O Período de Nagada

Amenemhat viveu no início da XII Dinastia (1991 a.C – 1783 a.C.), uma época de grande riqueza material para a nobreza egípcia e para os funcionários do Estado.

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Pré-dinástico: O período Badariano

Amenemhat viveu no início da XII Dinastia (1991 a.C – 1783 a.C.), uma época de grande riqueza material para a nobreza egípcia e para os funcionários do Estado.

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A Tumba de Khnumhotep II

A tumba de Khnumhotep II se situa no sítio arqueológico de Beni Hassan, localizado próximo a cidade de El Minya.

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Serapeum, o complexo funerário dedicado ao touro Ápis

Camila Czelusniaki– Monitora do Museu Egípcio e Rosacruz Tutankhamon O culto a animais sagrados no Egito Antigo remete desde o período pré-dinástico, em vista que se procurava adorar as forças ou potências divinas através de animais que simbolizavam as principais características, funções ou atributos dos deuses. O touro foi representado como animal sagrado em diversas civilizações da Antiguidade, com os egípcios antigos não foi diferente, em vista que vários de seus deuses são representados ou relacionados simbolicamente com a espécie bovina. Na Pedra Palermo, documento histórico do período pré-dinástico datado de 3100 a.c., há informações sobre o culto ao touro Apís, divindade relacionada a fertilidade, força, energia e virilidade. O Serapeum é um edifício dedicado ao culto do touro Apís e está localizado em Saqqara, a necrópole da antiga cidade de Menfís. Em Menfís acreditava-se que o touro Apís era a encarnação do deus Ptah, deus criador e patrono dos artesões. O animal que seria adorado como o deus, deveria apresentar uma lista de características que o identificaria, como por exemplo, ter uma pelagem preta, barriga e patas brancas e possuir uma mancha branca em formato de águia em seu dorso. O animal possuía tanta importância que após sua morte, havia um dia de luto nacional, ele também era mumificado e levado pelo caminho sagrado de Menfís até o Serapeum onde seria sepultado. O Serapeum foi descoberto em 1851 pelo arqueólogo Auguste Mariette, este se dirigiu em 1850 ao Egito com o objetivo de adquirir documentos coptas, siríaco, árabe e etíope para o Museu do Louvre, entretanto os monges negaram-se a vender. Desta forma, Mariette iniciou o processo de escavações em Saqqara, onde descobriu através de vestígios de esfinges, o Serapeum. Auguste Mariette em seu livro “La Serapeum de Memphis” relata que este local foi descrito pelo geografo Estrabão (século I d.C), o arqueólogo acreditava que este registro foi intencionalmente escrito para que 18 séculos mais tarde, o local pudesse ser encontrado. “’Encontra-se’, disse o geógrafo Estrabão (século I d.C.), ‘um templo de Serápis em um lugar tão arenoso que o vento amontoa as dunas de areia sob as quais vimos esfinges, algumas meio enterradas, outras enterradas até a cabeça, a partir do qual se pode supor que o caminho para este templo não poderia ser sem perigo se alguém fosse pego em uma tempestade de vento repentina’. Não parece que Estrabão escreveu esta frase para nos ajudar a redescobrir, depois de mais de dezoito séculos, o famoso templo dedicado a Serápis? Era impossível duvidar.” (MARIETTE 1882, pag.6). A primeira parte adentrada por Mariette e sua equipe, foi um pátio do templo, nesta escavação eles encontraram a estátua do escriba sentado datada 5°dinastia 2450-2325 a.C, ou 4°dinastia 2620-2500 a.C, esta estatua é considerada uma das mais famosas esculturas da história Egípcia. O caminho para a primeira galeria estava bloqueado por uma grande rocha, foram utilizados explosivos para acessar, abaixo desta rocha estava a múmia do filho de Ramsés II, príncipe Kaemuaset, este era sumo sacerdote de Ptah e administrador dos templos menfitas. Durante seu tempo como sumo sacerdote executou vários enterros do touro Apís no Serapeum. No ano 30 de Ramses II, Kaemuaset redesenhou o Serapeum, ele criou uma série de câmaras funerárias subterrâneas para o sepultamento de vários touros Apís. As câmaras funerárias possuíam inúmeras estelas dedicadas ao touro Apís com cenas iconográficas e escritas hieroglíficas. Os touros eram enterrados em sarcófagos de um único bloco de granito escuro ou quartzo amarelo, os quais medem 4 metros de altura e pesam entre 60 e 80 toneladas. Esta instalação possuía 24 sarcófagos, entretanto a maioria destes foram encontrados vazios, alguns contendo apenas ossos bovinos. Em 1852, ocorre a descoberta de uma galeria mais antiga conhecida como “grandes abobadas”, nesta os touros eram sepultados em sarcófagos de madeiras. No mesmo ano, Augusto Mariette descobre uma terceira série de sarcófagos, datadas do reinado do Faraó Amenofis III, da XVIII, até a XIX dinastia, nesta escavação encontraram dois caixões intactos do Apís VII e Apís IX, com estatuas shabtis, vasos canônicos e amuletos. O Serapeum continuou sendo utilizado até o período greco-romano. No final do século III d.C, com a ascensão do poder do imperador romano ocidental, Flavio Honório, o culto ao deus Apís foi banido.     Referências: DUNN, Jimmy. The Serapeum of Saqqara. Tour Egypt, disponivel em: http://www.touregypt.net/featurestories/serapeum.htm. Acesso: 20 de julho de 2022. STRINGFIXER. Khaemweset. Disponivel em: https://stringfixer.com/pt/Khaemwaset. Acesso: 21 de agosto de 2022 REDATOR, Fronteira da Paz. O Serapeum de Saqqara: Um Túnel Gigante de Luz?. 5 de agosto de 2021. Disponivel em: https://fronteiradapaz.com.br/site/2021/08/05/o-serapeum-de-saqqara-um-tunel-gigante-de-luz/. Acesso: 13 de agosto de 2022 MARIETTE, Auguste. Lá Serapeum de Menphis por Auguste Mariette-Pacha. 1822. BORISOV, Konstantin. The Serapeum of Saqqara. Alternative theory for the granite coffers. Disponivel em: https://www.academia.edu/download/57044374/Alternative_theory_for_the_granite_sarcophagus_ of_the_Serapeum_of_Saqqara_2.pdf. Julho de 2018. Acesso em: 26 de julho de 2022.

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Alimentação e culinária no tempo dos faraós

Thais Chaiane Costa de Faria – Monitora do Museu Egípcio e Rosacruz Tutankhamon A decifração dos hieróglifos, por Jean-François Champollion em 1822, permitiu estudos de vários aspectos da cultura do Egito Antigo, principalmente a partir das inscrições encontradas nas tumbas, nos templos e nos papiros egípcios. Hoje, sabemos que a alimentação e o preparo dos alimentos, tanto no cotidiano como no contexto fúnebre, tinham uma grande importância para a sociedade egípcia, pois eram a fonte de energia durante a vida terrena e na vida após-morte. Os egípcios antigos possuíam uma dieta bastante diversificada, desde o consumo de frutas e leguminosas, a uma gama de pães, bolos, carnes e bebidas. Cenas de banquetes feitos em comemorações e festividades demonstram essa variedade de alimentos. O Papiro Anastasi IV possui uma lista de produtos a serem reunidos por um funcionário do palácio de Ramsés III para um banquete de recepção da chegada do faraó a capital. A partir das inscrições, podemos listar, pelo menos, nove tipos de pães disponíveis para consumo, identificar as carnes consumidas no palácio, principalmente de aves como o ganso, codornas e pombos, além de carneiros e peixes, diferentes tipos de bolos e frutas. No entanto, nem todas as camadas da sociedade gozavam da mesma dieta. A cozinha do palácio do faraó, sem dúvidas, dispunha dos mais diversos cardápios alimentares. Já a população, tinha como base da alimentação diferentes tipos de pães e a cerveja, complementados por vegetais e frutas, e em períodos de festividade, por carnes e outros alimentos distribuídos pelo palácio e pelos templos. Os vegetais eram complementos da dieta da maioria da população, a cebola e alho, por exemplo, poderiam ser consumidos crus com pão. A alface era consumida como salada, assim como o Corchoruso litorius, planta conhecida no Egito por melukhia, e no ocidente por malva, além de diversos tipos de grãos, como feijões, grão de bico, ervilhas e lentilhas. Os figos e as tâmaras estavam frequentemente presentes na culinária egípcia, podendo ser consumidos individualmente ou adicionados as mais variadas receitas, como ingredientes para bolos os tornando adocicados, e na produção de cervejas. Para preparar os mais variados tipos de pães, os egípcios primeiramente produziam a farinha:  os grãos de trigo eram moídos e transformados em farinha com o uso de pilões e almofarizes, nas casas particulares, ou com a roda de moer grãos nas padarias, em seguida peneiravam-na para eliminar os grãos mais resistentes. Na farinha acrescentava-se água e sal, a massa então era sovada em recipientes específicos, parecidos com uma gamela, e depois reservada para fermentação, levando aproximadamente oito horas para crescer. Após esse tempo, o pão era colocado em moldes e formas previamente aquecidos, sendo o molde bedja (em formato cônico) o mais usado, e a massa era assada sobre brasas por cerca de quarenta minutos. O pão poderia ser consumido com cebolas e acompanhado da cerveja. A cerveja é umas das criações dos egípcios antigos, sendo produzida a partir da fermentação de pães de cevada em água que em seguida eram diluídos e peneirados. Seu líquido era bastante encorpado e espesso, muito energético. Assim como o pão, havia uma variedade de cervejas no Egito Antigo. A henket, era muito popular entre os egípcios, usada também como pagamento dos salários. A cerveja seremet obtida através da adição de tâmaras esmagadas no seu processo de fermentação, que além de adocicar mais a cerveja, aumentava o seu índice alcoólico e a tornava mais estável, sendo assim superior às demais. Outros exemplos são: a cerveja henemes, hamat, tenemu e decheret. A diferença entre elas consiste basicamente no tipo de grão utilizado como matéria prima. Além das tâmaras, outros condimentos poderiam ser adicionados no processo de fermentação, como figos, frutos de persea, sementes de tremoço, coentro e mel. Outra bebida fermentada, que acompanha o pioneirismo egípcio, é o vinho, ierp.  A vinha não é nativa do Egito, muito provavelmente, foi importada da Síria-Palestina por volta de 3100 a.c. e passou a ser cultivada próxima as margens do Nilo, em áreas onde a enchente não alcançava, desde as primeiras dinastias. Nas tumbas reais e nobres do Reino Antigo, já havia representações de cenas da produção de vinho, mas apesar de muitas tumbas retratarem esse processo, o consumo da bebida estava restrito a determinados grupos sociais. O vinho estava presente nos banquetes e nas festividades, além de possuir caráter religioso, usado como oferenda aos deuses pelo faraó nos templos. De modo geral, a produção do vinho consistia nos seguintes processos: após a colheita, os trabalhadores transportavam as uvas em cestos e as despejavam em tanques onde eram pisadas a fim de extrair o líquido da fruta. A sobra das cascas, caules e grainhas era colocada em sacos compridos de linho que funcionavam como uma prensa e quatro homens, dois a dois, exerciam força oposta nas duas extremidades efetuando um efeito de torção, fazendo cair do pano para um recipiente, o sumo espremido. O vinho era armazenado em ânforas, onde ocorria o processo de fermentação, após essa etapa, as ânforas eram lacradas e “etiquetadas” com os dados do tipo de vinho, o ano de fabricação, a origem, o destino, e por vezes, o nome do vitinicultor. A diferença do tipo de vinho, geralmente está relacionada a técnica da produção. No Reino Novo (1550-1070 a.c) eram produzidos três tipos de vinhos: o vinho branco, o tinto e o shedeh. O vinho shedeh tinha uma preparação distinta dos demais, pois após seu processo de fermentação era filtrado e aquecido. Na tumba do Faraó Tutankhamon, juntamente a outros artefatos, foram encontradas trinta ânforas de vinho, uma delas de shedeh, com a seguinte inscrição: “Ano 5, Shedeh de muito boa qualidade da propriedade de Aton do Rio Ocidental, chefe vinhateiro Rer”. Em contrapartida, na produção do vinho nedjem poderia ser adicionado mel e figos, que o tornava mais doce e consequentemente aumentava seu teor alcoólico. O vinho paur, de menor qualidade, era obtido pela reumidificação do mosto depois de uma primeira prensagem.  A representação de banquetes nas pinturas das tumbas está relacionada ao

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Mênfis

Thais Chaiane Costa de Faria – Monitora do Museu Egípcio e Rosacruz Tutankhamon Segundo a crença egípcia, Mênfis teria sido fundada pelo primeiro rei do Egito, em cerca de 3100 a.C, e foi a primeira capital no Reino Antigo. As primeiras fontes conhecidas que relatam a importância da cidade, estão descritas nos trabalhos de autores como, Heródoto que a visitou ainda na Antiguidade, Estrabão e Diodoro de Sicília. A metrópole, ficava localizada entre o Baixo e o Alto Egito, próxima ao delta do Nilo e para os egípcios antigos, era conhecida como Muro Branco (Ineb hedj). A denominação utilizada hoje decorre do período helenístico, Mênfis é uma palavra grega derivada da construção hieroglífica Mn-Nfr, que significa “Duradoura e Bela”, designação atribuída à pirâmide do rei Pepi I, da VI dinastia (2287 a.C. – 2187 a.C). No Reino Antigo, a cidade era uma das mais populosas de todo o Egito e onde ficava a residência real dos faraós. A localização estratégica da capital entre os dois reinos, possibilitou que a cidade se tornasse um grande centro cultural, religioso e populacional. Nas suas bibliotecas e ateliês, conservaram-se ou transmitiram-se os manuais, os tratados, os cânones e o saber relativos aos monumentos sacralizados. Apesar das transferências da capital para outras regiões ao longo dos anos, para Tebas e Amarna, por exemplo, Mênfis não perdeu sua importância, sempre ocupando uma posição de destaque. No Reino Novo, tornou-se uma metrópole cosmopolita, um grande centro do comércio internacional e uma base militar fundamental para o Império com o seu porto de Peru-Nefer. Entretanto, apesar da sua importância econômica, sua decadência começou a partir do crescimento de Alexandria, no período ptolomaico, que se transformou na grande metrópole e no mais importante porto comercial do Egito. Um dos grandes eventos realizados em Mênfis, na Antiguidade, era marcado pela legitimação do poder faraônico: a cerimônia de coroação do rei e o festival Heb-Sed, também conhecido como jubileu. A cerimônia de coroação era realizada no templo de Ptah e cada detalhe do ritual simbolizava o renascimento do faraó, que ao ser coroado transformava-se em um ser divino. O festival Heb-Sed acontecia a cada trinta anos com o intuito de reafirmar e revitalizar o poder faraônico, no evento uma série de ritos eram realizados, dentre eles, com a típica cauda postiça envergando o saiote real, o faraó corria em volta dos muros da cidade, simbolizando a afirmação e legitimação do seu poder sobre todo território egípcio. Enquanto centro religioso, Mênfis tinha como deus principal, Ptah um deus muito antigo, mencionado nos textos das pirâmides desde o Reino Antigo, e considerado pelo clero da cidade o deus demiurgo, responsável pela criação do mundo. Segundo a mitologia, Ptah manifestou o desejo em seu coração (sua consciência) e através da fala tudo criou. O seu local de culto mais importante era o templo Hut-ka-Ptah, localizado em Mênfis, onde seria a morada do ka do deus. Enquanto criador, o deus era chamado Ptah Tatenen relacionado a terra e posteriormente tornou-se patrono dos artesãos, sendo considerado o inventor dos trabalhos manuais. O deus também foi associado a outras divindades, como Sokar e Osíris, então denominado Ptah-Sokar-Osíris, que estava relacionado ao culto funerário. No Reino Novo, Ptah ganhou uma nova família, ao lado da deusa Sekhmet e seu filho Nefertum, formando a tríade menfita. Já no período ptolomaico ele foi associado ao deus grego Hefesto, ferreiro e mestre no trabalho com metais, pois Mênfis era o centro metalúrgico mais famoso do país. No entanto, a cidade perdeu sua importância religiosa quando Teodósio I (379-395 d.c) decretou que o cristianismo passaria a ser a religião de todo o Império Romano. Diversos estudos foram realizados em busca de entender a extensão de Mênfis e os trabalhos mais recentes demonstram que a cidade se estendia por, pelo menos, 10 Km de Norte para Sul. Contudo, o local “desapareceu” restando apenas as ruínas, pois estaria soterrada devido a acumulação de sedimentos no decorrer dos milênios, além da própria influência do curso do rio Nilo, que provocou uma erosão nos vestígios históricos. É importante lembrar que Mênfis não se resumiu à região de Mit-Rahina, mas estendeu-se de Abu Rawash a Gizé, Abusir, Saqqara e Dahshur. Quem visita Mit-Rahina, pode contemplar as ruínas do recinto do templo de Ptah, com estátuas colossais de Ramsés II e uma grande esfinge de alabastro encontrada por Flinders Petrie, em 1912, que acredita-se que ela estava dentro do templo de Ptah e representaria a rainha Hatshepsut, da XVIII dinastia, entre outros templos menores de distintos períodos. Ptah Ruinas templo de Ptah Esfinge Hatshepsut Referências Telo Canhão, A alimentação no antigo Egipto. Revista Hapi, Lisboa, n.3, p.33-89,Novembro,2015. Disponível em < https://www.academia.edu/35273753/_A_alimenta%C3%A7%C3%A3o_no_antigo_Egipto_in_Hapi_Revista_da_Associa%C3%A7%C3%A3o_Cultural_de_Amizade_Portugal_Egipto_no_3_Lisboa_Novembro_de_2015_pp_33_89_ISSN_2183_0991?email_work_card=view-paper> Acesso em março de 2021 Fonseca, Sofia. Guasch Jané, Maria Rosa. Ibrahim, Mahmoud. O vinho no Antigo Egito: uma história mediterrânea. Revista Mundo Antigo, (NEHMAAT-UFF/PUCG), Campos dos Goytacazes (RJ), ano 1, v.1, nº1, p.131-146, Junho, 2012.  Disponível em <http://www.nehmaat.uff.br/revistasAnteriores2012-1PORT.html> Acesso em março de 2021.

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Nefertari – A Mais Bela

  Lavínia Lírio – Monitora do Museu Egípcio e Rosacruz Tutankhamon Grande Esposa Real era como Nefertari era chamada. Foi uma rainha da XIX dinastia. Nefertari não tinha sangue real, mas vinha de uma família nobre natural de Tebas. Casou-se muito jovem com Ramsés II, sendo que neste período ele ainda não havia se tornado faraó. Pouco tempo após a união dos dois, Nefertari teve seu primeiro filho, Amon-herkhepeshef que faleceu muito cedo. Logo quando assumiu o trono, Ramsés II já demonstrou seu interesse em fortalecer o setor militar, ele investiu muito no exército e expandiu o império, fazendo com que seu reinado fosse um período de prosperidade no Egito Antigo. Todo esse crescimento, tanto político quanto econômico, teve influência da rainha Nefertari, que tinha um papel ativo na política, sendo responsável por atos importantes, como negociações de paz entre povos vizinhos, tal como o Tratado de Kadesh. O acordo de paz realizado entre Ramsés II e o rei hitita Hatusil III ficou conhecido como Tratado de Kadesh. Sempre houve muita tensão entre os dois impérios por questões territoriais, e o objetivo do tratado era de manter relações de paz entre as duas partes. Após a finalização do tratado de paz, Nefertari enviou uma carta para a esposa de Hatusil III, a rainha Paduhepa, desejando paz para seu povo. A rainha Nefertari foi a esposa favorita de um dos faraós mais poderosos e influentes. Devido a sua influência seu esposo ordenou a construção de um templo dedicado à imagem dela no complexo de Abu Simbel. No início de seu reinado, Ramsés II já deu andamento na construção dos templos, que demoraram aproximadamente 20 anos para ficarem prontos. O templo dedicado à rainha tem um tamanho inferior em comparação ao do faraó, mas similar em beleza. O templo de Nefertari é repleto de cenas de oferendas para a deusa Hathor, e em sua fachada foram construídas seis estátuas, quatro do faraó e duas da rainha. A mesma beleza do templo da rainha é encontrada também em sua tumba, que é considerada uma das mais bonitas já descobertas. Ela está localizada no Vale das Rainhas, local onde foram enterradas as esposas dos reis e outros nobres. Ernesto Schiaparelli, arqueólogo italiano, foi o responsável pela descoberta em 1904, porém, a tumba já havia sido saqueada na antiguidade, ou seja, a maior parte do enxoval funerário já tinha sido levado, sobrando apenas alguns pedaços de artefatos. O corpo da rainha não foi encontrado, entretanto, um par de joelhos mumificados estava na tumba, atualmente eles estão localizados no Museu Egípcio em Turim, na Itália. De acordo com estudos, os membros são de uma mulher adulta de aproximadamente 40 anos de idade e os materiais utilizados na mumificação coincidem com os que eram usados no século XIII a.C., período em que a rainha viveu. Acredita-se que Nefertari tenha morrido por volta de 1250 a.C, e a descoberta de seu templo e de sua tumba foram fundamentais para deixar o registro da história, fazendo com que ela ficasse conhecida até hoje como uma das grandes rainhas da história do Egito Antigo. TUMBA DE NEFERTARI NO VALE DAS RAINHAS TUMBA DE NEFERTARI NO VALE DAS RAINHAS ESTATUA-DE-NEFERTARI-EM-ABU-SIMBEL TEMPLO DE NEFERTARI EM ABU SIMBEL JOELHOS MUMIFICADOS DE NEFERTARI REFERÊNCIAS: DAVIS, Nicola. Mummified knees are Queen Nefertari´s, archaeologists conclude. The Guardian, 2 de dezembro de 2016. Disponível em: https://www.theguardian.com/science/2016/dec/02/mummified-knees-are-queen-nefertaris-archaeologists-conclude Joelhos mumificados em museu da Itália são da Rainha Nefertari, descobrem cientistas. O Globo, 06 de dezembro de 2016. Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/joelhos-mumificados-em-museu-da-italia-sao-da-rainha-nefertari-descobrem-cientistas-20597948 NOBLECOURT, Christiane Desroche. A mulher no tempo dos Faraós. Campinas, SP. Papirus, 1994.

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A Grande esposa real e Rainha-mãe: Tiye

  Thais Chaiane Costa de Faria Monitora do Museu Egípcio e Rosacruz Tutankhamon O papel desempenhado pelas mulheres na história, nas mais diversas sociedades, em tempos remotos ou pouco distantes de nós, principalmente no âmbito político-social, é abordado em diversos estudos recentes que visam desmistificar a ideia de uma atitude passiva, muitas vezes atribuída ao feminino em detrimento do poder associado ao masculino. Na antiguidade egípcia, a Rainha Tiye, esposa do faraó Amenhotep III, viveu durante o Reino Novo, especificamente, no período de transição entre o reinado de seu marido e o período amarniano, governado por seu filho Akhenaton, e teve um papel importante em ambos os períodos, influenciando a política e a religião do Egito. / Tiye não fazia parte da família real antes de se casar com Amenhotep III, fator excepcional na sociedade egípcia pois, normalmente, as esposas principais deveriam ter um grau de parentesco com o faraó vigente. A rainha nascida em Akhmin, era filha de Yuya, sumo sacerdote de Min e, mais tarde, chefe da cavalaria, e da dama Tuya, superintendente do harém de Akhmin e Amon. Apesar de sua família não possuir posição elevada, como a realeza, seus familiares exerciam influência nos cultos locais de Tebas. Tiye ocupou uma posição de destaque ainda no reinado de Amenhotep III, ao lado do marido, esteve associada aos grandes acontecimentos marcantes do reino. No final do mês de setembro, no ano 11 de reinado de Amenhotep III, o faraó ordenou a escavação de um lago em Djarukha, ao norte de Akhmin. As dimensões do lago, equivaliam a dois quilômetros por 365 metros, e quinze dias após o começo da obra, já estava pronto. A construção do lago foi feita a fim de melhorar a irrigação do solo nas culturas locais e facilitar a fertilização. A inauguração do projeto, foi marcada pelo ritual de navegação da barca real, “Aton irradia”, sacralizando o lago e tornando a terra fecunda. Nessa ocasião a rainha Tiye, exercia sua função divina. O casal régio também ordenou a edificação de dois templos no Sudão, um em Soleb e o outro em Sedeinga, na Núbia. Retratada ao lado do marido em estátuas colossais, a rainha foi venerada como deusa, também deificada e incluída no programa solar, foi considerada como o olho de Rá no Sudão, que se uniu a divindade Nebmaatra (faraó divinizado), para retornar ao Egito e restaurar a Maat do mundo. Na tumba de Kheruef, em Tebas, a monarca, em forma de esfinge, aparece massacrando os inimigos e reestabelece Maat, promovendo assim a justiça e ordem no universo. A rainha passava a maior parte do tempo em Tebas, administrando a Casa da Rainha, parte integrante do palácio, onde havia oficinas de artesãos, padeiros, cervejeiros, ourives, armazéns, marceneiros, um tesouro, serviços médicos e laboratórios, garantindo uma boa gestão dos bens. No entanto, com o falecimento de Amenhotep III, Tiye passou a governar o Egito, até um dos filhos, a jovem Satamon ou Amenhotep IV, ter experiência e maturidade para reinar, pois na época da perda do pai, os irmãos eram muito jovens e inexperientes para ocupar o trono. Satamon, a filha da rainha desapareceu dos registros oficiais, e Amenhotep IV, que logo se tornaria Akhenaton, ao lado de sua esposa Nefertiti, ocupou o trono em 1353 a.c. A partir do segundo ano de seu reinado, Amenhotep IV reformulou conceitos religiosos, políticos e artísticos, no período conhecido como a Reforma de Amarna, onde a capital do reino foi transferida para outro local, cidade conhecida como Akhetaton (hoje Tell el-Amarna) e o culto solar a Aton e a família real, passou a ser prioridade. Nesse período o Egito possuía acordos com a região de Mitani, estabelecidos desde o reinado de Amenhotep III, e Tiye era a única que sabia das negociações e os segredos do Estado. Quando Amenhotep IV assume o poder, fica claro a influência política que sua rainha-mãe teve sob seu governo, pois ela estava ciente das relações do reino com o exterior e mantinha contato com os governantes estrangeiros. Através de uma das cartas trocadas entre Tushratta, governante de Mitani e a própria rainha, observa-se a cobrança de Tushratta em relação à política guiada por Amenhotep IV, que estaria descumprindo os acordos, e pede a Tiye uma intervenção na política de seu filho, por ser conhecedora do modo como ocorria a negociação. Na carta enviada por Tushratta, ele comenta o pedido da rainha em manter com o filho Akhenaton, as mesmas relações que havia tido com seu falecido marido, mas relata o problema no acordo. O reino deveria encaminhar a Mitani, estátuas em ouro maciço, mas o que lhe foi enviado foram estátuas em madeira. Tushratta, apela a rainha para conversar com o faraó e resolver o impasse, para que assim possa continuar o relacionamento entre os reinos. O governante termina a carta saudando a rainha, enviando presentes, recipientes para perfumes cheios de “óleo doce” e um conjunto de pedras incrustadas em ouro. Outras duas cartas, enviadas de Mitani, dessa vez, destinadas ao faraó, o aconselham a ouvir sua mãe, pois ela, melhor do que ninguém, sabe quais são os tratados determinados entre estes dois reinos. Akhenaton mandou construir um palácio para Tiye em Akhetaton, para permanecer quando estava na cidade. Tiye era um elo entre Tebas e a nova capital, por isso viajava frequentemente a cidade do deus Amon, para manter relações entre as duas cidades. Tiye também aparece na arte amarniana, retratada nos banquetes da família real junto com sua filha Beketaten. A rainha-mãe faleceu no oitavo ano de reinado de Akhenaton e as fontes apontam para o túmulo número 55, no Vale dos Reis, o local onde ela teria sido inumada. Sem decorações esculpidas nas paredes, a tumba tinha como parte do seu enxoval funerário, um trenó para a múmia, um ataúde, amuletos, frascos de perfume e várias peças raras que acabaram sendo destruídas ao serem retiradas do local. Fundações funerárias em Tebas e no Médio Egito celebraram sua memória e foi-lhe prestado culto. Sem dúvidas, Tiye desempenhou um

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A infância no Egito Antigo

Thais Chaiane Costa de Faria – Monitora do Museu Egípcio e Rosacruz Tutankhamon A infância na Antiguidade é tema de diversos estudos recentes os quais buscam compreender o papel desempenhado pelas crianças na sociedade, com um olhar menos passivo, analisando-as como agentes sociais e suas contribuições para a comunidade em que estavam inseridas. Pesquisas nessa área da Egiptologia abordam aspectos desde a concepção, nascimento, até os primeiros anos de vida das crianças. Para os egípcios antigos ter filhos era sinal de honra, basicamente a finalidade do casamento, pois assim, garantiriam a perpetuação de sua linhagem familiar. Os filhos seriam aqueles que dariam apoio durante os momentos difíceis da vida, como em caso de doenças e a própria velhice, principalmente no plano pós morte. O filho mais velho seria responsável por proporcionar um funeral adequado aos seus pais, bem como as práticas relacionadas ao culto funerário em memória deles. No entanto, a gravidez no Egito Antigo tinha seus riscos e complicações, pois, no decorrer da gestação hemorragias poderiam ocorrer e, durante o parto, a mãe e o bebê corriam risco de vida dadas as circunstâncias da concepção somando a má nutrição da futura mãe. Portanto, os egípcios desenvolveram mecanismos para evitar tais riscos assegurando proteção para ambos: o culto a divindades relacionadas à concepção e a fertilidade eram adotados. Ísis, a senhora da magia, era a deusa da fertilidade, exemplo de mãe, protetora das crianças; a deusa Háthor estava associada a sexualidade e a maternidade, protetora das mulheres, assim como o deus Bes; Taueret era a divindade protetora das grávidas e das parturientes, dentre outras divindades. Amuletos, encantamentos recitados enquanto o parto era realizado e artefatos produzidos para uso doméstico, formavam um conjunto de práticas voltadas para a proteção da mãe e do recém-nascido. Os “tijolos do nascimento”, por exemplo, serviriam como apoio para a mãe no momento de dar à luz. Segundo estudos, supostamente no total de dois ou quatro, também poderiam ser agrupados lado a lado formando uma espécie de “cama” onde o bebê era colocado. Outros artefatos como as “presas de hipopótamos”, também chamados de “bastões do nascimento”, eram ornamentados com figuras animais, divinas e inscrições que tinham como função a proteção da criança, afastando as forças maléficas terrenas ou não que quisessem lhes fazer mal. Além dos amuletos usados como proteção diária, havia também aqueles associados aos encantamentos mágicos, utilizados pelas crianças para combater alguma enfermidade que estivesse afetando-as. Essa preocupação com a proteção e segurança dos bebês pelos egípcios está relacionada diretamente com a mortalidade infantil, muito comum na Antiguidade, pois além dos riscos da gestação e do parto, os primeiros anos de vida dos pequeninos, sem dúvidas, eram muito difíceis. A má nutrição da mãe poderia afetar o desenvolvimento inicial do crescimento do bebê, pois pelo menos até os três primeiros anos de idade o leite materno era sua principal fonte de alimentação. Após essa fase o lactente passaria aos poucos, a consumir novos alimentos em sua dieta, como frutas e verduras comuns na refeição cotidiana da família, entretanto essa transição poderia acarretar problemas intestinais e a carência de consumo de algum nutriente durante a infância como um todo, poderia ao longo do tempo, ocasionar doenças, como malformações ósseas. Contudo, apesar do alto índice da mortalidade infantil (mesmo que em números incertos), na medida em que a criança crescia sua expectativa de vida era prolongada. A inserção social da criança na comunidade se dava logo após seus primeiros meses de vida, acompanhada da mãe em suas tarefas rotineiras, era carregada em uma espécie de canga facilitando seu deslocamento e amamentação. Nos ambientes onde eram desenvolvidas essas atividades, a criança tinha seus primeiros contatos com outros membros da comunidade, provavelmente da mesma faixa etária, que se tornavam seus companheiros diários e parceiros nas brincadeiras. O lúdico também estava presente no dia a dia das crianças egípcias, pois foram encontrados diversos artefatos considerados brinquedos, dentre objetos com formas animais, dados, bonecas de pano e jogos, muito comuns inclusive no entretenimento dos adultos.  O Senet, por exemplo, foi encontrado junto a outros artefatos, na tumba do faraó Tutankhamon. Era um jogo de tabuleiro o qual era dividido em três fileiras de dez quadrados. Alguns dos quadrados tinham símbolos que representavam a má e boa fortuna. Sabe-se que era um jogo de estratégia, mas não existe certeza de quais eram as suas regras. Entretanto, no geral, a crença é de que o vencedor era aquele que conseguisse levar suas peças para o final do lado do seu oponente. Contudo, através da análise das representações iconográficas podemos identificar facilmente algumas características que demonstram outros aspectos da infância e da juventude no Egito Antigo: geralmente as crianças são retratadas juntamente com os adultos alicerçando a ideia de dependência para com eles, menores que as demais figuras humanas representadas e em alguns casos, retratadas nuas. Entretanto essa condição não estaria necessariamente vinculada a realidade, sendo optada como um traço pertinente ao grupo representado, assim como as imagens onde a criança aparece com um dedo na boca. A típica trança lateral também poderia representar a infância e a juventude dependendo do contexto. O penteado era adotado pelos egípcios até certa idade entre a infância e a adolescência, depois passavam a usar o cabelo raspado, no caso dos homens, e com perucas para as mulheres. Conforme seu crescimento, as crianças logo iam adquirindo novas responsabilidades, explícitas em muitas cenas iconográficas, onde aparecem realizando diversas atividades, como a fabricação de utensílios para uso doméstico, além de participarem das tarefas agrícolas e dos cuidados da casa. Referências: Coelho, Liliane Cristina. Do nascimento aos primeiros anos de vida: um olhar sobre a infância no Egito do Reino Médio (c. 2040-1640 a. C.) Revista Plêthos, Rio de Janeiro, 2,2,12, p.30-50, fev.2012. Disponível em : https://www.historia.uff.br/revistaplethos/nova/downloads/4Liliane.pdf. Acesso em janeiro de 2021 Chapot, Gisela. A criança nas representações mortuárias privadas no Egito Antigo. SEMNA – Estudos de Egiptologia VI, Rio de Janeiro,2ª edição, p.44-59,2019. Disponível em:https://seshat.museunacional.ufrj.br/wp-content/uploads/2019/12/Segunda-Edi%C3%A7%C3%A3o-Estudos-de-Egiptologia-VI.pdf. Acesso em janeiro de 2021 Santos, Jessica Alexandra Monteiro. A protecção mágica da

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O Vale dos Reis

Por: Vivian Tedardi – Historiadora Ao longo da história egípcia antiga os faraós construíram suas tumbas para que fossem a morada eterna de seus corpos e garantissem a sua existência na companhia dos deuses. As pirâmides são, com certeza, o exemplo mais famoso, porém não as únicas estruturas erigidas para este fim. Os reis que governaram durante o período áureo da história egípcia, o Reino Novo (1550-1070 a.C.), construíram suas tumbas escavadas na rocha, no deserto Ocidental, próximo da capital Tebas, região conhecida como Vale dos Reis. Os egípcios referiam-se a região como “Grande e nobre necrópole de milhões de anos do faraó que é vivo, seja próspero e são, no oeste de Tebas” ou “O vale – o grande lugar em que descansa o faraó”. Até hoje foram descobertas sessenta e quatro tumbas reais das XVIII, XIX e XX dinastias e o local escolhido para abriga-las não foi aleatório, pois a montanha que acolhe esses sepulcros possui forma piramidal, e é conhecida como el-Qurna. Além deste significado simbólico há outro, visto que a forma de algumas cadeias montanhosas foi associada ao símbolo Akhet, que significa horizonte, local de passagem entre o mundo dos vivos e o mundo dos deuses. Embora grande parte das tumbas tenham ficado inacabadas, sabemos que o faraó no início de seu governo mandava iniciar os trabalhos para a construção de seu sepulcro. Geralmente o local era escolhido pelo vizir, pelo chefe dos trabalhadores e alguns outros funcionários reais, porém, a decisão final cabia ao rei. Com a escolha do local era realizada a cerimônia de fundação, na qual um ou mais poços eram escavados em alguma área próxima da entrada da tumba e vários objetos votivos eram ali depositados. Para abrigar os construtores das tumbas reais foi erigida a cidade de Deir el-Medina. Os trabalhadores eram divididos em dois grupos: lado esquerdo e lado direito, sendo que cada um dos lados tinha um capataz, com um ajudante. Havia apenas um escriba por vez, que atendia aos dois grupos. Além desses, viviam na cidade desenhistas, escultores, médicos, assistentes e guardas. Basicamente as atividades estavam relacionadas a construção das tumbas reais. As escavações arqueológicas realizadas na cidade e nas tumbas dos construtores revelaram o cotidiano das pessoas que atuaram na construção desta necrópole real. E como eram as tumbas do Vale dos Reis? Escavadas na rocha, são formadas por corredores e câmaras, porém não aleatórias, mas relacionadas a concepção post-mortem do período, principalmente associando o rei ao deus sol Rá. As tumbas seriam uma versão terrestre do mundo ultraterreno, um mundo que o monarca deveria cruzar todas as noites acompanhando o deus solar para que pudesse renascer no Leste no dia seguinte, ao amanhecer. A iconografia presente afirma isso, pois recriava esse mundo ultraterreno e todas as criaturas que o habitavam. Além das associações com Rá, o faraó também era assimilado com o governante do mundo dos mortos, o primeiro dos Ocidentais, o deus Osíris. Cada um dos corredores e salas foram nomeados de acordo com a passagem do deus sol pelo inframundo, sendo que a câmara funerária do rei era chamada de “sala onde o uno descansa” ou “a casa de ouro onde o uno descansa”. O ouro aqui representa divindade, por isso, geralmente, a cor amarela era predominante no espaço, que continha o sarcófago real, e a exemplo da tumba de Tutankhamon, possivelmente este era recoberto por quatro relicários feitos em madeira e folheados a ouro. Embora as tumbas construídas foram destinadas aos faraós do Reino Novo, os últimos enterramentos ocorreram durante a XXII dinastia, Terceiro Período Intermediário (1070-712 a.C.), quando tebanos reutilizaram algumas delas. Isso ocorreu porque desde a Antiguidade muitas tumbas foram saqueadas. Construídas para não serem encontradas, infelizmente há registros de saques ainda no final do Reino Novo. No período Greco-Romano (304 a.C. a 395 d.C) quinze tumbas eram conhecidas, o que é possível verificar por grafittis encontrados em sepulturas raméssidas e datados desse período. Embora a pesquisa sistematizada da região tenha iniciado no século XIX, há registros de impressões do local realizadas no século XVII e, em fins do XVIII, com a expedição de Napoleão Bonaparte. Esta, inclusive, foi responsável pela elaboração do primeiro mapa da região, contabilizando dezessete tumbas abertas. Na primeira metade do século XIX, com a exploração imperialista europeia no Egito e a busca por “antiguidades”, levou a descoberta de oito novas tumbas pelo italiano Giovanni Battista Belzoni. Em 1827, para identificação das tumbas, elas foram numeradas em vermelho, em ordem sequencial. Forma que continua sendo utilizada quando uma nova tumba é descoberta, com a sigla KV (Kings Valley) e o número sequencial. O Vale dos Reis continua sendo explorado arqueologicamente, embora a grande descoberta tenha ocorrido em novembro de 1922, quando o arqueólogo inglês Howard Carter descobriu a tumba de Tutankhamon. Esta estava praticamente intacta, revelando como deveria ser o tesouro dos outros reis enterrados na região, e que tiveram os seus sepulcros saqueados ao longo do tempo. Na verdade, apenas duas múmias de faraós foram encontradas em suas respectivas tumbas no Vale dos Reis: Amenhotep II e Tutankhamon. Quem visita a região encanta-se com a grandiosidade das tumbas que, mesmo inacabadas, revelam a concepção egípcia antiga na crença além-túmulo. Também o conhecimento construtivo e decorativo daqueles que atuaram na construção das moradas eternas dos reis que, ao terem sua vida eterna garantida, atuavam para a manutenção da Ordem criada pelas divindades egípcias.

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