O Templo de Edfu

Por: Bruno Deniski – monitor do Museu Egípcio e Rosacruz As civilizações antigas e suas culturas eram voltadas para a religião, e suas devoções eram colocadas à mostra quando realizavam as construções dos grandiosos templos e outros monumentos em dedicatoria aos seus deuses. Suas cidades eram construidas ao redor dos templos, lugar considerado divino, sendo assim as regiões afastadas dos templos eram consideradas profanas. Como dito, os egípcios antigos não viviam apenas de construções de grandiosos monumentos, eles partilhavam também uma religião complexa, compreendiam o mundo em que viviam por meio dos mitos e suas deidades, ou seja, para eles o espaço onde viviam é em si só religioso, onde os deuses eram fundamentais em todo o cotidiano e em todas as atividades, das mais simples até as mais elaboradas como o reinado do faraó. Ocorria uma relação ampla entre o monarca e os deuses, principalmente por dois motivos: o primeiro porque o rei era considerado um deus vivo na terra, e dentro dele habitava a alma do próprio deus Hórus e, o segundo dava legitimidade e poder ao faraó. Os templos foram tão importantes que serviram como um meio de legitimar a dinastia Ptolomaica (332 a 30 a.C), pois muitos templos começaram ou foram terminados neste periódo. Templo de Edfu Conhecido como templo de Hórus, deus protetor das famílias e dos faraós considerado também como o senhor dos ventos. Encontra-se localizado na margem oeste do Rio Nilo, foi edificado com pedras arenosas e em todas as dimensões das paredes do templo haviam diversas cenas gravadas, sendo algumas dessas  responsaveis por contar o mito da contenda entre Hórus e seu tio Seth. Tanto no lado direito quanto no esquerdo das paredes internas do templo há representações da procissão divina de Hórus e Hathor, conhecida também como “união divina”, e no fim desta mesma sala encontram-se mais duas estátuas do deus falcão protegendo um portal de uma colunata (sequência de colunas). As gravuras nas paredes do pátio apresentam diferentes cenas, algumas com o faraó rezando, e outras realizando oferendas, local conhecido como “pátio das oferendas”. Ao lado direito da colunata encontra-se um quarto pequeno chamado de biblioteca onde, possivelmente, os egípcios guardavam rolos de papiros “científicos e administrativos”. Suas paredes são adornadas de imagens iconográficas que representam o chamado “ritual de fundação do templo” onde demonstram o faraó Ptolomeu III dedicando o Templo ao deus Hórus. No final do templo a sala chamada de “Sanctum Sanctorion” é um local com pouquíssima iluminação, e que apenas os sacerdotes poderiam adentrar. Neste espaço era depositado o tabernáculo (parecido com uma capela) onde era posta a estatua de Hórus. Os templos egípcios são importantes e fundamentais para a compreensão entre o espaço sagrado e o profano, como do mesmo modo para entender a sua relevância para a legitimidade do poder faraônico, isso ocorreu no período ptolomaico, momento no qual há construção e a reforma de diversos templos. Eles podem ser reconhecidos como um meio de demonstração da devoção dos egípcios para com os seus deuses. Desse modo, ao entender os processos de construção e decoração dos templos também compreende-se os acontecimentos históricos e as crenças do povo egípcio. Referências bibliográficas: CÂMARA. Matheus Breno Pinto da. ESPAÇO SAGRADO E ESPAÇO DOMÉSTICO: UM ESTUDO SOBRE OS TEMPLOS E AS CASAS NO ANTIGO EGITO. Alétheia Revista de Estudos sobre Antiguidade e Medievo – volume 9, n. 1. UFRN, 2014. GRALHA, J. Egito Ptolomaico: Arquitetura Sagrada e as relações de Poder. Hélade, v. 1, n. 1, 2015, p. 67-82. PIRES. Guilherme Borges. O Templo de Hórus de Edfu: As narrativas do sagrado. Universidade Nova de Lisboa, 2013-2014.

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O Touro Ápis e sua importância para a sociedade Egípcia

Autor: Bruno Luiz Deniski – Monitor do Museu Egípcio & Rosacruz. A imagem e representação do chamado touro selvagem foram utilizadas em praticamente todas as grandes civilizações da Antiguidade. Ele representava em geral, a força, a virilidade, a energia, o combate e a fertilidade. Por outro lado, a vaca era a representação da maternidade, do feminino, como também relacionada com a alimentação. De acordo com a cosmogonia egípcia há varias deidades relacionadas ou contendo características de touros e vacas. Dentre eles podem ser destacados três touros considerados sagrados, sendo eles, Ápis (relacionado com Ptah e Osíris), Meruer ou Mnéus (associado a Rá), e por fim Bukhis (associado com Montu e Rá). Do mesmo modo, havia as representações de vacas sagradas, como por exemplo: Bat, Hathor, Mehet-Ueret, Nut, Hesat, Ihet, Sekhat-Hor, Sekhetet, Shentayet e Khensit. De todos esses bovinos sagrados o que mais se destacou foi o touro Ápis, em egípcio Hep, que deteve seu culto desde a fundação do Estado, em 3100 a.C. Seu culto passou pela época Tinita (I-II Dinastias), acontecimento registrado na pedra de Palermo. Considerado como o deus da vegetação, fecundidade, ressurreição, que em alguns momentos era relacionado ao deus-sol Ra, portanto, com o renascimento e fertilidade. O touro era usado também na corrida que confirmava o poder do faraó denominada como “corrida ritual“ chamada de Heb-sed. Esse ritual ocorria quando o rei alcançava o seu 30° ano de reinado e através dele o poder do rei era renovado e legitimado. No evento, o faraó teria que cumprir algumas atividades, por último participava de uma corrida em que deveria acompanhar o touro, o que dava a conotação da crença de que haveria uma troca de poderes entre os dois. A festa ocorria na cidade de Mênfis, onde o faraó carregaria um cetro nekaka que representava o poder político e social e, durante a corrida, tinha como objetivo demonstrar a sua boa forma física. Supostamente ele venceria o touro, dando-lhe um maior poder para o seu reinado. O animal representava diretamente o poder do monarca como também sua fertilidade e força. Existem várias fontes iconográficas nas paredes de diversos templos em que o touro aparece nas demonstrações do poder destrutivo do rei e nas cenas em que caça touros e leões – essas representações podem ser consideradas como cenas ritualísticas que tinham como objetivo demonstrar o poder do monarca como controlador do universo, dentro e fora do Egito. Na cidade de Mênfis, o touro representava a fecundidade, figurava a força vital da Natureza e era considerado também como o próprio deus Ptah. Era também relacionado com outros dois deuses sendo eles Ra (deus do sol e da criação, tendo seu culto na cidade de Heliópolis), assim Ápis representava a vida e, por último, Osíris (deus dos mortos, relacionado com a vegetação, sendo o padroeiro da cidade de Abydos), desta maneira o deus touro ganhava outra característica: o do renascimento. Ápis era representado com um disco solar em sua cabeça ue caracteriza sua relação com o deus Atum e entre seus chifres havia a imagem da deusa serpente Uraeus. Com o passar do tempo, suas características como um deus touro foram crescendo e ganhando ainda mais importância dentro da cosmogonia egípcia, Ápis começou a se diferenciar de outras deidades tauromorfas, e com isso adquiriu aspectos próprios. O deus tinha traços únicos, segundo alguns historiadores clássicos, era necessariamente um touro negro, de barriga e patas brancas, com uma mancha branca em formato de um abutre ou uma águia, localizada em seu dorso. Outros pontos de suas peculiaridades, era uma mancha em forma de um besouro-escaravelho, localizada na parte inferior de sua língua, e uma calda com duas pontas de cores distintas uma preta e a outra branca. Só poderia haver um touro Ápis, esse bovino sagrado vivia em extremo luxo. De acordo com a mitologia, o deus Ápis era filho de Ptah, no ato de sua criação o deus desceu até a terra em forma de uma luz celeste e fecundou uma vaca para o nascimento do deus touro. Haveria uma construção dedicada a ele localizada perto da de seu pai Ptah, onde ocorriam dedicatórias, pois o povo egípcio deixava ferendas de alimentos e riquezas. Quando Ápis morria, seu corpo era mumificado e embalsamado e o lugar de seu enterro era chamado Serapeum. Os egípcios ficavam entre 60 e 70 dias de luto e, logo após a sua morte, os sacerdotes iniciavam a escolha do novo representante do deus touro. Seu poder como divindade perdurou até o período Romano, alcançando sua popularidade entre os gregos que juntamente com Osíris transformaram-no em um novo deus denominado Serapis, chegando a ser um dos maiores deuses do panteão egípcio. Imagem de Ápis deus touro que representava o poder do faraó. Retirado de https://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/o-culto-do-touro-ou-boi-apis-no-antigo-506911 no dia 28/06/2019 às 10:49 Estela de calcário representando o culto ao touro Apis, encontrada no Serapeum, em Sakara. Retirado de https://www.art.com/products/p27986392967-sa-i8441406/egyptian-painted-limestone-stele-depicting-worship-of-bull-god-apis-from-serapeum-at-saqqara.htm Representação iconográfica de Osíris deus dos mortos. Retirado de https://www.guiaestudo.com.br/osiris no dia 28/06/2019 às 10:54. Representação de Ptah deus protetor de Mênfis, cidade localizada na região norte do Egito, era também considerado como criador do mundo. Retirado de https://desciclopedia.org/wiki/Ptah no dia 28/06/2019 às 10:58 Referências bibliográficas: DAVID, Rosalie. Religião e magia no Antigo Egito. Editora Bertrand Brasil, tradução de Angela Machado. Rio de Janeiro, 2011. DESPLANCQUES, Sophie. Egito Antigo; tradução de Paulo Neves. Porto alegre, RS. P.128 – coleção L&PM Pocket, v. 805. L&PM, 2009. Traunecker, Claude. Os deuses do Egito; tradução de Emanuel Araújo. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1995. 143 p.: il. SALES. José das Candeias. O touro na mitologia egípcia: Ápis, cerimónias, insígnias e epítetos reais. Universidade Aberta. SALES. José das Candeias. Em busca do touro Ápis pelos caminhos da mitologia do antigo Egipto. Lisboa: Editora Universidade Aberta/ Centro de História da Universidade de Lisboa, p. 61 – 82, 01/06/2014. https://www.fascinioegito.sh06.com/boiapis.htm https://www.egitoantigo.net/apis-deus-egipcio-da-fertilidade.html https://ancientegyptonline.co.uk/bullcult/ https://australianmuseum.net.au/learn/cultures/international-collection/ancient-egyptian/bull-apis-e39829/

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Tothmea – Reconstrução facial forense

Projeto Tothmea Arte: Cícero Moraes Arqueólogo: Moacir Elias Santos Agradecimentos a todos aqueles que contribuíram no projeto e em especial a: Ordem Rosacruz AMORC,  Centro Cultural AMORC, Liliane Cristina Coelho, Thiago José Moreira e Priscila Scoville (Fotografias durante o processo de restauração da face da múmia) Música The lamentations of Isis  

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Tesouros do Museu-Casal Real Amarniano

Proveniência: Tell el-Amarna Período: Reino Novo – XVIII Dinastia – 1353-1335 a.C. O original encontra-se no Museu do Louvre – Paris – França.

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Tampa de ataúde de sacerdotisa

Proveniência: Luxor – Egito. Período: Terceiro Período Intermediário – XXI Dinastia – 1070-945 a.C. A original encontra-se no Museu Britânico – Londres – Grã-Bretanha. Embora repleta de símbolos hieroglíficos esta peça não traz o nome de sua proprietária, somente o título de “sacerdotisa”. A face, emoldurada por uma peruca enfeitada com faixas e pétalas de flor de lótus, certamente não condiz com a real aparência da mulher que adquiriu esta peça. Era comum no Egito a confecção de ataúdes por encomenda, ou a “compra” de um exemplar já pronto. Sabemos disto porque em alguns ataúdes o espaço onde estaria o nome do morto foi deixado em branco, ou em outros casos, o nome é muito grande ou pequeno para área onde deveria ser escrito.

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As abominações do país: o assassinato do faraó Ramsés III

Por Ewerson Dubiela – Historiador do Museu Egípcio Ramses Usermaatra Meryamon é conhecido por nós como Ramsés III. O faraó governou durante quase 32 anos, entre 1194 e 1163 a.C.[1] e foi o segundo rei da XX Dinastia (1196-1070 a.C.). Sua tumba original encontra-se na margem ocidental do Nilo, uma das dezenas escavadas na rocha, porém, o corpo acabou por ser removido pelos próprios egípcios antigos por conta dos roubos dos enxovais funerários, sendo encontrado no final do século XIX, em 1881, em um esconderijo real de Deir el-Bahari, denominado como DB320. A múmia de Ramsés III está em excelente estado de conservação, fato observável a partir dos primeiros exames que ocorreram no Museu Nacional Egípcio, no Cairo, também em fins do século retrasado. A autópsia não pode identificar feridas, evidencias de sufocamento, estrangulamento ou envenenamento e, por isso, houve a ideia de que o governante pudesse ter morrido de uma doença chamada arteriosclerose. A partir de 2012, um grupo de pesquisadores[2] realizou diversos exames antropológicos, forenses, radiológicos e genéticos em múmias do Museu Nacional Egípcio, dentre elas, a de Ramsés III. O corpo do faraó Ramsés III possui um tecido que envolve o pescoço. Conforme se aplicou o exame de Tomografia Axial Computadorizada, TAC, pôde-se observar um ferimento, produzido por uma lâmina afiada de quase 7 cm de comprimento. Tal ferimento se deu da 5ª até a 7ª vértebra, somando a destruição dos tecidos moles dessa área. O TAC identificou também que a cavidade do ferimento acabou por ser preenchida com materiais que os sacerdotes egípcios usavam na mumificação dos cadáveres. Entretanto, há um pequeno amuleto wdjat, olho de Hórus, de 15 mm colocado na abertura, a intenção poderia ser proporcionar integridade e saúde, além da reparação do dano através de magia. De maneira mais recente, outro estudo[3] sugere que o assassinato se deu após luta, já que um dos dedões do pé do faraó foi decepado e o ferimento não teve tempo de cicatrizar. Assim, a possibilidade é que o ataque pode ter sido realizado por duas pessoas, uma pela frente de Ramsés III com uma espada ou machado e outra por trás do rei, atingindo-o com uma faca ou adaga no pescoço. É possível que esse episódio tivesse como objetivo não apenas a morte do governante, mas também a remoção do príncipe herdeiro, Ramsés[4]. As informações sobre a tentativa de assassinato do rei estão contidas em quatro papiros: Judicial de Turin, Rollin, Lee e Rifaud, sendo o primeiro o mais importante. É no papiro judicial de Turin que o episódio é denominado como “As abominações do país”, também anuncia os membros do tribunal e os jurados, além de apresentar uma primeira lista de acusados qualificados, cada um, como “Grande inimigo” e detalhar o envolvimento destes. Sabe-se que o complô havia nascido no harém real, com a Grande Esposa, Tiye. Esta era mãe de um dos príncipes mais próximos à Ramsés III, Pentawera. Diversos funcionários reais e parentes destes estão relacionados com o regicídio, como Pabakkamen, que era chefe da câmara e dos lacaios do rei e Ashahebsed, seu assistente. No papiro se diz: O Grande Inimigo Pabakkamen, que havia sido chefe da câmara. Foi traído por sua cumplicidade com Tiye e as mulheres do harém e por fazer causa comum com elas. Ele começou a levar as mensagens para fora, para as mães e os irmãos daquelas que se encontravam aqui, dizendo: ‘Levanta as gentes e incita a inimizade para que se rebelem contra o seu Senhor’. O papiro judicial de Turin traz instruções prévias, audiências com veredictos, emissão de sentenças e execução dessas, também irregularidades como tentativas de suborno – general Payis a membros do tribunal. Aos condenados pelo assassinato do rei diversos tipos de punição foram aplicados: corporais, mágicas e morais.[5] Por fim, podemos nos perguntar quais foram as motivações para tal crime. Observando o governo de Ramsés III, percebe-se que o rei tinha preferência pelos membros da elite do Baixo Egito e, de certa forma, excluía os do Alto Egito, o que pode ter gerado um certo remorso e competitividade. O reinado também foi marcado por problemas de corrupção, incursões de povos vizinhos no Egito e complicações administrativas. As incursões e derrotas desses povos estão registradas no templo funerário de Ramsés III, Medinet Habu, um dos monumentos erigidos pelo rei por conta da situação de estabilidade em que o Egito se encontrava, apesar dos ataques exteriores. O templo em si, bem como o as representações do governante, foram baseadas no reinado de Ramsés II.[6] Quanto às complicações administrativas, podemos citar, no âmbito palaciano, o casamento do faraó com duas grandes esposas, ao invés de uma como era a prática. A primeira, que já mencionamos, era Tiye, mãe de Pentawera. Ela era filha de nobres do Alto Egito. A segunda era Isis, filha de um alto funcionário de origem estrangeira, estabelecida no Baixo Egito. Isis deu luz à Ramsés. Os dois príncipes eram muito próximos ao pai e bem relacionados quanto à sucessão do trono, entretanto, a partir do ano 22 de reinado, Ramsés III escolheu o filho de Isis, Ramsés, para ser seu herdeiro. Portanto, houve a condenação de um e a elevação de outro, apesar dos dois terem o mesmo direito à coroa. Além disso, a promoção de modificações dos títulos na área monumental e a construção diferenciada de tumbas aumentou a desigualdade, fomentando a rivalidade entre irmãos. O assassinato de Ramsés III foi levado a cabo, conforme mostrou as imagens do TAC, porém, a conspiração foi descoberta e, assim, Pentawera acabou por ser responsabilizado e Ramsés IV assumiu o trono por cerca de 7 anos. É possível que Pentawera seja a famosa “múmia que grita”. Um rapaz de 18 a 22 anos de idade quando morreu, identificado hoje como “Homem desconhecido E”. Foi descoberto na mesma época e na mesma tumba que Ramsés III. Diferente de outras múmias, esta foi preservada sem que houvesse a remoção dos órgãos internos e sem emprego de faixas de linho ou preservação do nome, tendo

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A nova face de Tothmea – a múmia do Museu Egípcio e Rosacruz

O tema Egito exerce fascínio em muitas pessoas. A terra dos faraós tem suas belezas e é envolta em muitos mistérios. Aqui no Brasil existe um complexo egípcio que tem um museu e nele encontra-se a única múmia egípcia original do país. Estamos falando do Museu Egípcio e Rosacruz, que fica na cidade de Curitiba, e conserva em seu acervo como peça principal Tothmea: a múmia de uma dama egípcia com aproximadamente 2.700 anos e que está no museu desde 1995. Em 2013 um trabalho de reconstrução facial da Tothmea foi realizado pelo Designer 3D Cicero André da Costa Moraes (mas conhecido como Cicero Moraes), em conjunto com o Museu Egípcio e Rosacruz, em um projeto que envolvia muitos estudos e que passa agora por uma atualização. “O projeto “Tothmea+6” nasce neste contexto de apresentar à sociedade paranaense os resultados de todos esses anos de pesquisa apresentando à população uma nova reconstrução facial da múmia Tothmea, utilizando técnicas atualizadas, mas não deixando de fora parte considerável dos estudos de revelação dos ossos e partes internas, iniciados ainda na década de 1990”, explica Cicero. A diferença principal entre o primeiro projeto e a atualização é a arte final, posto que a estrutura dos ossos (crânio) é a mesma utilizada na primeira reconstrução. “Basicamente estamos fazendo um upgrade na face com as tecnologias acumuladas nesses 6 anos”. Para o Arqueólogo Moacir Elias Santos, responsável pelo Projeto Tothmea, esse é um trabalho muito importante para a arqueologia e seus estudos, pois as reconstruções, na realidade aproximações faciais, são feitas a partir de técnicas que reúnem estudos de antropologia biológica, identificando inicialmente o sexo e a idade provável do indivíduo que é objeto de estudo, e medições de pontos craniométricos, que correspondem às espessuras das camadas de músculos, gordura e pele, obtidas de indivíduos vivos (ou mortos). “Com os pontos distribuídos em locais específicos do crânio, é possível recriar os músculos e a pele de forma que o modelo vai ganhando vida. Posteriormente o trabalho é finalizado com a indumentária e estilo do cabelo, feitos com base em pesquisas históricas e arqueológicas. É um trabalho muito específico e fundamental no campo de estudos da arqueologia, pois por meio desta técnica é possível visualizarmos como seria o indivíduo em questão. No caso de restos humanos percebe-se claramente que esta é uma forma de humanizá-lo, visto que muitos que têm acesso aos restos humanos em museus, tendem a observá-los como objetos, esquecendo que estes foram pessoas que viveram há muito tempo e, tal como nós, tinham seus afazeres, sua família, riram e choraram”, conta Moacir. Cicero Moraes ressalta essa importância esclarecendo que “a reconstrução facial na arqueologia geralmente tem o propósito de humanizar os achados e estudos. É a ponta do iceberg composto pelo trabalho minucioso de uma série de pesquisadores. É a coroação pública de tudo isso, pois permite que os visitantes do museu se identifiquem com a Tothmea ao passo que saibam um pouco mais sobre a história dela, do seu povo e do seu tempo”. Quando foi realizado o Projeto Tothmea foi possível coletar diversos dados sobre a múmia com a pesquisa podendo revelar a todos os detalhes de como ela foi mumificada, sua idade e sua história, desde que ela foi levada do Egito para os Estados Unidos até a sua chegada no Brasil. “Quando realizamos a reconstrução da face, que havia sido quebrada em algum momento entre a década de 1930 e 1972, a partir dos fragmentos dos ossos que permaneceram dentro do crânio tornou-se possível não apenas devolver a estrutura anatômica dos mesmos como possibilitou a realização da aproximação facial forense. Para tanto foram empregadas duas técnicas simultâneas, a tomografia feita em 1999 e a fotogrametria, para criar um modelo virtual do crânio. Desconhecemos o uso destas duas técnicas por outros pesquisadores na época, por isso o estudo foi pioneiro. Passados seis anos da realização deste trabalho, a técnica levada a cabo pelo Cícero Moraes passou por um bom aprimoramento o que justificava a construção deste novo modelo, muito mais real do que foi feito anteriormente. Isto é o avanço da ciência e faz parte do trabalho”, explica Moacir. De acordo com a Supervisora Cultural do Museu Egípcio e Rosacruz de Curitiba, Vivian Tedardi, o projeto Tothmea+6 visa reforçar a relação do desenvolvimento tecnológico com os acervos museológicos. “Mostra como os museus são espaços vivos e que estão sempre em transformação e que, embora seu acervo seja constituído de momentos do passado, é no presente que foca as suas ações, estando inserido nas mudanças que acontecem em nossa sociedade. Ter a oportunidade de ver a face de Tothmea, de uma maneira mais realística, nos aproxima desse passado e concede ao visitante uma oportunidade de ter uma experiência a mais ao visitar o Museu Egípcio e Rosacruz”, destaca Vivian. QUEM É “TOTHMEA”? “Tothmea” foi uma egípcia que viveu provavelmente no final do Terceiro Período Intermediário (1070 – 712 a. C.) ou no início do Período Tardio (c. 712 – 332 a. C.) – entre os séculos VI ou VII a. C.. Não sabemos muito sobre sua vida, até mesmo seu nome verdadeiro não é conhecido. Ela recebeu o apelido de “Tothmea” de um senhor chamado Farrar, em 1888, como homenagem aos faraós Tothmés, os quais governaram o Egito durante a 18ª dinastia (entre os anos de 1504 e 1425 a. C.). De acordo com uma das fontes escritas que consultarmos, datada de 1888, havia uma inscrição no ataúde de “Tothmea” a qual mencionava que ela teria se dedicado a serviço de Ísis. Sabemos que suas funções não eram propriamente sacerdotais, mas não podemos descartar a possibilidade de que ela tenha atuado como cantora ou até mesmo como musicista de um santuário da deusa.

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A Grande Esfinge de Gizé

            Por: Vinicius Dzala Lara Wassem – Monitor do Museu Egípcio e Rosacruz Quando se pensa sobre o Egito Antigo, uma imagem que geralmente vem à mente é a da grande Esfinge de Gizé, que dizem ser coberta de mistérios, charadas e maldições. Mas será que ela realmente representa isso tudo ou haviam outros significados sobre ela? O grego Heródoto foi um dos primeiros a escrever sobre os egípcios, porém ao chegar na terra das pirâmides, os sacerdotes se recusaram a compartilhar seus conhecimentos com ele, o que levou Heródoto a tomar as próprias conclusões sobre a cultura egípcia antiga. Uma das observações de Heródoto foi sobre a Esfinge de Gizé, localizada a leste da pirâmide do faraó Kafra (Quéfren) e ligada a ela pelo acesso da rampa entre o templo do vale e o templo da pirâmide. Heródoto acabou por chamar o monumento como “Esfinge” que na realidade é o nome dado a uma criatura da mitologia grega, caracterizada por ter o rosto humano, corpo de leão e asas em suas costas, se dizia que era comum que as esfinges fizessem charadas a humanos, que quando não sabiam responder, acabavam devorados. Assim, Heródoto associou as criaturas mitológicas às estatuas egípcias, criando-se a ideia de que o real significado das esfinges seria esse. Entretanto, as estatuas representavam o poder e a divindade do próprio faraó, dando a ideia de que o Rei era sagrado e poderoso, e possuía a força e vigor de um leão. A Esfinge de Gizé tem nela representada o rosto do faraó Quéfren, mostrando ser datada da IV Dinastia (2575-2465 a.C.). Um outro fato curioso sobre esta Esfinge, é a Estela dos Sonhos, uma placa de granito posta entre as patas dianteiras da estátua, que fala sobre a primeira tentativa de “desenterrá-la” da areia, já que teria sido soterrada até os ombros após o abandono da necrópole de Gizé. A Estela tem a seguinte inscrição: “… o filho real, Tothmés, chegou, enquanto caminhava ao meio-dia e sentando-se à sombra deste poderoso deus, foi superado pelo sono e dormiu no exato momento em que Rá estava na cúpula [do céu]. Ele descobriu que a majestade deste deus falou-lhe com sua própria boca, como um pai fala para o filho, dizendo: Olhe para mim, contemple-me, ó Tothmés meu filho, eu sou o teu pai, Harmakhis-Khepri – Ra – Atum, eu conceder-te-ei a soberania sobre o meu domínio, a supremacia sobre a vida… Eis a minha condição real para que tu proteja todos os meus membros perfeitos. A areia do deserto que estou colocado cobriu-me. Salve-me, fazendo com que tudo o que está no meu coração seja executado.” A Estela fala que o responsável pela primeira escavação, da qual se tem notícia, teria sido o faraó Tothtmés IV (1401-1391 a.C.), que recebeu a mensagem da própria Esfinge através de um sonho, enquanto tirava um cochilo próximo a escultura, no qual ela pedia que lhe fosse removida a areia, e em troca, o deus Sol faria dele rei. No decorrer do século XIX, em 1817, houve uma nova restauração supervisionada pelo italiano Giovanni Caviglia, descobrindo todo o peito da estátua, e apenas em 1925 foi completamente desenterrada. Em 1926 parte de seu turbante teria caído, por conta da erosão fazendo com que em 1931 engenheiros trabalhassem na região de sua cabeça para uma restauração total, mostrando a Esfinge como temos até os dias atuais. BAINES, John; MALIK, Jaromir. Cultural Atlas of Ancient Egypt. London: Andromeda Oxford Limited, 2008. HART, George. The British Museum Pocket Dictionary of Ancient Egyptian Gods and Goddesses. British Museum Press, 2001.

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O Mito Cosmogônico de Heliopólis

Por: Bruno Luiz Deniski – Estagiário no Museu Egípcio e Rosacruz. A religião egípcia é um assunto muito interessante e intrigante. No Egito Antigo a religião estava presente em tudo, desde a organização social até mesmo nas explicações das atividades naturais, como por exemplo o nascer e pôr do sol, que só ocorria porque o deus sol Ra assim queria; da mesma forma o rio Nilo que só fluía porque o deus Hapi assim desejava. Um dos mitos egípcios mais importantes que retratam a criação do mundo é o mito da cidade de Iwnw, conhecida posteriormente como Heliopólis, como foi batizada pelos gregos. Tal mito enfatiza o deus sol Ra como sendo o criador e pai de todos os deuses. E a fonte mais eminente que traz essa mitologia são os chamados Textos das Pirâmides (datado de 2550 a.C.), além de outra muito importante que é o capítulo 17 do livro dos mortos (livro datado de 1580 a.C.), denominado como “Capítulo para sair a luz do dia“, que demonstra a passagem do sol nascente ao poente, onde o sol em si solidificava o pensamento de renovação e o primeiro raio solar caracterizava-se como o ato final da criação divina. E mesmo em datas posteriores pode-se encontrar registros sobre o mito de Heliópolis que se espalharam por várias cidades no decorrer de vários anos. Segundo o mito exposto no Texto das Pirâmides, no início havia o oceano caótico, chamado Nun. Desse oceano, surgiu uma montanha, o primeiro pedaço de terra, chamado Ben Ben. Das sombras apareceu uma garça real, comparável a uma fênix, denominada Bennu. Essa ave pousou sob a montanha e emitiu um forte grito. O silêncio deu lugar ao som. Então, o pássaro voou. De dentro da montanha surgiu Atum, sua luz tomou o lugar da escuridão e da não existência. Ra tomou a forma de Atum, tornando-se “Ra-Atum”. Atum cuspiu seus filhos e vomitou suas filhas, dentre eles o deus Shu, relacionado com o ar atmosférico. Depois surgiu sua irmã Tefnut, associada ao orvalho e a umidade, ambos tiveram uma união estável que originou outras duas divindades, Geb e Nut. A primeira tornou-se a terra e a segunda o céu estrelado. Ra não queria que ocorresse a criação de novos deuses, então ordenou que seu filho separasse os dois netos para evitar que mantivessem qualquer tipo de relação. Shu, em obediência a seu pai, fez a separação de seus filhos, colocando-se entre o céu e a terra. O mito também faz referência ao deus Toth que tentou ajudar os dois irmãos. Para isso, ele jogou e venceu uma partida de Senet com o deus Khonsu (deus da lua), o que originou mais cinco dias no calendário egípcio, permitindo que os dois jovens deuses pudessem se relacionar. Com isso, Geb e Nut deram origem a seus filhos sendo eles Osíris, relacionado com a vegetação e rei dos mortos, Ísis – deusa da magia, Seth – deus do caos, e do deserto e, por último, Néftis – deusa protetora das tumbas. O mito de criação é muito importante para a compreensão da religião egípcia, pois esse mito demonstra as principais características religiosas da sociedade, e o quão devotos eles eram para com os seus deuses. Ele demonstra do mesmo modo as diferenças e as individualidades de cada deidade. O livro dos mortos, um dos principais registros da criação do mundo, demonstra-se mais evoluído do que o Texto das Pirâmides, por exemplo. Essa mudança demonstra a evolução não só do povo egípcio, mas também de suas crenças. Trecho do “Livro dos Mortos” que representa a separação do céu e da terra – deusa Nut (céu) que aparece com o corpo longo e arqueado, deus Shu que a sustenta e deus Geb demonstrado deitado. Imagem em auto relevo do deus sol Ra   Estatua do deus Hórus em sua forma zoomórfica.   Referência Bibliográficas: DESPLANCQUES, Sophie. Egito Antigo. TRAUNECKER, Claude. Os deuses do Egito. DAVID, Rosalie. Religião e Magia no Egito Antigo.

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