O Vale dos Reis

Por: Vivian Tedardi – Historiadora Ao longo da história egípcia antiga os faraós construíram suas tumbas para que fossem a morada eterna de seus corpos e garantissem a sua existência na companhia dos deuses. As pirâmides são, com certeza, o exemplo mais famoso, porém não as únicas estruturas erigidas para este fim. Os reis que governaram durante o período áureo da história egípcia, o Reino Novo (1550-1070 a.C.), construíram suas tumbas escavadas na rocha, no deserto Ocidental, próximo da capital Tebas, região conhecida como Vale dos Reis. Os egípcios referiam-se a região como “Grande e nobre necrópole de milhões de anos do faraó que é vivo, seja próspero e são, no oeste de Tebas” ou “O vale – o grande lugar em que descansa o faraó”. Até hoje foram descobertas sessenta e quatro tumbas reais das XVIII, XIX e XX dinastias e o local escolhido para abriga-las não foi aleatório, pois a montanha que acolhe esses sepulcros possui forma piramidal, e é conhecida como el-Qurna. Além deste significado simbólico há outro, visto que a forma de algumas cadeias montanhosas foi associada ao símbolo Akhet, que significa horizonte, local de passagem entre o mundo dos vivos e o mundo dos deuses. Embora grande parte das tumbas tenham ficado inacabadas, sabemos que o faraó no início de seu governo mandava iniciar os trabalhos para a construção de seu sepulcro. Geralmente o local era escolhido pelo vizir, pelo chefe dos trabalhadores e alguns outros funcionários reais, porém, a decisão final cabia ao rei. Com a escolha do local era realizada a cerimônia de fundação, na qual um ou mais poços eram escavados em alguma área próxima da entrada da tumba e vários objetos votivos eram ali depositados. Para abrigar os construtores das tumbas reais foi erigida a cidade de Deir el-Medina. Os trabalhadores eram divididos em dois grupos: lado esquerdo e lado direito, sendo que cada um dos lados tinha um capataz, com um ajudante. Havia apenas um escriba por vez, que atendia aos dois grupos. Além desses, viviam na cidade desenhistas, escultores, médicos, assistentes e guardas. Basicamente as atividades estavam relacionadas a construção das tumbas reais. As escavações arqueológicas realizadas na cidade e nas tumbas dos construtores revelaram o cotidiano das pessoas que atuaram na construção desta necrópole real. E como eram as tumbas do Vale dos Reis? Escavadas na rocha, são formadas por corredores e câmaras, porém não aleatórias, mas relacionadas a concepção post-mortem do período, principalmente associando o rei ao deus sol Rá. As tumbas seriam uma versão terrestre do mundo ultraterreno, um mundo que o monarca deveria cruzar todas as noites acompanhando o deus solar para que pudesse renascer no Leste no dia seguinte, ao amanhecer. A iconografia presente afirma isso, pois recriava esse mundo ultraterreno e todas as criaturas que o habitavam. Além das associações com Rá, o faraó também era assimilado com o governante do mundo dos mortos, o primeiro dos Ocidentais, o deus Osíris. Cada um dos corredores e salas foram nomeados de acordo com a passagem do deus sol pelo inframundo, sendo que a câmara funerária do rei era chamada de “sala onde o uno descansa” ou “a casa de ouro onde o uno descansa”. O ouro aqui representa divindade, por isso, geralmente, a cor amarela era predominante no espaço, que continha o sarcófago real, e a exemplo da tumba de Tutankhamon, possivelmente este era recoberto por quatro relicários feitos em madeira e folheados a ouro. Embora as tumbas construídas foram destinadas aos faraós do Reino Novo, os últimos enterramentos ocorreram durante a XXII dinastia, Terceiro Período Intermediário (1070-712 a.C.), quando tebanos reutilizaram algumas delas. Isso ocorreu porque desde a Antiguidade muitas tumbas foram saqueadas. Construídas para não serem encontradas, infelizmente há registros de saques ainda no final do Reino Novo. No período Greco-Romano (304 a.C. a 395 d.C) quinze tumbas eram conhecidas, o que é possível verificar por grafittis encontrados em sepulturas raméssidas e datados desse período. Embora a pesquisa sistematizada da região tenha iniciado no século XIX, há registros de impressões do local realizadas no século XVII e, em fins do XVIII, com a expedição de Napoleão Bonaparte. Esta, inclusive, foi responsável pela elaboração do primeiro mapa da região, contabilizando dezessete tumbas abertas. Na primeira metade do século XIX, com a exploração imperialista europeia no Egito e a busca por “antiguidades”, levou a descoberta de oito novas tumbas pelo italiano Giovanni Battista Belzoni. Em 1827, para identificação das tumbas, elas foram numeradas em vermelho, em ordem sequencial. Forma que continua sendo utilizada quando uma nova tumba é descoberta, com a sigla KV (Kings Valley) e o número sequencial. O Vale dos Reis continua sendo explorado arqueologicamente, embora a grande descoberta tenha ocorrido em novembro de 1922, quando o arqueólogo inglês Howard Carter descobriu a tumba de Tutankhamon. Esta estava praticamente intacta, revelando como deveria ser o tesouro dos outros reis enterrados na região, e que tiveram os seus sepulcros saqueados ao longo do tempo. Na verdade, apenas duas múmias de faraós foram encontradas em suas respectivas tumbas no Vale dos Reis: Amenhotep II e Tutankhamon. Quem visita a região encanta-se com a grandiosidade das tumbas que, mesmo inacabadas, revelam a concepção egípcia antiga na crença além-túmulo. Também o conhecimento construtivo e decorativo daqueles que atuaram na construção das moradas eternas dos reis que, ao terem sua vida eterna garantida, atuavam para a manutenção da Ordem criada pelas divindades egípcias.

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Hatshepsut – A Rainha-Faraó

Por: Camila Dayane Olexciw do Rosário – Estudante de história e monitora do Museu Egípcio e Rosacruz No Egito Antigo as funções desempenhadas socialmente eram estabelecidas de acordo com as construções sociais, existindo tarefas atribuídas para ambos os sexos. Essas funções poderiam ser alteradas, embora não fosse comum a posição de faraó a uma mulher. Em meados da XVIII Dinastia (1550-1307 a.C.), mediante um momento onde as rainhas haviam conquistado grande espaço dentro do cenário templário e governamental, surgiu Hatshepsut, uma personagem que, durante muito tempo, foi relegada a um posto de usurpadora dentro da Egiptologia. Filha do faraó Tothmés I e da Rainha Ahmés, Hatshepsut perdeu em sua juventude os dois irmãos e uma irmã, tornando-se herdeira legítima do rei. Embora a linhagem real se reservasse a princesa, o faraó possuía um filho com uma esposa secundária, e para que este pudesse ascender ao trono, Hatshepsut o desposou. Ele ficou conhecido como Tothmés II. Com essa união, Tothmés II consagrou-se rei e ambos receberam prerrogativas. Para Hatshepsut foram atribuídas titulações, como por exemplo o de Grande Esposa Real e as honras devidas à “Primeira Dama das Duas Terras”, reconhecido o estado de “Aquela que vê Hórus e Seth”. O casamento rendeu apenas uma filha, a princesa Neferura, também herdeira legítima do trono. Sem mais herdeiros e devido a morte precoce do rei, o trono do Egito ficou à cargo de um filho secundário concebido por uma concubina, a Esposa Real Aset, igualmente chamado Tothmés. Após o falecimento do faraó e pouca idade de Tothmés III, Hatshepsut tornou-se a regente do reino, a fim de administrá-lo até que seu enteado pudesse assumi-lo. O cargo de Regente não existia no Egito, por isso ela manteve-se no poder devido ao título de Grande Esposa Real. A presença da Rainha como regente do Egito é encontrada desde o ano 2 do reinado de Tothmés III e em grande parte das representações, possui ao seu lado a presença do enteado. A partir do quinto ano de Tothmés III as representações da rainha começaram a ser alteradas e no sétimo ano de administração, revelou-se como Rei do Alto e do Baixo Egito. Embora assumiu a representação de Faraó, Tothmés III não deixou de aparecer ao lado de Hatshepsut, eliminando as hipóteses levantadas a respeito da usurpação do trono ao longo dos anos por pesquisadores. As mudanças na maneira como a Rainha-Faraó passou a ser representada se alteraram com o tempo. Essa transformação está relacionada a uma masculinidade que passou a ser assumida por Hatshepsut, utilizada para legitimar seu poder como Faraó, considerando que a mesma possuía o espírito de Hórus, o Deus vivo, em seu corpo e assim poderia governar. Além da representação masculinizada assumida por Hatshepsut, a mesma também utilizou uma mitologia referente ao seu nascimento relacionada ao Deus Amon, a favor de sua aceitação como Faraó. A mitologia está representada no templo de Deir El-Bahari e consagrou Hatshepsut como a filha do Deus Amon, que disfarçado de Tothmés I, relacionou-se com a Rainha Ahmés, que engravidou de Hatshepsut. Como Faraó, manteve um governo próspero e realizou a construção de diversos monumentos. Os primeiros feitos de seu reinado foram os obeliscos no extremo leste do templo de Karnak, que trazem seus títulos como Rei. Apesar da multiplicidade de seus feitos, sua maior construção é o templo de Deir El-Bahari, dedicado a Rainha-Faraó e de beleza arquitetônica imensurável. Seu nome egípcio era Djeser Djeseru que quer dizer, Sublime dos sublimes. Quando suas construções foram descobertas por egiptólogos no século XIX, muitos não consideravam de que aqueles elementos diziam respeito a uma governante mulher, inclusive Champollion, que após a tradução dos hieróglifos visitou o Egito, negou a possibilidade do templo de Deir El-Bahari pertencer a uma Rainha-Faraó. A confirmação veio alguns anos mais tarde, devido a diversos fatores, como, por exemplo, o conhecimento da escrita hieroglífica, onde a letra “t” do nome da rainha é oriundo do símbolo de um pão egípcio, que pode ser interpretado como um determinativo feminino. Hatshepsut governou o Egito por cerca de 20 anos. Não há nenhum registro que indique um mal-estar entre a Rainha e o enteado, possibilidade considerada e já descartada pelos egiptólogos. Deixou inúmeros monumentos e foi muito importante para história egípcia antiga e para a história das mulheres.   Referências: NOBLECOURT, Christiane D. A mulher no tempo dos faraós. Paris: Éditions Stock,1986. SOUSA, Aline F. A mulher-faraó: representações da rainha Hatshepsut como instrumento de legitimação (Egito Antigo – Século XV A.C). Niterói, 2010 LAZZAROTTO, Gabriela – “Que ela possa reger as duas terras, que ela possa conduzir todo o vivente” – uma análise da teogamia de Hatshepsut como Filha de Amon. Porto Alegre, 2016 DELL, Pamela. Hatshepsut Egypt’s First Female Pharaoh. Londres: Penguin Books, 1998.

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Montuhotep II e a reunificação do Egito

Para que possamos falar sobre os faraós e, principalmente, sobre a reunificação do Egito, podemos destacar a unificação do território por volta do ano de 3100 a.C. O responsável por essa união e também o primeiro monarca que temos registros é Narmer (ou Menes para os gregos). Antes, a região egípcia era dividida em diferentes tribos, as quais cada uma tinha seus respectivos chefes denominados nomarcas, eram ao mesmo tempo chefes militares e políticos que lideravam unidades administrativas chamadas nomos. Um registro importantíssimo que retrata este acontecimento é a paleta de Narmer. Deve ser destacada a importância que o faraó tinha dentro do Egito: para eles, o soberano seria um deus vivo que teria a alma de Hórus, sendo assim a própria divindade na terra. O faraó era o intermédio entre o povo e os deuses, sendo também sumo sacerdote que realizava rituais sagrados nos templos. Os monarcas eram aqueles que governavam as Duas Terras – o Alto e Baixo Egito –  e através de guerras de conquista e expedições punitivas mantinham os inimigos sob seu controle ou os destruíam – o que complementa Maat (a ordem cósmica). O chamado Primeiro Período Intermediário, que teve o início por volta de 2.134 a.C. e seu termino em 2.040 a.C., leva esse nome por questões de guerras e conflitos internos entre diferentes soberanos, marca também a transição do Reino Antigo para o Reino Médio e inclui a VII até a XI Dinastias. Para classificar essa transição há diferentes estágios. Os monarcas egípcios do Primeiro Período Intermediário dividiam o poder entre duas cidades especificas sendo elas as cidades de Heracleópolis e Mênfis. A primeira perdeu seu território e seu poder para os governantes da XI Dinastia (2134 – 2040 a.C), chamada também de Dinastia tebana, que transformou Tebas na nova capital do Egito durante parte do Reino Médio (2040 – 1640 a.C.). O primeiro estágio foi representado pela desintegração do país na VI Dinastia que corresponde aos anos de 2.323 até 2.150 a.C., e o declínio do governo centralizador que corresponde à VII e VIII Dinastias, além de vários regentes que continuaram a deter o poder na cidade de Mênfis (primeira capital do Egito). Já o segundo ocorreu por um colapso na monarquia Menfita, que foi marcada por certas questões como, por exemplo: a anarquia e as guerras entre os governantes provinciais. A fome, a pobreza e a doença espalharam-se por todo o território egípcio. Há registros que falam sobre sepulturas e monumentos que foram saqueados e destruídos por ladrões, e tais problemas desencadearam conflitos bélicos e religiosos, esses eventos foram registrados nos chamados “Textos Literários Pessimistas”. Os conflitos internos eram também contínuos ataques surpresas realizados pelos beduínos que residiam na região fronteiriça que se localizava ao nordeste do Médio Egito. O terceiro estágio destaca-se por questões em que os governantes da cidade de Heracleópolis surgiram como novos regentes que dominaram o Médio Egito, entre as cidades de Tebas e Mênfis (IX e X Dinastias). O chamado Akhtoy (Kheti) foi o governante que conduziu seu povo a vitória e estabeleceu Heracleópolis como a nova capital do Egito durante o Primeiro Período Intermediário. A anarquia foi controlada temporariamente, houve um período de paz no qual realizaram construções de templos nas localidades de Beni Hassan, Akhemim e El – Bersh. Neste mesmo período se erguia a família dos Antef´s na cidade de Tebas. Logo, esta família teve disputas e conflitos com os soberanos da cidade de Heracleópolis. Tal fato foi gravado na tumba do governante Akhetoy em Assiut. Outros acontecidos foram registrados no texto “A Instrução Dirigida ao Rei Merikare” em que um regente já com uma certa idade dirigia a palavra para seu sucessor e filho, tal escritura tinha como finalidade estabelecer o poder politico do monarca. No último estágio, Montuhotep II, descendente dos Antef´s, conquistou o poder geral do país, restaurando então as questões políticas e sociais, acabando com a anarquia e a guerra civil. O monarca apaziguou todo o território egípcio e permitiu que os governantes provinciais mantivessem o seu poder. Consolidou a cidade de Tebas como nova capital do Egito e estimulou o crescimento da arte e arquitetura. Montuhotep II foi responsável por reunificar o Egito depois do Primeiro Período Intermediário e também responsável por fundar o Reino Médio, por volta do ano de 2040 a.C. Talvez Montuhotep II não tenha governado todo o território egípcio, mas com certeza foi o reunificador do país. A construção mais famosa da XI Dinastia é o monumento funerário único que Montuhotep II Nebhepetre mandou construir para si em Deir el-Bahari, em Tebas.   Por: Bruno Luiz Deniski – Referências: DESPLANCQUES, Sophie. Egito Antigo. São Paulo 2009. CARDOSO, Ciro Flamarion. O Egito Antigo. 1982. DAVID, Rosalie. Religião e Magia no Antigo Egito. Ed. Difiel. BRANGAGLION, Antônio. Quadro Cronológico – Seshet. Museu Nacional.

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Nefertiti – A Bela Chegou

Nefertiti, que significa “a bela chegou”, foi o nome de uma famosa rainha que viveu no Antigo Egito no período designado Amarniano, na XVIII Dinastia (1550-1307 a.C) Ela foi a Grande Esposa Real do faraó Amenhotep IV (1353-1335 a.C), que ficou mais conhecido na história pelo nome de Akhenaton. O retrato mais célebre de Nefertiti é seu busto que atualmente encontra-se exposto em Berlim, na Alemanha. O artefato foi descoberto em 1912 por uma expedição alemã no ateliê do escultor egípcio Tutmés, em Tell-el-Amarna, junto com outras peças do período Amarniano. A escavação arqueológica que encontrou o mais famoso retrato da rainha foi empreendida pela Equipe Arqueológica da Sociedade Oriental Alemã, sob a liderança do pesquisador Ludwig Borchardt. Acredita-se que o busto servia de modelo para outras esculturas de Nefertiti. As origens familiares da rainha ainda geram controvérsias, alguns pesquisadores creem que ela talvez pudesse ser uma princesa mitanni, que chegou ao Egito e foi nomeada Nefertiti, o que é bem sugestivo, diante do significado de seu próprio nome. Contudo, pesquisas mais recentes indicam que ela era filha de Ay, irmão da rainha Tiye, a Grande Esposa Real do pai de Akhenaton, o faraó Amenhotep III (1391-1353 a.C). Portanto, Nefertiti e Akhenaton eram primos, e provavelmente estavam destinados a se casar desde crianças. Sobre sua mãe há embates, pois Nefertiti possuía uma ama-de-leite chamada Ty, porém, alguns acadêmicos acreditam que Ty não era apenas sua ama-de-leite e sim, sua mãe. Nefertiti desempenhou um papel significante no governo de seu marido, que empreendeu uma reforma religiosa, cultural e, por conseguinte, política no período em que viveu. Akhenaton, descontente com a grande influência que exerciam os sacerdotes de Amon em seu governo, resolve transformar a religião egípcia em uma monolatria, ou seja, a partir disso o deus Aton seria o único deus egípcio a ser cultuado, junto à imagem do faraó e de sua esposa. Dessa forma, Akhenaton também mudou a capital egípcia para uma cidade construída por ele e por Nefertiti, a cidade de Akhetaton. O faraó Akhenaton que até então se chamava Amenhotep IV, adota seu novo nome e Nefertiti adiciona o epíteto Neferneferuaton que significa “bela é a beleza de Aton”. Passando a se chamar então, Nefertiti-Neferneferuaton. A partir desse momento, a iconografia egípcia também sofre modificações, na estética e na forma de representar seus governantes. Não era protocolo no Egito Antigo representar cenas do faraó com sua família em sua vida privada. Contudo, no período Amarniano, começam a ser produzidas cenas do casal com suas filhas, de forma a representar a cumplicidade e a intimidade da família. Entre estas representações, uma das mais famosas também está exposta em Berlim. Nela, encontra-se representada Nefertiti e Akhenaton, o casal solar, com suas filhas sob os raios do deus Aton. Nesse sentido, a rainha desempenhou papel importante nos cerimoniais ritualísticos do novo culto criado por seu marido. Tal fenômeno é constatado por exemplo, nas imagens em que Nefertiti aparece adorando o deus Aton junto a seu marido Akhenaton, e também nos relevos em Karnak, nos quais a rainha aparece fazendo oferendas ao deus, mesmo sem a presença do faraó. Demonstrando assim, a postura ativa de Nefertiti no culto a Aton. Por volta do 14º ano do reinado do faraó Akhenaton, a figura de Nefertiti desaparece dos registros e as pistas acerca desse desaparecimento dão origem a várias hipóteses. Permeiam teorias de que ela teria morrido, ou então se tornado faraó depois que seu marido morreu. Segundo esta hipótese, nos últimos dois anos do reinado de Akhenaton, um faraó chamado Neferneferuaton-Smenkhkara assumiu o trono, contudo, não há comprovações suficientes para validar essa teoria. Em 2003 um documentário produzido pela Discovery Channel intitulado “Nefertiti Revelada” sobre as pesquisas da egiptóloga Joanne Fletcher sugeriam que uma múmia encontrada na tumba KV35 no Vale dos Reis seria da própria rainha. Porém, a arcada dentária da múmia foi identificada como sendo de uma mulher com aproximadamente vinte e cinco anos quando morreu. Portanto, seria muito pouco provável que ela fosse Nefertiti. Sendo assim, o paradeiro da múmia da rainha ainda é desconhecido. Contudo, a figura de Nefertiti ficou muito conhecida na história, como a de uma rainha bela e devotada ao seu marido e a sua religião. Jéssica Franco –  Monitora do Museu Egípcio e Rosacruz   Referências: Costa, Márcia Jamille. Nefertiti e Akhenaton: o casal egípcio impossível de ser ignorado. Disponível em: www.arqueologiaegípcia.com.br. Noblecourt, Christiane Desroches. A mulher no tempo dos faraós. Tradução: Tânia Pellegrini. Editora Papirus, São Paulo, 1994. Scoville, Priscila. Rainhas de Amarna: a influência de Tiye e Nefertiti no governo de Amenhotep IV/ Akhenaton. NEARCO- Revista de Antiguidade, 2015, Ano VIII, Número II. Núcleo de Estudos da Antiguidade, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 2015. www.amarnaproject.com www.seshat.com.br        

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TUTMÉS III: “O Napoleão do Egito Antigo”

Por Jessica Cabral – Estagiária do Museu Egípcio e Rosacruz O faraó era o símbolo máximo de poder na sociedade egípcia. Era revestido com suas insígnias de poder, como as coroas e os cetros. Além disso, o faraó era encarregado de fazer reinar Maat na terra. Mas, o que isso significa? Filha do deus Ra, Maat era a deusa que representava um conceito divinizado na sua figura, a Ordem, que devia ser garantida pelo faraó, para que o mundo funcionasse de maneira harmoniosa. Portanto, o dever principal do faraó enquanto governante era manter Maat. Sendo esse o papel fundamental dos faraós, Tutmés III, assim como seus antecessores, também tinha seu poder legitimado pela mitologia egípcia. Tutmés III “Menkheperre”[1] foi o quinto faraó da XVIII Dinastia, durante o período chamado Reino Novo, governando de 1479 até a sua morte, aproximadamente em 1425 a. C.. Esse faraó em questão é relativamente conhecido por dois fatores que marcaram sua trajetória. O primeiro fator é a chamada corregência, que acabou acontecendo por conta da ascensão muito prematura de Tutmés III ao trono, seguida de uma mudança política gradual promovida por sua tia, a rainha Hatshepsut. E, o segundo fator é o que lhe concede o título de “Napoleão do Egito Antigo”, título a ele conferido na contemporaneidade graças às numerosas campanhas militares e conquistas territoriais que fez durante seu reinado, sendo, portanto, uma associação direta ao conquistador francês do início do séc. XIX, Napoleão Bonaparte. Sabendo dessas primeiras informações, podemos concordar que Tutmés III e seu período de reinado se torna, no mínimo, curioso, não é mesmo? Tutmés III reinou por mais de 50 anos, era filho de Tutmés II e foi nomeado faraó pelo oráculo na regência de sua tia. Conta-se que em uma certa ocasião, “o deus Amon havia forçado os portadores da arca sagrada a ajoelhar-se durante o festival de celebração. A arca então saudou dentro do templo, o infante príncipe Tutmés, que servia a um tipo de culto separado e reservado aos príncipes do Egito. Amon e os portadores da arca sagrada se prostraram em frente ao príncipe e então, Tutmés III levantou-se para tomar seu trono”. Sendo ainda criança, Tutmés III, apesar de ser o escolhido, não era capaz de dar conta às tarefas de um faraó, de maneira que a rainha Hatshepsut, assumiu o poder em uma regência institucionalizada a partir da coroação do jovem rei. Além disso, Tutmés III casou-se com Neferura, filha da rainha Hatshepsut, porém, a princesa morreu prematuramente. Apesar da pouca idade, Tutmés III é representado utilizando as roupas e coroas de um rei e continuou contando seus anos de reinado sem exercer o poder efetivamente. Essa situação perdurou do sétimo ao vigésimo-segundo ano de reinado de Tutmés III, quando Hatshepsut desaparece dos registros. Em seu governo, Tutmés III regulou as relações internas no Egito, configurou os padrões para os vizirs, que eram governantes locais, e para as cortes oficiais, reforçando sua imagem enquanto soberano legítimo, acabou decidindo pela destruição dos monumentos à Hatshepsut após 15 anos do desaparecimento da rainha. Talvez essa ação de Tutmés III tenha sido uma tentativa de legitimar o futuro governo de seu filho Amenhotep II, e não permitir que outros descendentes reclamassem o trono. Já nas relações externas, a mudança foi ainda mais expressiva. Pesquisadores alegam que o faraó Tutmés III conduziu algumas campanhas militares ainda durante o reinado de Hatshepsut, e gastou um bom tempo no preparo das forças terrestres e navais do Egito para suas próprias expedições. Ele iniciou de fato o seu reinado atacando o rei de Kadesh e seus aliados numa região do norte mediterrânico. Conquistou e batalhou em territórios estrangeiros com o objetivo de reestabelecer o domínio egípcio. Ele conduzia seus próprios regimentos, enviando barcos para a costa palestina para explorá-la e encarando exércitos como na batalha de Megido, na Ásia Menor. Tutmés III foi um dos maiores generais egípcios da história, o que leva algumas pessoas a compararem-no com Napoleão Bonaparte, que conduziu exércitos e levou a França a conquistar outros territórios, consolidando um Império na primeira metade do século XIX. Tutmés III conquistou terras do rio Nilo ao rio Eufrates e carregava em sua sombra o imperialismo egípcio. A hegemonia egípcia que tinha se consolidado com suas bem-sucedidas campanhas militares, foi concretizada em outros territórios pelo estabelecimento de um sistema de controle: as cidades da Sírio-Palestina, embora preservando certa autonomia, foram sujeitadas a pagar impostos às tropas egípcias colocadas em locais estratégicos. Além do pagamento de impostos, alguns príncipes estrangeiros eram levados ao palácio para serem educados à maneira egípcia e algumas princesas se casavam com o faraó para reforçar essas relações com os povos conquistados. Ele morreu ao 55º ano de reinado e foi enterrado em sua tumba no Vale dos Reis, descoberta em 1898, pelo egiptólogo francês Victor Loret. A tumba do faraó foi decorada com registros do Amduat que são uma versão do Livro dos Mortos utilizada principalmente em tumbas de faraós durante o Reino Novo. No entanto, apesar da tumba pertencer a Tutmés III, sua múmia foi encontrada entre outras múmias de faraós num esconderijo em Deir el-Bahari, em 1881. Atualmente, a múmia de Tutmés III encontra-se exposta no Museu do Cairo, no Egito. [1] Também chamado como Tuthmés ou Thoutmosis: formas gregas do nome egípcio [Djehoutymosé], que significa algo como “o deus Toth fez nascer o mundo”.   Acesso à tumba de Tutmes III no Vale dos Reis TUTMÉS III “O Napoleão do Egito Antigo”   Faraó Tutmes III – Museu de Luxor, Egito.   Acesso à tumba de Tutmes III no Vale dos Reis   REFERÊNCIAS: BUNSON, Margaret R. Encyclopedia of Ancient Egypt. FactsOnFile. New York. 2002. BAINES, J.; MALEK, J. Atlas of Ancient Egypt. AUC Press: Cairo. 2002. CERNIVAL, Jean-Louis de. Les Annales de Thoutmosis III. Département des Antiquités égyptiennes – Museé du Louvre: Croyances religieuses et funéraires. Disponível em: <http://www.louvre.fr/oeuvre-notices/les-annales-de-thoutmosis-iii>. DESPLANCQUES, Sophie. Egito Antigo. Porto Alegre: L&PM, 2009. DUBIELA, Ewerson Thiago silva. A análise do “homem de Estado” na Figura de Hatshepsut, rainha

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CLEÓPATRA VII- “rainha dos reis”

Por: Jéssica Franco – monitora do Museu Egípcio e Rosacruz Cleópatra VII théa philopator, que em grego significa “deusa que ama seu pai” foi a última rainha do Egito antes da conquista e anexação do território egípcio por Roma. Cleópatra pertencia a dinastia Ptolomaica, ela nasceu em Alexandria em 69 a.C, seus pais eram Ptolomeu XII Aulete (80 – 51 a.C.), sua mãe não se sabe ao certo. Era a segunda filha de cinco irmãos. Com a morte de seu pai em 51 a.C., Cleópatra então com dezoito anos, subiu ao trono como rainha regente com seu irmão Ptolomeu XIII (51- 47 a.C.). Apesar dos alexandrinos não estimarem muito os romanos, foi a dois deles que a vida de Cleópatra ficou intimamente ligada. Júlio César (100- 44 a.C.) conheceu a jovem quando ela foi exilada de Alexandria acusada pelo séquito de seu irmão de conspirar para governar sozinha. O romano chegou à cidade alexandrina em 48 a.C. e foi surpreendido com a ousadia da jovem, quando ela pediu a seu servo fiel, Apolodoro, entregar um saco de estopa ao general como um presente, e dentro dele, Cleópatra se encontrava escondida. Cleópatra se tornou aliada política de Júlio César, e mais do que isso, os dois se tornaram amantes. O fruto desta relação se chamaria Cesário, ou pequeno César, como os egípcios chamavam o filho do casal. Depois do assassinato de Júlio César em 44 a.C. pelos conspiradores do Senado romano, houve a aproximação entre ela e Marco Antônio, cônsul romano que lutou ao lado de Júlio César na guerra civil romana. Os dois também se tornariam amantes e teriam três filhos. Foi junto a Marco Antônio que Cleópatra empreendeu uma guerra contra Otávio, sobrinho de Júlio César e rival dos amantes. Derrotados, ambos se suicidaram. O suicídio da rainha se tornaria lenda, segundo a hipótese mais aceita, ela teria se suicidado pela picada de uma serpente, assim, foi vítima de uma morte rápida e digna, pois não sofreria a humilhação de ser prisioneira de seu inimigo. Depois de dois mil anos a figura de Cleópatra ainda desperta o interesse e a imaginação do mundo. A repercussão que essa personagem histórica teve nas artes, na literatura, no cinema e no teatro foi imensa. Contudo, as fontes sobre a verdadeira Cleópatra são escassas, além da propaganda negativa sobre ela empreendida por Otávio, inimigo político de Cleópatra. Por isso, grande parte das fontes utilizadas para formatar a imagem dela tratam-se de documentos romanos posteriores a sua morte. Portanto, apesar de toda a sua fama, a rainha ainda continua sendo um enigma na história. As únicas fontes mais precisas sobre sua aparência são moedas cunhadas a mando da própria rainha que contém seu busto. Através das poucas fontes egípcias que resistiram ao tempo e a destruição por seus inimigos, é que Cleópatra legitimava-se perante o seu povo através de uma estreita ligação com as deusas Ísis e Háthor. Em seu governo ela também enfrentou crises econômicas, mas estabilizou a economia, aumentou significativamente o acervo da biblioteca de Alexandria, estimulou as artes, a filosofia e o conhecimento. Realizando uma política externa eficiente, manteve o Egito independente por mais de vinte anos até que ele se tornasse uma província romana em 30 a.C.         Morte de Cleópatra-1874 por Jean-Andre CLEÓPATRA VII- “rainha dos reis”[1] [1]  Título dado a ela por Marco Antônio na cerimônia do Ginásio (34 a.C, Alexandria). Referências: HUGHES-HALLETT, Lucy. Cleópatra: histórias, sonhos e distorções. Tradução: Luiz Antonio Aguiar. Editora Record, São Paulo, 2005. SCHWENTZEL, Christian-Georges. Cleópatra. Tradução: Paulo Neves. Editora L&PM Pocket, Porto Alegre, 2009. SCHIFF, Stacy. Cleópatra: uma biografia. Tradução: José Rubens Siqueira. Editora Zahar, Rio de Janeiro, 2011. www.seshat.com.br

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Anúbis – O Senhor do Embalsamamento

  Por: Arthur Fanini Carneiro –  Monitor do Museu Egípcio e Rosacruz A divindade representativa da mumificação, Anúbis, é o senhor do embalsamamento, seu nome vem do grego Ἄνουβις (Anupu), mas o povo egípcio o chamava de Inpw que significa abridor dos caminhos, era representado na sua forma antropozoomórfica com cabeça de chacal e corpo de homem ou um chacal deitado. De acordo com a crença egípcia, o falecido depois de mumificado, renasceria no mundo dos mortos e passaria a eternidade com os deuses. Os mitos e lendas do Egito Antigo se referem a Anúbis com a forma de canídeo, uma espécie de “cão”, pois observavam que essa espécie de cachorro, o chamado “chacal”, habitava a região desértica ocidental do vale do Nilo, próxima as necrópoles, locais destinados as tumbas e sepultamentos. O deus Anúbis poderia ser representado inclinado sobre pavilhões, atuando como protetor das múmias dentro das tumbas, guardando-as contra as forças que tentassem prejudicar a pessoa morta. O deus da mumificação está presente em objetos, amuletos, entalhes ou pinturas nas paredes de tumbas e sarcófagos. A origem de Anúbis está narrada nos textos das Pirâmides. De acordo com estes textos, Nut e Geb, deuses do céu e da terra respectivamente, tiveram quatro filhos, Osíris, deus da fertilidade e responsável por tudo que cresce no Egito, Isis e Néftis, deusas da magia e Seth, deus do caos.  O principal deus do panteão egípcio era Ra, divindade relacionada ao sol, o mesmo governava todo aquele mundo. Quando estava ficando cansado e velho, Ra passou as coroas do Alto e Baixo Egito para seu bisneto Osíris, mas com essa tarefa, houve o despertar da inveja do seu irmão mais novo, Seth. Como deus da fertilidade, Osíris poderia ter filhos, diferente de seu irmão, que era casado com Néftis. Após uma briga, a deusa teve uma ideia, se disfarçou de Isis, sua irmã gêmea e esposa de Osíris, e foi aos aposentos desse deus. Néftis acabou engravidando, dando à luz a Anúbis, o que aumentou o ódio de Seth pelo seu irmão mais velho. Seth tomado pelo ódio fez com que seu irmão caísse em uma armadinha, trancou-o em uma caixa e o jogou no Nilo. Após o assassinato, Isis sabendo do ocorrido, partiu em busca do corpo de Osíris, encontrando-o no palácio do rei da cidade de Biblos, na Fenícia. Conseguindo recuperar o corpo, voltou ao Egito, aonde tentou através de magia, ressuscitar o deus. Ao falhar, a deusa escondeu Osíris em um pântano de papiro, e viajou a fim de aprender a magia necessária. Entretanto, Seth encontrou o cadáver do irmão durante uma caça. Resolveu esquarteja-lo em quatorze partes que foram espalhadas por todo o Egito. Na companhia de alguns deuses, Isis foi em busca das partes de Osíris. Ao reuni-las, Isis tentou novamente devolver-lhe a vida, mas sem êxito. Então, Anúbis ficou responsável pela guarda do corpo do pai, o embalsamou, transformando Osíris na primeira múmia. Por conta dessa história, o povo egípcio aderiu a ideia de que era necessária a conservação do corpo para garantir a vida além-túmulo. Osíris embalsamado, portanto, tornou-se o soberano do outro mundo. Segundo o Livro dos Mortos, no tribunal de Osíris, Anúbis auxiliava na pesagem do coração da pessoa morta. O coração simbolizava o que a pessoa fez de bom e de ruim durante sua vida terrena. É difícil atribuir o início do culto ao deus Anúbis, mas sabe-se que havia uma divindade chamada Kbentiamentiu cuja fisionomia era muito semelhante à de Anúbis. Ao mesmo tempo, Kbentiamentiu também possuía semelhanças com o deus Osíris, por ser também representado como uma múmia. Era comum no Egito a mumificação de animais ligados as divindades, como cães e chacais em honra ao deus Anúbis, algumas foram encontradas na necrópole de Saqqara, em Mênfis. Com a presença greco-macedônica e romana no Egito, verifica-se que Anúbis foi helenizado, sendo associado à Hermes, transformando-se em Hermanubis. Seu culto era bastante forte no período romano, mas ao longo do tempo, com a cristianização dos povos habitantes do Império, o culto foi abandonado. Suas representações eram com corpo humano, cabeça de chacal e portando o caduceu, um bastão em torno do qual se entrelaçam duas serpentes e cuja parte superior é adornada com asas e com a cabeça do deus egípcio na sua forma canídea.   REFERÊNCIAS SHAFER, Byron E. As Religiões no Egito Antigo – Deuses, mitos e rituais domésticos. São Paulo: Editora Nova Alexandria, 2002. ARAÚJO, Emanuel. Escritos para a eternidade: a literatura no Egito faraônico. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2000. WILKINSON, R. H. Reading Egyptian art. A hieroglyphic guide to ancient Egyptian painting and scupture. Londres: Editora Thames and Hudson, 1994. TRAUNECKER, C. Os deuses do Egito. Trad. Emanuel Araújo. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1995. RICE, Michael. Who’s Who in Ancient Egypt. 1ª Edição. Londres: Editora Routledg. 1999.  

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Seshat

Seu nome, Seshat, quer dizer ““*a escriba” , pois sesh significa escriba e o sufixo et (ou at) indica o gênero feminino. Outro nome atribuído à deusa é Sefkhet-Abwy, referente aos emblemas característicos colocados sobre a cabeça da deusa. Ela também pode ser chamada de a primeira de per-medjat “a casa dos livros”, a primeira de per-ankh “casa da vida”, biblioteca do templo, senhora da escrita, dos anos, dos construtores ou weret-hekau, que significa “a grande da magia” – título dado também a outras deusas. Seshat geralmente é representada vestida com pele de leopardo, uma veste que simboliza o ofício sacerdotal. O adorno sobre sua cabeça consiste em uma flor de sete pétalas ou estrela de sete pontas – a interpretação desses aspectos é variada -, contornada por um objeto que pode ser um par de chifres invertido ou duas serpentes. O símbolo que há sobre sua cabeça se pronuncia [ s’sh’t ] e é o hieróglifo da deusa. Normalmente, ela aparece segurando um instrumento para marcar a passagem do tempo e seus eventos, além do tempo previsto para o Faraó na sua jornada terrena, bem como instrumentos específicos da atividade de escriba – como o filete de junco utilizado para escrever e a paleta. Em dados momentos, a deusa Seshat é identificada com aspectos semelhantes aos da deusa Néftis e ocasionalmente também pode ser associada à deusa Háthor. As primeiras aparições da deusa na mitologia egípcia datam ainda do Reino Antigo (a partir de 2920 a.C.), pois há indícios do culto à Seshat na Segunda Dinastia (2770 a.C. – 2649 a.C.). Não se tem conhecimento de nenhum templo dedicado exclusivamente à deusa, mas ela é sempre referenciada como a patrona da construção dos edifícios sagrados e é representada no interior de diversos templos, como os de Abydos, Edfu, Dendera, Karnak e Luxor. Também é possível encontrar representações suas nas paredes do templo de Abu Simbel, assim como no templo do deus Toth, em Hermópolis ou Khemenu. O culto à deusa prolongou-se até as épocas tardias na cidade de Alexandria, onde foi construída a famosa biblioteca de mesmo nome, visto que Seshat é a deusa da sabedoria e protetora das bibliotecas. Na mitologia egípcia, Seshat ocupa um papel que a coloca como a deusa das escrituras e dos projetos arquitetônicos, padroeira também da astronomia e matemática pois era a deusa que media e registrava o mundo. Seshat é a páredra do deus Toth, ou seja, uma contraparte feminina do deus da sabedoria e do conhecimento. Ela e Toth fixavam a duração do reinado de um rei gravando seu nome sobre as folhas da árvore ished em Heliópolis. Como deusa da escrita, Seshat era a guardiã dos registros reais e das genealogias. Ela também é mostrada fazendo a gravação do espólio adquirido pelos reis nas batalhas, talvez como um lembrete de que uma parte é devida aos deuses. Logo a partir da Segunda Dinastia, ela foi mostrada ajudando os reis a colocar as bases para construção dos templos e a alinhá-los com as estrelas e planetas. Em alguns textos dos sarcófagos, Toth e Seshat “trazem escritos para um homem no reino dos mortos”. Estes escritos eram os feitiços que poderiam ajudar a pessoa morta a vencer os terrores do submundo e tornar-se um espírito poderoso. Infelizmente, pela escassez de registros sobre essa deusa, Seshat não é tão conhecida atualmente como as deusas Ísis, Bastet ou Maat. Contudo, pelos vários significados atribuídos à deusa, percebemos que Seshat tinha valor e notoriedade para os egípcios antigos, visto que foi reverenciada até os períodos mais tardios da civilização faraônica. *Por mais que Seshat seja a senhora da escrita e carregue os instrumentos de um escriba, a deusa não é representada escrevendo e não é recorrente nas fontes que mulheres exercessem o papel de escribas na sociedade egípcia. Por: Jéssica Cabral Referências: Seshat. Dieux et Déesses de l’Ancienne Égypte. Disponível em: . L. C. F. (org.). A comprehensive list of Gods and Goddessesof Ancient Egypt. p. 276. Disponível em: PINCH, Geraldine. Handbook of Egyptian Mythology. ABC-CLIO, 2002. p. 190-192. WAINWRIGHT, G. A. Seshat and the Pharaoh. Journal of Egyptian Archaeology. n.26. 1940. p.30–40.

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Deusa Ísis, a Grande Senhora da Magia

Thays da Silva – Monitora do Museu Egípcio Conhecida como deusa da magia, exemplo de mãe e esposa ideal, protetora do lar e das crianças, a deusa Ísis foi adorada em diversos períodos da história egípcia antiga. Com templos em locais como Quft, Behbeitel-Hagar e Ilha de Philae, sendo o último o mais conhecido, Ísis é uma das deusas mais populares da cultura egípcia. Referências a ela podem ser encontradas em diversos mitos, sendo os mais conhecidos o mito da “Criação do Mundo”, da cidade de Heliópolis, e o mito de “Isis e Rá”. Ísis seria parte do panteão principal do mito da cidade de Heliópolis, formado por nove deuses. Segundo esse mito, essa divindade teria se casado com seu irmão, o deus Osíris, deus relacionado ao mundo dos mortos e à ideia de vida após a morte. Os dois formaram, segundo a crença egípcia, o primeiro casal real. Ísis também foi a mãe do deus Hórus, divindade relacionada ao poder dos faraós. No mito de Ísis e Rá, essa deusa teve o intuito de descobrir o nome verdadeiro do deus, e assim desejava obter domínio sobre seu poder. Para isso, teria feito com que uma serpente envenenasse esse deus e, em troca de sua cura, Rá teria que lhe dizer seu verdadeiro nome. Depois, com o poder adquirido por Ísis a partir desse conhecimento, essa divindade restabeleceu as forças do deus. Esse mito é muitas vezes associado a um importante aspecto da figura de Ísis, que consiste em sua relação com a magia. Ísis é representada como uma mulher com um trono sobre sua cabeça e, como personificação desse objeto, a deusa foi uma representação importante do poder faraônico, da mesma forma que a própria figura do faraó foi associada a seu filho, o deus Hórus. Um amuleto egípcio chamado “Tyet”, comumente conhecido como “Nó de Ísis” também é relacionado a essa divindade. Esse item teria formato similar ao “Ankh”, amuleto que, para os antigos egípcios, representava a vida. No entanto, o “Tyet” teria as extremidades laterais curvadas para baixo. Segundo a crença dos antigos egípcios, esse amuleto garantiria a proteção daqueles que o utilizassem. Ísis teve inúmeros títulos ao longo de toda a história da civilização egípcia antiga, como “Rainha do Céu”, “Mãe dos Deuses”, “A mais brilhante no firmamento”, “Grande Senhora da Magia”, “Senhora das Palavras de Poder”, entre outros. Após a conquista do Egito por Alexandre, O Grande, o culto a essa divindade estendeu-se à civilização greco-romana. Templo dedicado à deusa Ísis – Ilha de Philae Ísis protegendo Osíris – XXVI Dinastia – Museu Britânico Amuleto Tyet (Nó de Ísis) – 1250-1100 a.C. – Museu Britânico Ísis e Hórus – Período Ptolomaico – Museu Metropolitano de Arte de Nova York

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Estelas funerárias da cidade de Abydos

  A antiga cidade-necrópole de Abdju, mais conhecida pelo nome grego de Abydos, esta localizada no Alto Egito Setentrional a aproximadamente 150 quilômetros da atual cidade de Luxor. Abydos era a capital da oitava província administrativa chamada Ta-ur, ou “terra mais antiga”, e foi um importante centro religioso relacionado ao culto aos mortos no Egito faraônico. As descobertas arqueológicas na região nos mostram que esta cidade esteve em constante atividade, desde o período Proto-dinástico (anterior a 3.000 a.C.). O culto a Osíris tornou-se tão popular no final do Reino Antigo, que esta divindade acabou absorvendo e incorporando atributos de dois deuses relacionados ao poder e a morte. É o caso da divindade real de Busíris, Anedjit, e da divindade da própria necrópole de Abydos, Kenthiamentiu, cujo nome significa “o que esta a frente dos ocidentais”, ou seja, o soberano do mundo dos mortos. Nesta cidade foram enterrados todos os faraós da I dinastia e dois da II dinastia. A tumba do faraó Djer era considerada pelos egípcios a própria tumba do deus Osíris, devido o faraó Khendjer, do Reino Médio, ter erigido uma estátua deste deus sobre o leito funerário de uma câmara na tumba de Djer. Consequentemente, milhares de pessoas todos os anos se reuniam na região com a finalidade de realizar oferendas ao “Senhor de Abydos”. A localização estratégica de Abydos permitia que as peregrinações viessem tanto do norte quanto do sul do Egito. O caráter popular dos festejos fazia com que muitas pessoas participassem com freqüência e durante a permanência na cidade muitos mandavam erigir Estelas Funerárias, na grande maioria, confeccionadas em materiais duráveis. Elas tinham o propósito de assegurar a perenidade de suas ideias sobre a vida e a morte, e, sobretudo representar a pessoa quando não pudesse mais participar das “procissões osirianas”. As estelas funerárias encontravam-se dispostas nos cenotáfios (monumento funerário simbólico edificado em clamor ao proprietário) ou em pequenas capelas. Quando associadas ao espaço sagrado em que poderiam estar depositadas, os antigos egípcios acreditavam que garantiriam proteção e víveres na outra vida. De maneira geral, eram retangulares e com topo arredondado ou no formato de “portas falsas”, tinham aspectos básicos como a representação do morto, algumas vezes de familiares ou servos, uma fórmula mágica e uma mesa de oferendas. A imagem seguia o padrão da escultura egípcia, geralmente gravadas em baixos relevos ou somente pintadas, apresentavam o morto sentado em bancos ou cadeiras de encosto baixo, o homem vestido com um saiote, as mulheres com uma túnica branca mostrando um dos seios, à sua frente eram desenhadas uma mesa de oferendas repleta de víveres dos quais são facilmente identificados pães, vasos de cerveja, partes de bovino e aves. Os textos presentes quase sempre começam com a “formula de oferendas”, ou seja, uma inscrição dotada de simbologias que iria garantir o fornecimento de alimento para o morto. Após estas inscrições, pode ser identificado o título do proprietário, que nada mais é a sua profissão. Estes objetos compunham parte do aparato funerário egípcio e eram bastante comuns. Muitas Estelas Funerárias chegaram aos nossos dias e são utilizadas pelos historiadores de diversas maneiras. Suas inscrições revelam informações sobre a sociedade em que viviam e ajudam a recuperar partes importantes da vida no Egito Antigo. Jeferson Fernando Nabosni

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