Tampa de ataúde de sacerdotisa

Proveniência: Luxor – Egito. Período: Terceiro Período Intermediário – XXI Dinastia – 1070-945 a.C. A original encontra-se no Museu Britânico – Londres – Grã-Bretanha. Embora repleta de símbolos hieroglíficos esta peça não traz o nome de sua proprietária, somente o título de “sacerdotisa”. A face, emoldurada por uma peruca enfeitada com faixas e pétalas de flor de lótus, certamente não condiz com a real aparência da mulher que adquiriu esta peça. Era comum no Egito a confecção de ataúdes por encomenda, ou a “compra” de um exemplar já pronto. Sabemos disto porque em alguns ataúdes o espaço onde estaria o nome do morto foi deixado em branco, ou em outros casos, o nome é muito grande ou pequeno para área onde deveria ser escrito.

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As abominações do país: o assassinato do faraó Ramsés III

Por Ewerson Dubiela – Historiador do Museu Egípcio Ramses Usermaatra Meryamon é conhecido por nós como Ramsés III. O faraó governou durante quase 32 anos, entre 1194 e 1163 a.C.[1] e foi o segundo rei da XX Dinastia (1196-1070 a.C.). Sua tumba original encontra-se na margem ocidental do Nilo, uma das dezenas escavadas na rocha, porém, o corpo acabou por ser removido pelos próprios egípcios antigos por conta dos roubos dos enxovais funerários, sendo encontrado no final do século XIX, em 1881, em um esconderijo real de Deir el-Bahari, denominado como DB320. A múmia de Ramsés III está em excelente estado de conservação, fato observável a partir dos primeiros exames que ocorreram no Museu Nacional Egípcio, no Cairo, também em fins do século retrasado. A autópsia não pode identificar feridas, evidencias de sufocamento, estrangulamento ou envenenamento e, por isso, houve a ideia de que o governante pudesse ter morrido de uma doença chamada arteriosclerose. A partir de 2012, um grupo de pesquisadores[2] realizou diversos exames antropológicos, forenses, radiológicos e genéticos em múmias do Museu Nacional Egípcio, dentre elas, a de Ramsés III. O corpo do faraó Ramsés III possui um tecido que envolve o pescoço. Conforme se aplicou o exame de Tomografia Axial Computadorizada, TAC, pôde-se observar um ferimento, produzido por uma lâmina afiada de quase 7 cm de comprimento. Tal ferimento se deu da 5ª até a 7ª vértebra, somando a destruição dos tecidos moles dessa área. O TAC identificou também que a cavidade do ferimento acabou por ser preenchida com materiais que os sacerdotes egípcios usavam na mumificação dos cadáveres. Entretanto, há um pequeno amuleto wdjat, olho de Hórus, de 15 mm colocado na abertura, a intenção poderia ser proporcionar integridade e saúde, além da reparação do dano através de magia. De maneira mais recente, outro estudo[3] sugere que o assassinato se deu após luta, já que um dos dedões do pé do faraó foi decepado e o ferimento não teve tempo de cicatrizar. Assim, a possibilidade é que o ataque pode ter sido realizado por duas pessoas, uma pela frente de Ramsés III com uma espada ou machado e outra por trás do rei, atingindo-o com uma faca ou adaga no pescoço. É possível que esse episódio tivesse como objetivo não apenas a morte do governante, mas também a remoção do príncipe herdeiro, Ramsés[4]. As informações sobre a tentativa de assassinato do rei estão contidas em quatro papiros: Judicial de Turin, Rollin, Lee e Rifaud, sendo o primeiro o mais importante. É no papiro judicial de Turin que o episódio é denominado como “As abominações do país”, também anuncia os membros do tribunal e os jurados, além de apresentar uma primeira lista de acusados qualificados, cada um, como “Grande inimigo” e detalhar o envolvimento destes. Sabe-se que o complô havia nascido no harém real, com a Grande Esposa, Tiye. Esta era mãe de um dos príncipes mais próximos à Ramsés III, Pentawera. Diversos funcionários reais e parentes destes estão relacionados com o regicídio, como Pabakkamen, que era chefe da câmara e dos lacaios do rei e Ashahebsed, seu assistente. No papiro se diz: O Grande Inimigo Pabakkamen, que havia sido chefe da câmara. Foi traído por sua cumplicidade com Tiye e as mulheres do harém e por fazer causa comum com elas. Ele começou a levar as mensagens para fora, para as mães e os irmãos daquelas que se encontravam aqui, dizendo: ‘Levanta as gentes e incita a inimizade para que se rebelem contra o seu Senhor’. O papiro judicial de Turin traz instruções prévias, audiências com veredictos, emissão de sentenças e execução dessas, também irregularidades como tentativas de suborno – general Payis a membros do tribunal. Aos condenados pelo assassinato do rei diversos tipos de punição foram aplicados: corporais, mágicas e morais.[5] Por fim, podemos nos perguntar quais foram as motivações para tal crime. Observando o governo de Ramsés III, percebe-se que o rei tinha preferência pelos membros da elite do Baixo Egito e, de certa forma, excluía os do Alto Egito, o que pode ter gerado um certo remorso e competitividade. O reinado também foi marcado por problemas de corrupção, incursões de povos vizinhos no Egito e complicações administrativas. As incursões e derrotas desses povos estão registradas no templo funerário de Ramsés III, Medinet Habu, um dos monumentos erigidos pelo rei por conta da situação de estabilidade em que o Egito se encontrava, apesar dos ataques exteriores. O templo em si, bem como o as representações do governante, foram baseadas no reinado de Ramsés II.[6] Quanto às complicações administrativas, podemos citar, no âmbito palaciano, o casamento do faraó com duas grandes esposas, ao invés de uma como era a prática. A primeira, que já mencionamos, era Tiye, mãe de Pentawera. Ela era filha de nobres do Alto Egito. A segunda era Isis, filha de um alto funcionário de origem estrangeira, estabelecida no Baixo Egito. Isis deu luz à Ramsés. Os dois príncipes eram muito próximos ao pai e bem relacionados quanto à sucessão do trono, entretanto, a partir do ano 22 de reinado, Ramsés III escolheu o filho de Isis, Ramsés, para ser seu herdeiro. Portanto, houve a condenação de um e a elevação de outro, apesar dos dois terem o mesmo direito à coroa. Além disso, a promoção de modificações dos títulos na área monumental e a construção diferenciada de tumbas aumentou a desigualdade, fomentando a rivalidade entre irmãos. O assassinato de Ramsés III foi levado a cabo, conforme mostrou as imagens do TAC, porém, a conspiração foi descoberta e, assim, Pentawera acabou por ser responsabilizado e Ramsés IV assumiu o trono por cerca de 7 anos. É possível que Pentawera seja a famosa “múmia que grita”. Um rapaz de 18 a 22 anos de idade quando morreu, identificado hoje como “Homem desconhecido E”. Foi descoberto na mesma época e na mesma tumba que Ramsés III. Diferente de outras múmias, esta foi preservada sem que houvesse a remoção dos órgãos internos e sem emprego de faixas de linho ou preservação do nome, tendo

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A nova face de Tothmea – a múmia do Museu Egípcio e Rosacruz

O tema Egito exerce fascínio em muitas pessoas. A terra dos faraós tem suas belezas e é envolta em muitos mistérios. Aqui no Brasil existe um complexo egípcio que tem um museu e nele encontra-se a única múmia egípcia original do país. Estamos falando do Museu Egípcio e Rosacruz, que fica na cidade de Curitiba, e conserva em seu acervo como peça principal Tothmea: a múmia de uma dama egípcia com aproximadamente 2.700 anos e que está no museu desde 1995. Em 2013 um trabalho de reconstrução facial da Tothmea foi realizado pelo Designer 3D Cicero André da Costa Moraes (mas conhecido como Cicero Moraes), em conjunto com o Museu Egípcio e Rosacruz, em um projeto que envolvia muitos estudos e que passa agora por uma atualização. “O projeto “Tothmea+6” nasce neste contexto de apresentar à sociedade paranaense os resultados de todos esses anos de pesquisa apresentando à população uma nova reconstrução facial da múmia Tothmea, utilizando técnicas atualizadas, mas não deixando de fora parte considerável dos estudos de revelação dos ossos e partes internas, iniciados ainda na década de 1990”, explica Cicero. A diferença principal entre o primeiro projeto e a atualização é a arte final, posto que a estrutura dos ossos (crânio) é a mesma utilizada na primeira reconstrução. “Basicamente estamos fazendo um upgrade na face com as tecnologias acumuladas nesses 6 anos”. Para o Arqueólogo Moacir Elias Santos, responsável pelo Projeto Tothmea, esse é um trabalho muito importante para a arqueologia e seus estudos, pois as reconstruções, na realidade aproximações faciais, são feitas a partir de técnicas que reúnem estudos de antropologia biológica, identificando inicialmente o sexo e a idade provável do indivíduo que é objeto de estudo, e medições de pontos craniométricos, que correspondem às espessuras das camadas de músculos, gordura e pele, obtidas de indivíduos vivos (ou mortos). “Com os pontos distribuídos em locais específicos do crânio, é possível recriar os músculos e a pele de forma que o modelo vai ganhando vida. Posteriormente o trabalho é finalizado com a indumentária e estilo do cabelo, feitos com base em pesquisas históricas e arqueológicas. É um trabalho muito específico e fundamental no campo de estudos da arqueologia, pois por meio desta técnica é possível visualizarmos como seria o indivíduo em questão. No caso de restos humanos percebe-se claramente que esta é uma forma de humanizá-lo, visto que muitos que têm acesso aos restos humanos em museus, tendem a observá-los como objetos, esquecendo que estes foram pessoas que viveram há muito tempo e, tal como nós, tinham seus afazeres, sua família, riram e choraram”, conta Moacir. Cicero Moraes ressalta essa importância esclarecendo que “a reconstrução facial na arqueologia geralmente tem o propósito de humanizar os achados e estudos. É a ponta do iceberg composto pelo trabalho minucioso de uma série de pesquisadores. É a coroação pública de tudo isso, pois permite que os visitantes do museu se identifiquem com a Tothmea ao passo que saibam um pouco mais sobre a história dela, do seu povo e do seu tempo”. Quando foi realizado o Projeto Tothmea foi possível coletar diversos dados sobre a múmia com a pesquisa podendo revelar a todos os detalhes de como ela foi mumificada, sua idade e sua história, desde que ela foi levada do Egito para os Estados Unidos até a sua chegada no Brasil. “Quando realizamos a reconstrução da face, que havia sido quebrada em algum momento entre a década de 1930 e 1972, a partir dos fragmentos dos ossos que permaneceram dentro do crânio tornou-se possível não apenas devolver a estrutura anatômica dos mesmos como possibilitou a realização da aproximação facial forense. Para tanto foram empregadas duas técnicas simultâneas, a tomografia feita em 1999 e a fotogrametria, para criar um modelo virtual do crânio. Desconhecemos o uso destas duas técnicas por outros pesquisadores na época, por isso o estudo foi pioneiro. Passados seis anos da realização deste trabalho, a técnica levada a cabo pelo Cícero Moraes passou por um bom aprimoramento o que justificava a construção deste novo modelo, muito mais real do que foi feito anteriormente. Isto é o avanço da ciência e faz parte do trabalho”, explica Moacir. De acordo com a Supervisora Cultural do Museu Egípcio e Rosacruz de Curitiba, Vivian Tedardi, o projeto Tothmea+6 visa reforçar a relação do desenvolvimento tecnológico com os acervos museológicos. “Mostra como os museus são espaços vivos e que estão sempre em transformação e que, embora seu acervo seja constituído de momentos do passado, é no presente que foca as suas ações, estando inserido nas mudanças que acontecem em nossa sociedade. Ter a oportunidade de ver a face de Tothmea, de uma maneira mais realística, nos aproxima desse passado e concede ao visitante uma oportunidade de ter uma experiência a mais ao visitar o Museu Egípcio e Rosacruz”, destaca Vivian. QUEM É “TOTHMEA”? “Tothmea” foi uma egípcia que viveu provavelmente no final do Terceiro Período Intermediário (1070 – 712 a. C.) ou no início do Período Tardio (c. 712 – 332 a. C.) – entre os séculos VI ou VII a. C.. Não sabemos muito sobre sua vida, até mesmo seu nome verdadeiro não é conhecido. Ela recebeu o apelido de “Tothmea” de um senhor chamado Farrar, em 1888, como homenagem aos faraós Tothmés, os quais governaram o Egito durante a 18ª dinastia (entre os anos de 1504 e 1425 a. C.). De acordo com uma das fontes escritas que consultarmos, datada de 1888, havia uma inscrição no ataúde de “Tothmea” a qual mencionava que ela teria se dedicado a serviço de Ísis. Sabemos que suas funções não eram propriamente sacerdotais, mas não podemos descartar a possibilidade de que ela tenha atuado como cantora ou até mesmo como musicista de um santuário da deusa.

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A Grande Esfinge de Gizé

            Por: Vinicius Dzala Lara Wassem – Monitor do Museu Egípcio e Rosacruz Quando se pensa sobre o Egito Antigo, uma imagem que geralmente vem à mente é a da grande Esfinge de Gizé, que dizem ser coberta de mistérios, charadas e maldições. Mas será que ela realmente representa isso tudo ou haviam outros significados sobre ela? O grego Heródoto foi um dos primeiros a escrever sobre os egípcios, porém ao chegar na terra das pirâmides, os sacerdotes se recusaram a compartilhar seus conhecimentos com ele, o que levou Heródoto a tomar as próprias conclusões sobre a cultura egípcia antiga. Uma das observações de Heródoto foi sobre a Esfinge de Gizé, localizada a leste da pirâmide do faraó Kafra (Quéfren) e ligada a ela pelo acesso da rampa entre o templo do vale e o templo da pirâmide. Heródoto acabou por chamar o monumento como “Esfinge” que na realidade é o nome dado a uma criatura da mitologia grega, caracterizada por ter o rosto humano, corpo de leão e asas em suas costas, se dizia que era comum que as esfinges fizessem charadas a humanos, que quando não sabiam responder, acabavam devorados. Assim, Heródoto associou as criaturas mitológicas às estatuas egípcias, criando-se a ideia de que o real significado das esfinges seria esse. Entretanto, as estatuas representavam o poder e a divindade do próprio faraó, dando a ideia de que o Rei era sagrado e poderoso, e possuía a força e vigor de um leão. A Esfinge de Gizé tem nela representada o rosto do faraó Quéfren, mostrando ser datada da IV Dinastia (2575-2465 a.C.). Um outro fato curioso sobre esta Esfinge, é a Estela dos Sonhos, uma placa de granito posta entre as patas dianteiras da estátua, que fala sobre a primeira tentativa de “desenterrá-la” da areia, já que teria sido soterrada até os ombros após o abandono da necrópole de Gizé. A Estela tem a seguinte inscrição: “… o filho real, Tothmés, chegou, enquanto caminhava ao meio-dia e sentando-se à sombra deste poderoso deus, foi superado pelo sono e dormiu no exato momento em que Rá estava na cúpula [do céu]. Ele descobriu que a majestade deste deus falou-lhe com sua própria boca, como um pai fala para o filho, dizendo: Olhe para mim, contemple-me, ó Tothmés meu filho, eu sou o teu pai, Harmakhis-Khepri – Ra – Atum, eu conceder-te-ei a soberania sobre o meu domínio, a supremacia sobre a vida… Eis a minha condição real para que tu proteja todos os meus membros perfeitos. A areia do deserto que estou colocado cobriu-me. Salve-me, fazendo com que tudo o que está no meu coração seja executado.” A Estela fala que o responsável pela primeira escavação, da qual se tem notícia, teria sido o faraó Tothtmés IV (1401-1391 a.C.), que recebeu a mensagem da própria Esfinge através de um sonho, enquanto tirava um cochilo próximo a escultura, no qual ela pedia que lhe fosse removida a areia, e em troca, o deus Sol faria dele rei. No decorrer do século XIX, em 1817, houve uma nova restauração supervisionada pelo italiano Giovanni Caviglia, descobrindo todo o peito da estátua, e apenas em 1925 foi completamente desenterrada. Em 1926 parte de seu turbante teria caído, por conta da erosão fazendo com que em 1931 engenheiros trabalhassem na região de sua cabeça para uma restauração total, mostrando a Esfinge como temos até os dias atuais. BAINES, John; MALIK, Jaromir. Cultural Atlas of Ancient Egypt. London: Andromeda Oxford Limited, 2008. HART, George. The British Museum Pocket Dictionary of Ancient Egyptian Gods and Goddesses. British Museum Press, 2001.

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O Mito Cosmogônico de Heliopólis

Por: Bruno Luiz Deniski – Estagiário no Museu Egípcio e Rosacruz. A religião egípcia é um assunto muito interessante e intrigante. No Egito Antigo a religião estava presente em tudo, desde a organização social até mesmo nas explicações das atividades naturais, como por exemplo o nascer e pôr do sol, que só ocorria porque o deus sol Ra assim queria; da mesma forma o rio Nilo que só fluía porque o deus Hapi assim desejava. Um dos mitos egípcios mais importantes que retratam a criação do mundo é o mito da cidade de Iwnw, conhecida posteriormente como Heliopólis, como foi batizada pelos gregos. Tal mito enfatiza o deus sol Ra como sendo o criador e pai de todos os deuses. E a fonte mais eminente que traz essa mitologia são os chamados Textos das Pirâmides (datado de 2550 a.C.), além de outra muito importante que é o capítulo 17 do livro dos mortos (livro datado de 1580 a.C.), denominado como “Capítulo para sair a luz do dia“, que demonstra a passagem do sol nascente ao poente, onde o sol em si solidificava o pensamento de renovação e o primeiro raio solar caracterizava-se como o ato final da criação divina. E mesmo em datas posteriores pode-se encontrar registros sobre o mito de Heliópolis que se espalharam por várias cidades no decorrer de vários anos. Segundo o mito exposto no Texto das Pirâmides, no início havia o oceano caótico, chamado Nun. Desse oceano, surgiu uma montanha, o primeiro pedaço de terra, chamado Ben Ben. Das sombras apareceu uma garça real, comparável a uma fênix, denominada Bennu. Essa ave pousou sob a montanha e emitiu um forte grito. O silêncio deu lugar ao som. Então, o pássaro voou. De dentro da montanha surgiu Atum, sua luz tomou o lugar da escuridão e da não existência. Ra tomou a forma de Atum, tornando-se “Ra-Atum”. Atum cuspiu seus filhos e vomitou suas filhas, dentre eles o deus Shu, relacionado com o ar atmosférico. Depois surgiu sua irmã Tefnut, associada ao orvalho e a umidade, ambos tiveram uma união estável que originou outras duas divindades, Geb e Nut. A primeira tornou-se a terra e a segunda o céu estrelado. Ra não queria que ocorresse a criação de novos deuses, então ordenou que seu filho separasse os dois netos para evitar que mantivessem qualquer tipo de relação. Shu, em obediência a seu pai, fez a separação de seus filhos, colocando-se entre o céu e a terra. O mito também faz referência ao deus Toth que tentou ajudar os dois irmãos. Para isso, ele jogou e venceu uma partida de Senet com o deus Khonsu (deus da lua), o que originou mais cinco dias no calendário egípcio, permitindo que os dois jovens deuses pudessem se relacionar. Com isso, Geb e Nut deram origem a seus filhos sendo eles Osíris, relacionado com a vegetação e rei dos mortos, Ísis – deusa da magia, Seth – deus do caos, e do deserto e, por último, Néftis – deusa protetora das tumbas. O mito de criação é muito importante para a compreensão da religião egípcia, pois esse mito demonstra as principais características religiosas da sociedade, e o quão devotos eles eram para com os seus deuses. Ele demonstra do mesmo modo as diferenças e as individualidades de cada deidade. O livro dos mortos, um dos principais registros da criação do mundo, demonstra-se mais evoluído do que o Texto das Pirâmides, por exemplo. Essa mudança demonstra a evolução não só do povo egípcio, mas também de suas crenças. Trecho do “Livro dos Mortos” que representa a separação do céu e da terra – deusa Nut (céu) que aparece com o corpo longo e arqueado, deus Shu que a sustenta e deus Geb demonstrado deitado. Imagem em auto relevo do deus sol Ra   Estatua do deus Hórus em sua forma zoomórfica.   Referência Bibliográficas: DESPLANCQUES, Sophie. Egito Antigo. TRAUNECKER, Claude. Os deuses do Egito. DAVID, Rosalie. Religião e Magia no Egito Antigo.

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Hatshepsut – A Rainha-Faraó

Por: Camila Dayane Olexciw do Rosário – Estudante de história e monitora do Museu Egípcio e Rosacruz No Egito Antigo as funções desempenhadas socialmente eram estabelecidas de acordo com as construções sociais, existindo tarefas atribuídas para ambos os sexos. Essas funções poderiam ser alteradas, embora não fosse comum a posição de faraó a uma mulher. Em meados da XVIII Dinastia (1550-1307 a.C.), mediante um momento onde as rainhas haviam conquistado grande espaço dentro do cenário templário e governamental, surgiu Hatshepsut, uma personagem que, durante muito tempo, foi relegada a um posto de usurpadora dentro da Egiptologia. Filha do faraó Tothmés I e da Rainha Ahmés, Hatshepsut perdeu em sua juventude os dois irmãos e uma irmã, tornando-se herdeira legítima do rei. Embora a linhagem real se reservasse a princesa, o faraó possuía um filho com uma esposa secundária, e para que este pudesse ascender ao trono, Hatshepsut o desposou. Ele ficou conhecido como Tothmés II. Com essa união, Tothmés II consagrou-se rei e ambos receberam prerrogativas. Para Hatshepsut foram atribuídas titulações, como por exemplo o de Grande Esposa Real e as honras devidas à “Primeira Dama das Duas Terras”, reconhecido o estado de “Aquela que vê Hórus e Seth”. O casamento rendeu apenas uma filha, a princesa Neferura, também herdeira legítima do trono. Sem mais herdeiros e devido a morte precoce do rei, o trono do Egito ficou à cargo de um filho secundário concebido por uma concubina, a Esposa Real Aset, igualmente chamado Tothmés. Após o falecimento do faraó e pouca idade de Tothmés III, Hatshepsut tornou-se a regente do reino, a fim de administrá-lo até que seu enteado pudesse assumi-lo. O cargo de Regente não existia no Egito, por isso ela manteve-se no poder devido ao título de Grande Esposa Real. A presença da Rainha como regente do Egito é encontrada desde o ano 2 do reinado de Tothmés III e em grande parte das representações, possui ao seu lado a presença do enteado. A partir do quinto ano de Tothmés III as representações da rainha começaram a ser alteradas e no sétimo ano de administração, revelou-se como Rei do Alto e do Baixo Egito. Embora assumiu a representação de Faraó, Tothmés III não deixou de aparecer ao lado de Hatshepsut, eliminando as hipóteses levantadas a respeito da usurpação do trono ao longo dos anos por pesquisadores. As mudanças na maneira como a Rainha-Faraó passou a ser representada se alteraram com o tempo. Essa transformação está relacionada a uma masculinidade que passou a ser assumida por Hatshepsut, utilizada para legitimar seu poder como Faraó, considerando que a mesma possuía o espírito de Hórus, o Deus vivo, em seu corpo e assim poderia governar. Além da representação masculinizada assumida por Hatshepsut, a mesma também utilizou uma mitologia referente ao seu nascimento relacionada ao Deus Amon, a favor de sua aceitação como Faraó. A mitologia está representada no templo de Deir El-Bahari e consagrou Hatshepsut como a filha do Deus Amon, que disfarçado de Tothmés I, relacionou-se com a Rainha Ahmés, que engravidou de Hatshepsut. Como Faraó, manteve um governo próspero e realizou a construção de diversos monumentos. Os primeiros feitos de seu reinado foram os obeliscos no extremo leste do templo de Karnak, que trazem seus títulos como Rei. Apesar da multiplicidade de seus feitos, sua maior construção é o templo de Deir El-Bahari, dedicado a Rainha-Faraó e de beleza arquitetônica imensurável. Seu nome egípcio era Djeser Djeseru que quer dizer, Sublime dos sublimes. Quando suas construções foram descobertas por egiptólogos no século XIX, muitos não consideravam de que aqueles elementos diziam respeito a uma governante mulher, inclusive Champollion, que após a tradução dos hieróglifos visitou o Egito, negou a possibilidade do templo de Deir El-Bahari pertencer a uma Rainha-Faraó. A confirmação veio alguns anos mais tarde, devido a diversos fatores, como, por exemplo, o conhecimento da escrita hieroglífica, onde a letra “t” do nome da rainha é oriundo do símbolo de um pão egípcio, que pode ser interpretado como um determinativo feminino. Hatshepsut governou o Egito por cerca de 20 anos. Não há nenhum registro que indique um mal-estar entre a Rainha e o enteado, possibilidade considerada e já descartada pelos egiptólogos. Deixou inúmeros monumentos e foi muito importante para história egípcia antiga e para a história das mulheres.   Referências: NOBLECOURT, Christiane D. A mulher no tempo dos faraós. Paris: Éditions Stock,1986. SOUSA, Aline F. A mulher-faraó: representações da rainha Hatshepsut como instrumento de legitimação (Egito Antigo – Século XV A.C). Niterói, 2010 LAZZAROTTO, Gabriela – “Que ela possa reger as duas terras, que ela possa conduzir todo o vivente” – uma análise da teogamia de Hatshepsut como Filha de Amon. Porto Alegre, 2016 DELL, Pamela. Hatshepsut Egypt’s First Female Pharaoh. Londres: Penguin Books, 1998.

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Montuhotep II e a reunificação do Egito

Para que possamos falar sobre os faraós e, principalmente, sobre a reunificação do Egito, podemos destacar a unificação do território por volta do ano de 3100 a.C. O responsável por essa união e também o primeiro monarca que temos registros é Narmer (ou Menes para os gregos). Antes, a região egípcia era dividida em diferentes tribos, as quais cada uma tinha seus respectivos chefes denominados nomarcas, eram ao mesmo tempo chefes militares e políticos que lideravam unidades administrativas chamadas nomos. Um registro importantíssimo que retrata este acontecimento é a paleta de Narmer. Deve ser destacada a importância que o faraó tinha dentro do Egito: para eles, o soberano seria um deus vivo que teria a alma de Hórus, sendo assim a própria divindade na terra. O faraó era o intermédio entre o povo e os deuses, sendo também sumo sacerdote que realizava rituais sagrados nos templos. Os monarcas eram aqueles que governavam as Duas Terras – o Alto e Baixo Egito –  e através de guerras de conquista e expedições punitivas mantinham os inimigos sob seu controle ou os destruíam – o que complementa Maat (a ordem cósmica). O chamado Primeiro Período Intermediário, que teve o início por volta de 2.134 a.C. e seu termino em 2.040 a.C., leva esse nome por questões de guerras e conflitos internos entre diferentes soberanos, marca também a transição do Reino Antigo para o Reino Médio e inclui a VII até a XI Dinastias. Para classificar essa transição há diferentes estágios. Os monarcas egípcios do Primeiro Período Intermediário dividiam o poder entre duas cidades especificas sendo elas as cidades de Heracleópolis e Mênfis. A primeira perdeu seu território e seu poder para os governantes da XI Dinastia (2134 – 2040 a.C), chamada também de Dinastia tebana, que transformou Tebas na nova capital do Egito durante parte do Reino Médio (2040 – 1640 a.C.). O primeiro estágio foi representado pela desintegração do país na VI Dinastia que corresponde aos anos de 2.323 até 2.150 a.C., e o declínio do governo centralizador que corresponde à VII e VIII Dinastias, além de vários regentes que continuaram a deter o poder na cidade de Mênfis (primeira capital do Egito). Já o segundo ocorreu por um colapso na monarquia Menfita, que foi marcada por certas questões como, por exemplo: a anarquia e as guerras entre os governantes provinciais. A fome, a pobreza e a doença espalharam-se por todo o território egípcio. Há registros que falam sobre sepulturas e monumentos que foram saqueados e destruídos por ladrões, e tais problemas desencadearam conflitos bélicos e religiosos, esses eventos foram registrados nos chamados “Textos Literários Pessimistas”. Os conflitos internos eram também contínuos ataques surpresas realizados pelos beduínos que residiam na região fronteiriça que se localizava ao nordeste do Médio Egito. O terceiro estágio destaca-se por questões em que os governantes da cidade de Heracleópolis surgiram como novos regentes que dominaram o Médio Egito, entre as cidades de Tebas e Mênfis (IX e X Dinastias). O chamado Akhtoy (Kheti) foi o governante que conduziu seu povo a vitória e estabeleceu Heracleópolis como a nova capital do Egito durante o Primeiro Período Intermediário. A anarquia foi controlada temporariamente, houve um período de paz no qual realizaram construções de templos nas localidades de Beni Hassan, Akhemim e El – Bersh. Neste mesmo período se erguia a família dos Antef´s na cidade de Tebas. Logo, esta família teve disputas e conflitos com os soberanos da cidade de Heracleópolis. Tal fato foi gravado na tumba do governante Akhetoy em Assiut. Outros acontecidos foram registrados no texto “A Instrução Dirigida ao Rei Merikare” em que um regente já com uma certa idade dirigia a palavra para seu sucessor e filho, tal escritura tinha como finalidade estabelecer o poder politico do monarca. No último estágio, Montuhotep II, descendente dos Antef´s, conquistou o poder geral do país, restaurando então as questões políticas e sociais, acabando com a anarquia e a guerra civil. O monarca apaziguou todo o território egípcio e permitiu que os governantes provinciais mantivessem o seu poder. Consolidou a cidade de Tebas como nova capital do Egito e estimulou o crescimento da arte e arquitetura. Montuhotep II foi responsável por reunificar o Egito depois do Primeiro Período Intermediário e também responsável por fundar o Reino Médio, por volta do ano de 2040 a.C. Talvez Montuhotep II não tenha governado todo o território egípcio, mas com certeza foi o reunificador do país. A construção mais famosa da XI Dinastia é o monumento funerário único que Montuhotep II Nebhepetre mandou construir para si em Deir el-Bahari, em Tebas.   Por: Bruno Luiz Deniski – Referências: DESPLANCQUES, Sophie. Egito Antigo. São Paulo 2009. CARDOSO, Ciro Flamarion. O Egito Antigo. 1982. DAVID, Rosalie. Religião e Magia no Antigo Egito. Ed. Difiel. BRANGAGLION, Antônio. Quadro Cronológico – Seshet. Museu Nacional.

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Ramsés II, o Grande

Um dos mais conhecidos faraós da antiguidade egípcia, Ramsés II foi o terceiro faraó da XIX Dinastia (1307-1196 a.C.), cujo reinado durou em torno de 66 anos, indo de c. 1290 a 1224 a.C. Por suas conquistas em guerras e pelas construções feitas em seu reinado, o mesmo foi intitulado de Ramsés II, o Grande. A origem deste faraó começa com seu avô, Ramsés I (1307-1306 a.C.), um exímio líder militar que serviu como general do faraó Horemheb (1319-1307a.C.), último rei da XVIII Dinastia (1550-1307) que antes de morrer nomeou Ramsés para assumir o trono. Ramsés II era filho do faraó Seti I (1306-1290) com a rainha Tuya. Seti o reconheceu como seu primogênito e o nomeou regente, isso significa que após a sua morte ele iria se tornar o próximo governante. Durante sua juventude, o príncipe Ramsés foi treinado no exército, o que mais tarde faria com que o mesmo se tornasse um reconhecido líder militar. Com a idade de 24 anos, Ramsés II ascendeu ao trono, na primeira instancia de seu reinado esteve focado em manobras militares, proporcionou aos exércitos maior importância, sendo bem treinados e melhor tratados, também foram feitas construções de fortificações nas fronteiras egípcias que ajudavam na movimentação das tropas e garantia segurança e proteção ao Egito. Através de seu poder como faraó ele criou uma nova capital chamada Pi-Ramsés, na região central do Delta Oriental. Toda nobreza e exército foram redirecionados para essa nova sede, lá foram feitas melhorias no arsenal egípcio que proporcionaram maior estabilidade ao governo do rei. Anos mais tarde vieram as campanhas militares e durante cinco anos os egípcios se prepararam militarmente, então marcharam em direção ao Mediterrâneo onde iniciaram a reconquista da cidade de Tiro e ocuparam as regiões de Canaã e Amurru. A batalha mais famosa foi contra os hititas e é conhecida como Batalha de Kadesh. O conflito foi pelo domínio da Síria e o seu ponto alto ocorreu perto das muralhas dessa cidade, durando 15 anos, e só terminou após um acordo de paz assinado por ambos os lados, anistia aos refugiados e acerto dos territórios. Além das conquistas militares, o que também fez com que Ramsés II fosse conhecido como “o Grande” foi a prosperidade de seu reinado onde, por exemplo, houve a construção de enormes templos. Ele continuou a construção do grande salão hipóstilo em Karnak (Tebas) e deu sequência aos trabalhos no templo funerário construído por seu pai, Seti I, em Abydos, os quais foram deixados incompletos na morte do último. Foram finalizados também os templos funerários destinados ao seu pai em Luxor (Tebas) e mandou construir seu próprio templo funerário, o que mais tarde seria conhecido como Ramesseum (Tebas). As estruturas que mais são conhecidas até os dias de hoje se localizam ao sul do Egito, na região da Núbia. Aproximadamente seis templos, sendo dois deles esculpidos nas rochas, conhecidos como Abu Simbel, com quatro estátuas colossais do próprio Ramsés II.   Da vida pessoal de Ramsés praticamente nada é conhecido. Sua Grande Esposa, cujo o nome era Nefertari, teve um templo menor em Abu Simbel dedicado a ela. A rainha parece ter morrido comparativamente cedo durante o reinado de Ramsés II, e seu túmulo no Vale das Rainhas, em Tebas, é bastante conhecido. O rei teve outras esposas em seu harém, as quais deram filhos ao faraó, entre esses o sucessor de Ramsés II, Merneptah, e seus irmãos Merytamun e Matnefrure – a princesa hitita. No decorrer de sua vida o rei teve aproximadamente 100 filhos e viveu quase 90 anos. O melhor retrato de Ramsés II é uma estátua dele como jovem, agora no Museu Egípcio de Turim. Sua múmia, preservada no Museu Egípcio no Cairo, é a de um homem já idoso com um rosto longo e estreito, nariz proeminente e maxilar maciço. O reinado de conquistas e prosperidades de Ramsés II, o Grande, foi o último pico de poder do reino egípcio. Após sua morte o Egito conseguiu manter sua soberania. Ele foi um líder notável, exímio militar e administrador competente e fez com que o país fosse próspero em seu reinado. Alguns de seus feitos, no entanto, certamente devem ser levados para o seu estilo de publicidade, seu nome e seus registros de batalhas que foram encontrados em todo o Egito e na Núbia. Autor: Arthur Fanini Carneiro – Monitor do Museu Egípcio Referências Bibliográficas ARAÚJO, L. M. O clero de Amon no antigo Egito. Lisboa: Cosmos, 1999. DONADONI, S. O Homem Egípcio. Lisboa: Editorial Presença, 1994. GRALHA, J. Deuses, faraós e o poder: legitimidade e imagem do Deus dinástico e do monarca do Antigo Egito – 1550-1070 a.C. São Paulo: Ed. Hemus, 2002. MELLA, F. O Egito dos Faraós. São Paulo: Editora Hemus, 1998. MERTZ, B. Temples, tombs, and hieroglyphs. New York: HaperCollins e-books, 2007. MONTET, P. A Vida Cotidiana no Egito no tempo dos Ramsés. São Paulo: Ed. Livros do Brasil, 1989. NÉRET, G. Description of Egypt. Paris: Taschen, 2001. NOBLECOURT, C. D. Ramsés II, la veitable histoire. Paris: Warelet, 1996. SPALIGER, A. The Great Dedicatory Inscription of Ramesses II. Boston: Ed. Brill, 2009.

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Akhenaton – O Filho de Aton

Por: Guilherme Gemin – Monitor do Museu Egípcio Akhenaton foi um faraó da XVIII Dinastia no Reino Novo (1550 – 1070 a.C.). É filho de Amenhotep III, pai de Tutankhamon e marido de Nefertiti. Foi coroado oficialmente em Tebas, seguindo as tradições egípcias daquele momento. Governou em uma época favorável o Alto e o Baixo Egito (1353 – 1335 a.C.), pois havia controle administrativo, político e religioso, o que foi benéfico para que se realizassem modificações. Os faraós adquiriam o título através da hereditariedade e acreditavam na sua ligação sanguínea com o próprio deus Hórus. A autoridade de um faraó era atribuída através do poder divino, aonde exercia o sumo sacerdócio e a política interna e externa do Egito. Quando assumiu o trono, Akhenaton chamava-se Amenhotep IV. Mudou seu nome durante a realização das reformas a partir do segundo ano de reinado. Essas mudanças ocorreram em diversos campos: na política, na arte e na religião. A capital foi transferida de Tebas para Akhetaton – uma localidade praticamente no meio do Egito, onde encontramos nas montanhas desérticas uma representação do hieróglifo Akhet que na escrita egípcia quer dizer literalmente o “horizonte”. Portanto, Akhetaton quer dizer “horizonte de Aton”, trata-se de uma cidade planejada, construída e dedicada ao deus Aton – simbolizado pelo disco solar. Em todo o seu planejamento, a organização templária tinha como intuito realizar o culto a essa divindade, que era o deus criador de toda a humanidade e do mundo. Em sua religião não se estabelecia o caos, a escuridão e a morte. Por isso, o culto aos diversos deuses tradicionais acabou abolido do seu reinado. Os templos de Akhetaton possuíam o pátio a céu aberto – a luz do dia estava associada ao contato do deus com os seus fiéis, o que é possível observar através das estelas e representações dos templos que retratam esse culto. Apesar disso, as pessoas comuns foram impedidas de cultuar diretamente a divindade, cabendo somente a família real a realização das oferendas para Aton e adoração por parte da população. Toda a representação sobre a imagem de Akhenaton, como também de Aton, envolvendo sua crença se encerra no momento em que Tutankhamon assume o trono e volta a realizar as práticas religiosas antigas, permitindo então que os egípcios pudessem realizar oferendas para os diversos deuses anteriores a reforma de seu pai. Ciro Flamarion Cardoso cita “a reforma de Amarna não promoveu o monoteísmo, pois o faraó não renunciou à sua própria divinização, que pelo contrário, foi exaltada” (CARDOSO, p.125). Apesar dos esforços dos antigos egípcios para apagar essa história, Akhenaton é um dos faraós mais conhecidos e estudados na contemporaneidade. Embora Akhetaton tenha sido destruída logo após a morte do rei, seu período deixou um importante legado para diversas interpretações acerca do reinado de Akhenaton.     Referências Bibliográficas : http://www.historia.uff.br/revistaplethos/arquivos/numero1/gisela.pdf http://www.historia.uff.br/revistaplethos/nova/downloads/3,2,2013/5%C2%AA%20edi%C3%A7%C3%A3o%20completa.pdf#page=105 Traut, Emma Brunner. Os fundadores das grandes religiões(Akhenaton, o Iluminador). 1 ed. Local: Petrópolis, RJ. Editora Vozes. 1994. Xx p http://phoinix.historia.ufrj.br/media/uploads/artigos/6_-_De_Amarna_aos_Ramses_-_Ciro_Flamarion_Cardoso.pdf http://www.seshat.com.br/wp-content/uploads/2014/07/Semna-Estudos-de-Egiptologia.pdf

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Papiro Westcar

Por: Jeferson Fernando Nabosni – Historiador A partir da decifração dos hieróglifos por Champollion, no início do século XIX, uma vasta documentação passa a ser traduzida e estudada, assim a literatura egípcia antiga foi aos poucos sendo conhecida e organizada. Atualmente, os egiptólogos buscam compreender os escritos em sua própria estrutura textual, classificando-os como literatura crítica, gnômica, lírica, dramática, aventuresca e fantástica[1]. O Papiro Westcar se enquadra na categoria de Literatura Fantástica. Estes textos propõem a apresentação e feitos considerados mágicos e/ou fora da realidade, como o uso de poderes para dar vida e seres inanimados ou realizar proezas que interferem no funcionamento normal das coisas. Ainda, mostram forte ligação com questões religiosas e míticas. Dentro da egiptologia os papiros levam o nome da pessoa que o adquiriu pela primeira vez. Neste caso, tal fato é creditado ao inglês Henry Westcar, que o adquiriu no ano de 1824. Posteriormente, o papiro chegou às mãos do egiptólogo alemão Karl Richard Lepsius que iniciou os primeiros estudos. Contudo, somente após a morte de Lepsius, o papiro foi traduzido pelo alemão Adolf Erman. Com 1,58cm o documento é composto por doze páginas com aproximadamente 26 linhas cada. O texto está em hierático, nas cores preto e vermelho. Apresenta grande desgaste nas páginas e atualmente compõe o acervo do Museu de Berlim (Papiro de Berlim – 3033). O Papiro Westcar data do período dos Hicsos (séculos XVII – XVI a.C.), todavia, estudos mostraram que as páginas continham um texto mais antigo, que foi apagado, sendo reutilizado para a escrita atual. A atitude de reutilizar papiros foi comum no Egito antigo e é conhecida como palimpsesto, devido alto custo de produção de folhas novas. A série de relatos contida no papiro, mostra a presença de cinco contos, entretanto, do primeiro conto só restaram duas linhas; o segundo, o terceiro e o quarto conto estão completos e o quinto conto termina abruptamente. No geral, todas as histórias constituem o desejo do rei Khufu (Queóps em grego), da quarta dinastia, em alegrar-se escutando seus filhos. Considerados textos de escrita pobre e linguagem repetitiva, poderiam estar ligados a tradição oral. Pretendemos apresentar, de forma breve as três histórias completas, mesclando trechos originais com explicações. O primeiro conto completo retrata uma história de adultério. Ubainer, chefe dos sacerdotes-leitores, após descobrir que sua esposa se encontrava com um homem, no jardim de sua própria casa, resolveu se vingar. Com a ajuda de seu mordomo, retira um pedaço de cera de uma caixa mágica, modela um crocodilo e pede que o coloque no tanque do jardim, mas antes recita tal encantamento: “Quem quer que venha banhar-se em meu tanque, agarra-o com tua boca”. No dia seguinte, assim acontece, quando o homem adentra ao tanque, o crocodilo de cera “… virou um animal vivo com 3,66m” que agarrou-o, e levou para o fundo do lago. Mais tarde, quando o dono da casa chega, chama o animal que traz o amante. Ubainer ordena ao crocodilo, que o leve ao fundo do lago e nunca mais o tire de lá, já sua esposa foi condenada e acabou sendo queimada. O segundo conto mostra as proezas de um mago durante um passeio do rei no lago do palácio. O rei Sneferu, estando muito deprimido, chamou o chefe dos sacerdotes Djadjaemankh, para que criasse algo que animasse seu coração. O sacerdote ordena que preparem uma barca com as mais belas moças do palácio. Assim, o rei saiu passear; em certo momento uma das moças, que estava a remar, começa a chorar, pois teria derrubado um amuleto em forma de peixe na água do lago. O rei tentou dar outro presente a moça, contudo, ela queria seu amuleto. Djadjaemankh é chamado para resolver o problema. Utilizando de fórmulas mágicas ele abre as águas do lago, desce ao chão e recupera o enfeite da moça. O terceiro conto traz as histórias do velho mago, Djédi, que teria cento e dez anos. O filho do rei é enviado para o encontrar, e após alguns dias de viagem, o mago já estava no palácio. Dentre suas maiores proezas, ele conseguia unir uma cabeça separada de um corpo, fez isto diante do rei com um ganso e um boi. Ganhou grande prestígio na corte. O mago ainda dizia saber onde se encontravam as câmaras secretas de Toth, que o rei esmerava copiá-las em seu templo funerário. Ao exigir que o mago mostrasse o local, Djédi afirmou que não estava em seu poder entregar estes segredos, dizendo que o local seria mostrado pelo filho mais velho de Rededjedet, uma mulher que dará à luz aos reis da próxima dinastia. O Papiro Westcar é considerado uma das peças mais importantes da literatura egípcia. Rosalie David aponta que todas as histórias tinham “objetivos propagandísticos políticos e religiosos”, enaltecendo os reis e seus sacerdotes. Estas características estão associadas à tradição oral dos contadores de histórias, que migravam de uma cidade para outra, a fim de perpetrar grandes feitos do passado. [1] Tal proposta é apresentada por Emanuel Araújo em: ARAÚJO, E. Escrito para a eternidade: a literatura no Egito faraônico. Brasília: Editora Universidade de Brasília, Imprensa Oficial, 2000.    

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