi’, típicas do período romano, onde eram locais sagrados para a realização do parto. Era também protetor principalmente das crianças, onde através de sua ‘feiura’, afastava maus espíritos e também ameaças peçonhentas como escorpiões e serpentes. Guardião do bom sono, prospector de fertilidade e de boa sorte, amuletos e representações eram encontrados nas paredes de casas de artesãos que trabalhavam na construção de tumbas da região de Deir el-Medina. Era o deus também das festas, sendo relacionado a dança e também a música, onde é encontrado em móveis do túmulo da rainha Tiye (XVIII Dinastia), onde Bes é representado tocando um pandeiro, exemplo encontrado também nas paredes do santuário da deusa Hathor, na ilha de Philae. Apesar da sua grande popularidade, nunca foi encontrado um templo dedicado especificamente a sua veneração. Restando somente uma vasta coleção de amuletos e pingentes, bem como pequenas estatuetas, representações em vários objetos, como potes cosméticos, máscaras, além de suas representações nas casas ‘mammisi’, e nas paredes de casas, tumbas e templos. Jean Carlo Pelanda

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Seshat

Seu nome, Seshat, quer dizer ““*a escriba” , pois sesh significa escriba e o sufixo et (ou at) indica o gênero feminino. Outro nome atribuído à deusa é Sefkhet-Abwy, referente aos emblemas característicos colocados sobre a cabeça da deusa. Ela também pode ser chamada de a primeira de per-medjat “a casa dos livros”, a primeira de per-ankh “casa da vida”, biblioteca do templo, senhora da escrita, dos anos, dos construtores ou weret-hekau, que significa “a grande da magia” – título dado também a outras deusas. Seshat geralmente é representada vestida com pele de leopardo, uma veste que simboliza o ofício sacerdotal. O adorno sobre sua cabeça consiste em uma flor de sete pétalas ou estrela de sete pontas – a interpretação desses aspectos é variada -, contornada por um objeto que pode ser um par de chifres invertido ou duas serpentes. O símbolo que há sobre sua cabeça se pronuncia [ s’sh’t ] e é o hieróglifo da deusa. Normalmente, ela aparece segurando um instrumento para marcar a passagem do tempo e seus eventos, além do tempo previsto para o Faraó na sua jornada terrena, bem como instrumentos específicos da atividade de escriba – como o filete de junco utilizado para escrever e a paleta. Em dados momentos, a deusa Seshat é identificada com aspectos semelhantes aos da deusa Néftis e ocasionalmente também pode ser associada à deusa Háthor. As primeiras aparições da deusa na mitologia egípcia datam ainda do Reino Antigo (a partir de 2920 a.C.), pois há indícios do culto à Seshat na Segunda Dinastia (2770 a.C. – 2649 a.C.). Não se tem conhecimento de nenhum templo dedicado exclusivamente à deusa, mas ela é sempre referenciada como a patrona da construção dos edifícios sagrados e é representada no interior de diversos templos, como os de Abydos, Edfu, Dendera, Karnak e Luxor. Também é possível encontrar representações suas nas paredes do templo de Abu Simbel, assim como no templo do deus Toth, em Hermópolis ou Khemenu. O culto à deusa prolongou-se até as épocas tardias na cidade de Alexandria, onde foi construída a famosa biblioteca de mesmo nome, visto que Seshat é a deusa da sabedoria e protetora das bibliotecas. Na mitologia egípcia, Seshat ocupa um papel que a coloca como a deusa das escrituras e dos projetos arquitetônicos, padroeira também da astronomia e matemática pois era a deusa que media e registrava o mundo. Seshat é a páredra do deus Toth, ou seja, uma contraparte feminina do deus da sabedoria e do conhecimento. Ela e Toth fixavam a duração do reinado de um rei gravando seu nome sobre as folhas da árvore ished em Heliópolis. Como deusa da escrita, Seshat era a guardiã dos registros reais e das genealogias. Ela também é mostrada fazendo a gravação do espólio adquirido pelos reis nas batalhas, talvez como um lembrete de que uma parte é devida aos deuses. Logo a partir da Segunda Dinastia, ela foi mostrada ajudando os reis a colocar as bases para construção dos templos e a alinhá-los com as estrelas e planetas. Em alguns textos dos sarcófagos, Toth e Seshat “trazem escritos para um homem no reino dos mortos”. Estes escritos eram os feitiços que poderiam ajudar a pessoa morta a vencer os terrores do submundo e tornar-se um espírito poderoso. Infelizmente, pela escassez de registros sobre essa deusa, Seshat não é tão conhecida atualmente como as deusas Ísis, Bastet ou Maat. Contudo, pelos vários significados atribuídos à deusa, percebemos que Seshat tinha valor e notoriedade para os egípcios antigos, visto que foi reverenciada até os períodos mais tardios da civilização faraônica. *Por mais que Seshat seja a senhora da escrita e carregue os instrumentos de um escriba, a deusa não é representada escrevendo e não é recorrente nas fontes que mulheres exercessem o papel de escribas na sociedade egípcia. Por: Jéssica Cabral Referências: Seshat. Dieux et Déesses de l’Ancienne Égypte. Disponível em: . L. C. F. (org.). A comprehensive list of Gods and Goddessesof Ancient Egypt. p. 276. Disponível em: PINCH, Geraldine. Handbook of Egyptian Mythology. ABC-CLIO, 2002. p. 190-192. WAINWRIGHT, G. A. Seshat and the Pharaoh. Journal of Egyptian Archaeology. n.26. 1940. p.30–40.

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Maat: princípios regentes do Egito faraônico

  Por: Shara Lorena Gritten Mello A deusa Maat era representada pelos egípcios com a aparência de uma jovem mulher com uma pena de avestruz em sua cabeça. A origem da deusa é incerta, provavelmente tenha surgido nos períodos mais remotos da história egípcia, durante o Pré-Dinástico (c. 5000 – 3000 a.C.). Segundo a mitologia egípcia, Maat era filha de Rá (o deus do sol) e esposa do deus Thot (deus da escrita e sabedoria). Para os antigos egípcios, essa divindade simbolizava a justiça e a verdade. Em sua balança, o coração do morto era pesado perante o tribunal do deus Osíris, revelando assim as infrações do morto a uma de suas 42 regras. Se o coração, que representava a consciência – ou era onde ela estava guardada – fosse mais leve que a pena da deusa, o morto passaria ao paraíso de Osíris. Porém, se o coração fosse mais pesado que a pena, Ammit, que era uma deusa representada por animais perigosos da África como o crocodilo, o leão e o hipopótamo, devoraria o coração e o morto desapareceria para sempre. O simbolismo da deusa também estava associado a realeza egípcia e seus princípios deveriam ser “respeitados” pelos faraós. Cultos diários deveriam ser realizados para Maat. Neste caso, ela também era considerada a regente do cosmos e, novamente, vista pelos egípcios como a deusa do equilíbrio e da ordem. Os egípcios acreditavam que se Maat não estivesse satisfeita com os cultos realizados pelos faraós e sacerdotes, um desiquilíbrio poderia ocorrer. Por exemplo, a cheia do rio Nilo não aconteceria e a população passaria fome. Seus centros de culto, normalmente, eram dentro de outros templos maiores como, por exemplo, os dedicados as deusas Háthor e Isis. O faraó Amenhotep III (1391-1353 a.C.) mandou construir um templo para a deusa em Karnak e há outros também que estão localizados em Mênfis e Deir el-Medina. Podemos perceber que a deusa era muito importante para os egípcios, cultuada tanto na vida quanto na morte. Sem a ordem, sobraria para os egípcios apenas o caos. A sociedade egípcia antiga baseou suas leis e muitos costumes na crença a esta deusa e seus princípios que chamavam de Maat. Deusa Maat representada alada – Cena presente na tumba da rainha Nefertari Faraó Seti I oferecendo Maat a Amon-Rá – Templo de Seti I em Abydos Julgamento do morto na balança de Maat – Papiro de Ani – Museu Britânico

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Deusa Ísis, a Grande Senhora da Magia

Thays da Silva – Monitora do Museu Egípcio Conhecida como deusa da magia, exemplo de mãe e esposa ideal, protetora do lar e das crianças, a deusa Ísis foi adorada em diversos períodos da história egípcia antiga. Com templos em locais como Quft, Behbeitel-Hagar e Ilha de Philae, sendo o último o mais conhecido, Ísis é uma das deusas mais populares da cultura egípcia. Referências a ela podem ser encontradas em diversos mitos, sendo os mais conhecidos o mito da “Criação do Mundo”, da cidade de Heliópolis, e o mito de “Isis e Rá”. Ísis seria parte do panteão principal do mito da cidade de Heliópolis, formado por nove deuses. Segundo esse mito, essa divindade teria se casado com seu irmão, o deus Osíris, deus relacionado ao mundo dos mortos e à ideia de vida após a morte. Os dois formaram, segundo a crença egípcia, o primeiro casal real. Ísis também foi a mãe do deus Hórus, divindade relacionada ao poder dos faraós. No mito de Ísis e Rá, essa deusa teve o intuito de descobrir o nome verdadeiro do deus, e assim desejava obter domínio sobre seu poder. Para isso, teria feito com que uma serpente envenenasse esse deus e, em troca de sua cura, Rá teria que lhe dizer seu verdadeiro nome. Depois, com o poder adquirido por Ísis a partir desse conhecimento, essa divindade restabeleceu as forças do deus. Esse mito é muitas vezes associado a um importante aspecto da figura de Ísis, que consiste em sua relação com a magia. Ísis é representada como uma mulher com um trono sobre sua cabeça e, como personificação desse objeto, a deusa foi uma representação importante do poder faraônico, da mesma forma que a própria figura do faraó foi associada a seu filho, o deus Hórus. Um amuleto egípcio chamado “Tyet”, comumente conhecido como “Nó de Ísis” também é relacionado a essa divindade. Esse item teria formato similar ao “Ankh”, amuleto que, para os antigos egípcios, representava a vida. No entanto, o “Tyet” teria as extremidades laterais curvadas para baixo. Segundo a crença dos antigos egípcios, esse amuleto garantiria a proteção daqueles que o utilizassem. Ísis teve inúmeros títulos ao longo de toda a história da civilização egípcia antiga, como “Rainha do Céu”, “Mãe dos Deuses”, “A mais brilhante no firmamento”, “Grande Senhora da Magia”, “Senhora das Palavras de Poder”, entre outros. Após a conquista do Egito por Alexandre, O Grande, o culto a essa divindade estendeu-se à civilização greco-romana. Templo dedicado à deusa Ísis – Ilha de Philae Ísis protegendo Osíris – XXVI Dinastia – Museu Britânico Amuleto Tyet (Nó de Ísis) – 1250-1100 a.C. – Museu Britânico Ísis e Hórus – Período Ptolomaico – Museu Metropolitano de Arte de Nova York

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Estelas funerárias da cidade de Abydos

  A antiga cidade-necrópole de Abdju, mais conhecida pelo nome grego de Abydos, esta localizada no Alto Egito Setentrional a aproximadamente 150 quilômetros da atual cidade de Luxor. Abydos era a capital da oitava província administrativa chamada Ta-ur, ou “terra mais antiga”, e foi um importante centro religioso relacionado ao culto aos mortos no Egito faraônico. As descobertas arqueológicas na região nos mostram que esta cidade esteve em constante atividade, desde o período Proto-dinástico (anterior a 3.000 a.C.). O culto a Osíris tornou-se tão popular no final do Reino Antigo, que esta divindade acabou absorvendo e incorporando atributos de dois deuses relacionados ao poder e a morte. É o caso da divindade real de Busíris, Anedjit, e da divindade da própria necrópole de Abydos, Kenthiamentiu, cujo nome significa “o que esta a frente dos ocidentais”, ou seja, o soberano do mundo dos mortos. Nesta cidade foram enterrados todos os faraós da I dinastia e dois da II dinastia. A tumba do faraó Djer era considerada pelos egípcios a própria tumba do deus Osíris, devido o faraó Khendjer, do Reino Médio, ter erigido uma estátua deste deus sobre o leito funerário de uma câmara na tumba de Djer. Consequentemente, milhares de pessoas todos os anos se reuniam na região com a finalidade de realizar oferendas ao “Senhor de Abydos”. A localização estratégica de Abydos permitia que as peregrinações viessem tanto do norte quanto do sul do Egito. O caráter popular dos festejos fazia com que muitas pessoas participassem com freqüência e durante a permanência na cidade muitos mandavam erigir Estelas Funerárias, na grande maioria, confeccionadas em materiais duráveis. Elas tinham o propósito de assegurar a perenidade de suas ideias sobre a vida e a morte, e, sobretudo representar a pessoa quando não pudesse mais participar das “procissões osirianas”. As estelas funerárias encontravam-se dispostas nos cenotáfios (monumento funerário simbólico edificado em clamor ao proprietário) ou em pequenas capelas. Quando associadas ao espaço sagrado em que poderiam estar depositadas, os antigos egípcios acreditavam que garantiriam proteção e víveres na outra vida. De maneira geral, eram retangulares e com topo arredondado ou no formato de “portas falsas”, tinham aspectos básicos como a representação do morto, algumas vezes de familiares ou servos, uma fórmula mágica e uma mesa de oferendas. A imagem seguia o padrão da escultura egípcia, geralmente gravadas em baixos relevos ou somente pintadas, apresentavam o morto sentado em bancos ou cadeiras de encosto baixo, o homem vestido com um saiote, as mulheres com uma túnica branca mostrando um dos seios, à sua frente eram desenhadas uma mesa de oferendas repleta de víveres dos quais são facilmente identificados pães, vasos de cerveja, partes de bovino e aves. Os textos presentes quase sempre começam com a “formula de oferendas”, ou seja, uma inscrição dotada de simbologias que iria garantir o fornecimento de alimento para o morto. Após estas inscrições, pode ser identificado o título do proprietário, que nada mais é a sua profissão. Estes objetos compunham parte do aparato funerário egípcio e eram bastante comuns. Muitas Estelas Funerárias chegaram aos nossos dias e são utilizadas pelos historiadores de diversas maneiras. Suas inscrições revelam informações sobre a sociedade em que viviam e ajudam a recuperar partes importantes da vida no Egito Antigo. Jeferson Fernando Nabosni

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