Camila Czelusniaki– Monitora do Museu Egípcio e Rosacruz Tutankhamon
O culto a animais sagrados no Egito Antigo remete desde o período pré-dinástico, em vista que se procurava adorar as forças ou potências divinas através de animais que simbolizavam as principais características, funções ou atributos dos deuses. O touro foi representado como animal sagrado em diversas civilizações da Antiguidade, com os egípcios antigos não foi diferente, em vista que vários de seus deuses são representados ou relacionados simbolicamente com a espécie bovina. Na Pedra Palermo, documento histórico do período pré-dinástico datado de 3100 a.c., há informações sobre o culto ao touro Apís, divindade relacionada a fertilidade, força, energia e virilidade.
O Serapeum é um edifício dedicado ao culto do touro Apís e está localizado em Saqqara, a necrópole da antiga cidade de Menfís. Em Menfís acreditava-se que o touro Apís era a encarnação do deus Ptah, deus criador e patrono dos artesões. O animal que seria adorado como o deus, deveria apresentar uma lista de características que o identificaria, como por exemplo, ter uma pelagem preta, barriga e patas brancas e possuir uma mancha branca em formato de águia em seu dorso. O animal possuía tanta importância que após sua morte, havia um dia de luto nacional, ele também era mumificado e levado pelo caminho sagrado de Menfís até o Serapeum onde seria sepultado.
O Serapeum foi descoberto em 1851 pelo arqueólogo Auguste Mariette, este se dirigiu em 1850 ao Egito com o objetivo de adquirir documentos coptas, siríaco, árabe e etíope para o Museu do Louvre, entretanto os monges negaram-se a vender. Desta forma, Mariette iniciou o processo de escavações em Saqqara, onde descobriu através de vestígios de esfinges, o Serapeum. Auguste Mariette em seu livro “La Serapeum de Memphis” relata que este local foi descrito pelo geografo Estrabão (século I d.C), o arqueólogo acreditava que este registro foi intencionalmente escrito para que 18 séculos mais tarde, o local pudesse ser encontrado.
“’Encontra-se’, disse o geógrafo Estrabão (século I d.C.), ‘um templo de Serápis em um lugar tão arenoso que o vento amontoa as dunas de areia sob as quais vimos esfinges, algumas meio enterradas, outras enterradas até a cabeça, a partir do qual se pode supor que o caminho para este templo não poderia ser sem perigo se alguém fosse pego em uma tempestade de vento repentina’. Não parece que Estrabão escreveu esta frase para nos ajudar a redescobrir, depois de mais de dezoito séculos, o famoso templo dedicado a Serápis? Era impossível duvidar.” (MARIETTE 1882, pag.6).
A primeira parte adentrada por Mariette e sua equipe, foi um pátio do templo, nesta escavação eles encontraram a estátua do escriba sentado datada 5°dinastia 2450-2325 a.C, ou 4°dinastia 2620-2500 a.C, esta estatua é considerada uma das mais famosas esculturas da história Egípcia. O caminho para a primeira galeria estava bloqueado por uma grande rocha, foram utilizados explosivos para acessar, abaixo desta rocha estava a múmia do filho de Ramsés II, príncipe Kaemuaset, este era sumo sacerdote de Ptah e administrador dos templos menfitas. Durante seu tempo como sumo sacerdote executou vários enterros do touro Apís no Serapeum. No ano 30 de Ramses II, Kaemuaset redesenhou o Serapeum, ele criou uma série de câmaras funerárias subterrâneas para o sepultamento de vários touros Apís.
As câmaras funerárias possuíam inúmeras estelas dedicadas ao touro Apís com cenas iconográficas e escritas hieroglíficas. Os touros eram enterrados em sarcófagos de um único bloco de granito escuro ou quartzo amarelo, os quais medem 4 metros de altura e pesam entre 60 e 80 toneladas. Esta instalação possuía 24 sarcófagos, entretanto a maioria destes foram encontrados vazios, alguns contendo apenas ossos bovinos. Em 1852, ocorre a descoberta de uma galeria mais antiga conhecida como “grandes abobadas”, nesta os touros eram sepultados em sarcófagos de madeiras. No mesmo ano, Augusto Mariette descobre uma terceira série de sarcófagos, datadas do reinado do Faraó Amenofis III, da XVIII, até a XIX dinastia, nesta escavação encontraram dois caixões intactos do Apís VII e Apís IX, com estatuas shabtis, vasos canônicos e amuletos.
O Serapeum continuou sendo utilizado até o período greco-romano. No final do século III d.C, com a ascensão do poder do imperador romano ocidental, Flavio Honório, o culto ao deus Apís foi banido.
Referências:
DUNN, Jimmy. The Serapeum of Saqqara. Tour Egypt, disponivel em: http://www.touregypt.net/featurestories/serapeum.htm. Acesso: 20 de julho de 2022.
STRINGFIXER. Khaemweset. Disponivel em: https://stringfixer.com/pt/Khaemwaset. Acesso: 21 de agosto de 2022
REDATOR, Fronteira da Paz. O Serapeum de Saqqara: Um Túnel Gigante de Luz?. 5 de agosto de 2021. Disponivel em: https://fronteiradapaz.com.br/site/2021/08/05/o-serapeum-de-saqqara-um-tunel-gigante-de-luz/. Acesso: 13 de agosto de 2022
MARIETTE, Auguste. Lá Serapeum de Menphis por Auguste Mariette-Pacha. 1822.
BORISOV, Konstantin. The Serapeum of Saqqara. Alternative theory for the granite coffers. Disponivel em: https://www.academia.edu/download/57044374/Alternative_theory_for_the_granite_sarcophagus_
of_the_Serapeum_of_Saqqara_2.pdf. Julho de 2018. Acesso em: 26 de julho de 2022.