Háthor Representações do feminino no Egito Faraônico

  Háthor em egípcio antigo ḥwt-ḥr, que significa recinto ou casa de Hórus, era uma das deusas mais cultuadas pelos antigos egípcios. Dentre suas várias representações ela aparece como sendo uma mulher com um disco solar acima de sua cabeça entre seus chifres bovinos ou com corpo de mulher e orelhas de vaca, quase sempre segurando um was, cetro com cabeça de um cervo, ou ainda o wadj, um cetro com a planta de papiro, já que para os egípcios a morada dessa deusa era nas plantações desse vegetal que localizavam-se na parte Delta do rio Nilo, onde havia também muitos rebanhos de bovinos. Entre as suas múltiplas denominações as principais aparecem como: “A Grande Vaca Selvagem”, “A Distante” ou “A Senhora do Ocidente” pois era a senhora do deserto e das terras estrangeiras, “A Senhora Turquesa” e “A Dourada” uma vez que era também a deusa dos metais e dos minérios, e “A Senhora do Submundo”, sendo ela protetora dos mortos. Seu culto no Egito faraônico remonta ao Reino Antigo (2686-2181 a.C) considerando os registros de cabeça bovina esculpidos na paleta de Narmer (3100 a.C) e os achados arqueológicos junto a fonte textual no Templo do Rei Khafra (2520-2494 a.C). Contudo, houve claramente uma veneração de deusas-vacas no Egito pré-dinástico (5500- 3100 a.C) como a deusa Bat que foi associada a Háthor posteriormente. Háthor era uma deusa muito popular na antiguidade egípcia. Por esse motivo era venerada em várias regiões do Egito, seu templo foi construído em Dendera, uma cidade localizada na margem ocidental do rio Nilo. Na mitologia egípcia Háthor possui várias faces, sua natureza é benigna, mas essa deusa possui um prisma relacionado a destruição e fúria. Háthor é filha do deus sol Rá, e a mitologia retrata a deusa como a vingadora de seu pai quando os homens se voltam contra ele, dentre suas várias manifestações, nesse momento se torna a deusa Sekhmet, um deusa leoa patrona de batalhas e da guerra. Em algumas partes a mitologia conta que Háthor carregou Hórus em seu ventre, portanto ela é considerada a mãe simbólica e divina do faraó, representante de Hórus na Terra. Essa relação materna da deusa com o governante do Egito, está retratada na estátua de Amenhotep II (1424-1398 a.C) – atuamente no Museu do Cairo – nesse artefato a deusa está amamentando o próprio faráo em seu colo. Em algumas versões mitológicas mais antigas Háthor era venerada como a deusa que deu a luz e amamentou todos os outros deuses, por isso a deusa é muitas vezes representada e associada à Isis, a deusa da maternidade. As Sete Háthors* são os sete aspectos da deusa, essas em específico são mais ligadas a fertilidade e capazes de prever o futuro de um recém nascido. Na iconografia que ilustra passagens do livro dos mortos na tumba da rainha Nefertari (1292- 1186 a.C), Háthor é representada através das sete vacas cujo papel é determinar o destino de uma criança ao nascer. Em muitas versões entre os diversos mitos presentes na religião egípcia, a deusa é a paredra do deus Hórus, ou seja, sua esposa e consorte. Tendo em vista a quantidade de faces que essa deusa possuia dentro da religiosidade egípcia, fica claro que ela tinha muitos atributos. Entre eles se destacam o amor, a beleza, a sexualidade, a dança e a alegria. Háthor era uma deusa muito ligada a festividades, pois os mitos contam que na ânsia de vingar seu pai ela promoveu uma carnificina entre os homens, e para apaziguar sua fúria, Rá a embebedou com sete mil jarros de cerveja, uma vez embriagada a deusa era associada a festas. Ela também é a deusa do amor, os gregos imediatamente associaram Háthor à Afrodite e os romanos a sua Vênus, rituais mágicos e poemas de amor são encontrados em nome da deusa em paredes de tumbas e templos. A beleza e a sensualidade eram princípios dessa deusa, mulheres utilizavam espelhos de bronze polido adornados com capiteis ou estátuas da deusa. Peles de pantera e incenso de ébano, joias de ouro, bronze e turquesa eram seus elementos. A música era um componente importante nas celebrações de adoração a deusa Háthor, seus instrumentos rituais o sistrum, “sesheshet” em egípcio, um chocalho de bronze com capetéis hathóricos, e o menat, um colar espesso de contas com um contrapeso longo de ouro ou bronze, emitiam sons atribuidos a essa divindade. Na arquitetura, os capitéis hathóricos eram construídos acima de grandes pilares de templos para representar a suntuosa deusa. Por fim, Háthor era uma divindade com um culto acessível no Egito antigo, entre as diversas representações do feminino na religião egípcia, Háthor simbolizava o comportamento feminino, em especial a relação das mulheres egípcias com o corpo e o amor. *Sete denominações e aspectos da deusa adorados por seus sacerdotes e sacerdotisas. Cada sacerdote (a) só poderia cultuar um aspecto. As denominações variam de acordo com a cidade e com os cultos locais de cada região, pois poderia ser inserido um deus local da cidade entre as sete. Por: Jéssica Franco Referências: NOBLECOURT, Christiane Desroches. A mulher no tempo dos faraós. Campinas, Papirus, 1994. REMLER, Pat. Egyptian Mythology A to Z. 3ª edition Publisher, Chelsea House, 2010. HART, George. The Routledge Dictionary Of Egyptian Gods And Goddesses. 2ª edition Publisher, Taylor & Francis Group, 2005. Site: www.seshat.com.br

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O deus egípcio Bes

O nome pelo qual é chamado, ‘Bes’, originário da palavra ‘besa’, que significa ‘proteger’ era designado para representar uma variação de dez deuses que tinham muitas características semelhantes – Aha, Amam, Bes, Hayet, Ihty, Mefdjet, Menew, Segeb, Sopdu e Tetetenu. Suas origens datam do Reino Antigo, onde o deus Aha seria seu ancestral. Existe a hipótese de que seja originário da região onde atualmente se encontra a Turquia, uma vez que imagens do mesmo foram encontradas em escavações em território turco. Bem como acredita-se também de que seja originário da África subsaariana, pois um dos títulos que lhe é agregado, “Senhor de Punt”, denomina uma antiga terra pertencente à região. Inclusive, a coroa emplumada que Bes utiliza é muito semelhante com a coroa da deusa Anuket, originária das fronteiras sulistas do Egito. Há várias maneiras de ser representado, sendo muitas vezes de forma pitoresca, sendo um anão, de corpo peludo e nu ou envolvido em uma pele felina e também vestindo o saiote kilt. Rosto largo, barbudo, dotado de características felinas, muitas vezes projetando sua língua para fora da boca, pernas tortas e flexionadas. Em algumas representações aparece com as mãos apoiadas à cintura, em outras, empunha uma espécie de espada em uma delas e, ainda, a estrangular uma serpente. Também pode aparecer com o sinal ‘sa’, que significa proteção. Há casos em que é mostrado batucando um pandeiro. Sua forma de ser representado também se diferencia muito de os outros deuses egípcios, pois Bes muitas vezes é mostrado de frente e poucas vezes de perfil, como a maioria dos demais deuses egípcios, dando a sua representação uma maior impressão de movimento. Apesar da aparência grotesca em que muitas vezes é representado, Bes é dotado de uma índole benéfica, onde uma das suas principais funções era salvaguardar as gestantes, inclusive, o mesmo faz parte do grupo seleto de sete deuses do parto junto às deusas Hathor, Heket, Meskhenet, Isis, Nekbet e Tauret. Várias representações do deus são encontradas nas casas ‘mammisi’, típicas do período romano, onde eram locais sagrados para a realização do parto. Era também protetor principalmente das crianças, onde através de sua ‘feiura’, afastava maus espíritos e também ameaças peçonhentas como escorpiões e serpentes. Guardião do bom sono, prospector de fertilidade e de boa sorte, amuletos e representações eram encontrados nas paredes de casas de artesãos que trabalhavam na construção de tumbas da região de Deir el-Medina. Era o deus também das festas, sendo relacionado a dança e também a música, onde é encontrado em móveis do túmulo da rainha Tiye (XVIII Dinastia), onde Bes é representado tocando um pandeiro, exemplo encontrado também nas paredes do santuário da deusa Hathor, na ilha de Philae. Apesar da sua grande popularidade, nunca foi encontrado um templo dedicado especificamente a sua veneração. Restando somente uma vasta coleção de amuletos e pingentes, bem como pequenas estatuetas, representações em vários objetos, como potes cosméticos, máscaras, além de suas representações nas casas ‘mammisi’, e nas paredes de casas, tumbas e templos. Jean Carlo Pelanda

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Seshat

Seu nome, Seshat, quer dizer ““*a escriba” , pois sesh significa escriba e o sufixo et (ou at) indica o gênero feminino. Outro nome atribuído à deusa é Sefkhet-Abwy, referente aos emblemas característicos colocados sobre a cabeça da deusa. Ela também pode ser chamada de a primeira de per-medjat “a casa dos livros”, a primeira de per-ankh “casa da vida”, biblioteca do templo, senhora da escrita, dos anos, dos construtores ou weret-hekau, que significa “a grande da magia” – título dado também a outras deusas. Seshat geralmente é representada vestida com pele de leopardo, uma veste que simboliza o ofício sacerdotal. O adorno sobre sua cabeça consiste em uma flor de sete pétalas ou estrela de sete pontas – a interpretação desses aspectos é variada -, contornada por um objeto que pode ser um par de chifres invertido ou duas serpentes. O símbolo que há sobre sua cabeça se pronuncia [ s’sh’t ] e é o hieróglifo da deusa. Normalmente, ela aparece segurando um instrumento para marcar a passagem do tempo e seus eventos, além do tempo previsto para o Faraó na sua jornada terrena, bem como instrumentos específicos da atividade de escriba – como o filete de junco utilizado para escrever e a paleta. Em dados momentos, a deusa Seshat é identificada com aspectos semelhantes aos da deusa Néftis e ocasionalmente também pode ser associada à deusa Háthor. As primeiras aparições da deusa na mitologia egípcia datam ainda do Reino Antigo (a partir de 2920 a.C.), pois há indícios do culto à Seshat na Segunda Dinastia (2770 a.C. – 2649 a.C.). Não se tem conhecimento de nenhum templo dedicado exclusivamente à deusa, mas ela é sempre referenciada como a patrona da construção dos edifícios sagrados e é representada no interior de diversos templos, como os de Abydos, Edfu, Dendera, Karnak e Luxor. Também é possível encontrar representações suas nas paredes do templo de Abu Simbel, assim como no templo do deus Toth, em Hermópolis ou Khemenu. O culto à deusa prolongou-se até as épocas tardias na cidade de Alexandria, onde foi construída a famosa biblioteca de mesmo nome, visto que Seshat é a deusa da sabedoria e protetora das bibliotecas. Na mitologia egípcia, Seshat ocupa um papel que a coloca como a deusa das escrituras e dos projetos arquitetônicos, padroeira também da astronomia e matemática pois era a deusa que media e registrava o mundo. Seshat é a páredra do deus Toth, ou seja, uma contraparte feminina do deus da sabedoria e do conhecimento. Ela e Toth fixavam a duração do reinado de um rei gravando seu nome sobre as folhas da árvore ished em Heliópolis. Como deusa da escrita, Seshat era a guardiã dos registros reais e das genealogias. Ela também é mostrada fazendo a gravação do espólio adquirido pelos reis nas batalhas, talvez como um lembrete de que uma parte é devida aos deuses. Logo a partir da Segunda Dinastia, ela foi mostrada ajudando os reis a colocar as bases para construção dos templos e a alinhá-los com as estrelas e planetas. Em alguns textos dos sarcófagos, Toth e Seshat “trazem escritos para um homem no reino dos mortos”. Estes escritos eram os feitiços que poderiam ajudar a pessoa morta a vencer os terrores do submundo e tornar-se um espírito poderoso. Infelizmente, pela escassez de registros sobre essa deusa, Seshat não é tão conhecida atualmente como as deusas Ísis, Bastet ou Maat. Contudo, pelos vários significados atribuídos à deusa, percebemos que Seshat tinha valor e notoriedade para os egípcios antigos, visto que foi reverenciada até os períodos mais tardios da civilização faraônica. *Por mais que Seshat seja a senhora da escrita e carregue os instrumentos de um escriba, a deusa não é representada escrevendo e não é recorrente nas fontes que mulheres exercessem o papel de escribas na sociedade egípcia. Por: Jéssica Cabral Referências: Seshat. Dieux et Déesses de l’Ancienne Égypte. Disponível em: . L. C. F. (org.). A comprehensive list of Gods and Goddessesof Ancient Egypt. p. 276. Disponível em: PINCH, Geraldine. Handbook of Egyptian Mythology. ABC-CLIO, 2002. p. 190-192. WAINWRIGHT, G. A. Seshat and the Pharaoh. Journal of Egyptian Archaeology. n.26. 1940. p.30–40.

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Maat: princípios regentes do Egito faraônico

  Por: Shara Lorena Gritten Mello A deusa Maat era representada pelos egípcios com a aparência de uma jovem mulher com uma pena de avestruz em sua cabeça. A origem da deusa é incerta, provavelmente tenha surgido nos períodos mais remotos da história egípcia, durante o Pré-Dinástico (c. 5000 – 3000 a.C.). Segundo a mitologia egípcia, Maat era filha de Rá (o deus do sol) e esposa do deus Thot (deus da escrita e sabedoria). Para os antigos egípcios, essa divindade simbolizava a justiça e a verdade. Em sua balança, o coração do morto era pesado perante o tribunal do deus Osíris, revelando assim as infrações do morto a uma de suas 42 regras. Se o coração, que representava a consciência – ou era onde ela estava guardada – fosse mais leve que a pena da deusa, o morto passaria ao paraíso de Osíris. Porém, se o coração fosse mais pesado que a pena, Ammit, que era uma deusa representada por animais perigosos da África como o crocodilo, o leão e o hipopótamo, devoraria o coração e o morto desapareceria para sempre. O simbolismo da deusa também estava associado a realeza egípcia e seus princípios deveriam ser “respeitados” pelos faraós. Cultos diários deveriam ser realizados para Maat. Neste caso, ela também era considerada a regente do cosmos e, novamente, vista pelos egípcios como a deusa do equilíbrio e da ordem. Os egípcios acreditavam que se Maat não estivesse satisfeita com os cultos realizados pelos faraós e sacerdotes, um desiquilíbrio poderia ocorrer. Por exemplo, a cheia do rio Nilo não aconteceria e a população passaria fome. Seus centros de culto, normalmente, eram dentro de outros templos maiores como, por exemplo, os dedicados as deusas Háthor e Isis. O faraó Amenhotep III (1391-1353 a.C.) mandou construir um templo para a deusa em Karnak e há outros também que estão localizados em Mênfis e Deir el-Medina. Podemos perceber que a deusa era muito importante para os egípcios, cultuada tanto na vida quanto na morte. Sem a ordem, sobraria para os egípcios apenas o caos. A sociedade egípcia antiga baseou suas leis e muitos costumes na crença a esta deusa e seus princípios que chamavam de Maat. Deusa Maat representada alada – Cena presente na tumba da rainha Nefertari Faraó Seti I oferecendo Maat a Amon-Rá – Templo de Seti I em Abydos Julgamento do morto na balança de Maat – Papiro de Ani – Museu Britânico

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Deusa Ísis, a Grande Senhora da Magia

Thays da Silva – Monitora do Museu Egípcio Conhecida como deusa da magia, exemplo de mãe e esposa ideal, protetora do lar e das crianças, a deusa Ísis foi adorada em diversos períodos da história egípcia antiga. Com templos em locais como Quft, Behbeitel-Hagar e Ilha de Philae, sendo o último o mais conhecido, Ísis é uma das deusas mais populares da cultura egípcia. Referências a ela podem ser encontradas em diversos mitos, sendo os mais conhecidos o mito da “Criação do Mundo”, da cidade de Heliópolis, e o mito de “Isis e Rá”. Ísis seria parte do panteão principal do mito da cidade de Heliópolis, formado por nove deuses. Segundo esse mito, essa divindade teria se casado com seu irmão, o deus Osíris, deus relacionado ao mundo dos mortos e à ideia de vida após a morte. Os dois formaram, segundo a crença egípcia, o primeiro casal real. Ísis também foi a mãe do deus Hórus, divindade relacionada ao poder dos faraós. No mito de Ísis e Rá, essa deusa teve o intuito de descobrir o nome verdadeiro do deus, e assim desejava obter domínio sobre seu poder. Para isso, teria feito com que uma serpente envenenasse esse deus e, em troca de sua cura, Rá teria que lhe dizer seu verdadeiro nome. Depois, com o poder adquirido por Ísis a partir desse conhecimento, essa divindade restabeleceu as forças do deus. Esse mito é muitas vezes associado a um importante aspecto da figura de Ísis, que consiste em sua relação com a magia. Ísis é representada como uma mulher com um trono sobre sua cabeça e, como personificação desse objeto, a deusa foi uma representação importante do poder faraônico, da mesma forma que a própria figura do faraó foi associada a seu filho, o deus Hórus. Um amuleto egípcio chamado “Tyet”, comumente conhecido como “Nó de Ísis” também é relacionado a essa divindade. Esse item teria formato similar ao “Ankh”, amuleto que, para os antigos egípcios, representava a vida. No entanto, o “Tyet” teria as extremidades laterais curvadas para baixo. Segundo a crença dos antigos egípcios, esse amuleto garantiria a proteção daqueles que o utilizassem. Ísis teve inúmeros títulos ao longo de toda a história da civilização egípcia antiga, como “Rainha do Céu”, “Mãe dos Deuses”, “A mais brilhante no firmamento”, “Grande Senhora da Magia”, “Senhora das Palavras de Poder”, entre outros. Após a conquista do Egito por Alexandre, O Grande, o culto a essa divindade estendeu-se à civilização greco-romana. Templo dedicado à deusa Ísis – Ilha de Philae Ísis protegendo Osíris – XXVI Dinastia – Museu Britânico Amuleto Tyet (Nó de Ísis) – 1250-1100 a.C. – Museu Britânico Ísis e Hórus – Período Ptolomaico – Museu Metropolitano de Arte de Nova York

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Estelas funerárias da cidade de Abydos

  A antiga cidade-necrópole de Abdju, mais conhecida pelo nome grego de Abydos, esta localizada no Alto Egito Setentrional a aproximadamente 150 quilômetros da atual cidade de Luxor. Abydos era a capital da oitava província administrativa chamada Ta-ur, ou “terra mais antiga”, e foi um importante centro religioso relacionado ao culto aos mortos no Egito faraônico. As descobertas arqueológicas na região nos mostram que esta cidade esteve em constante atividade, desde o período Proto-dinástico (anterior a 3.000 a.C.). O culto a Osíris tornou-se tão popular no final do Reino Antigo, que esta divindade acabou absorvendo e incorporando atributos de dois deuses relacionados ao poder e a morte. É o caso da divindade real de Busíris, Anedjit, e da divindade da própria necrópole de Abydos, Kenthiamentiu, cujo nome significa “o que esta a frente dos ocidentais”, ou seja, o soberano do mundo dos mortos. Nesta cidade foram enterrados todos os faraós da I dinastia e dois da II dinastia. A tumba do faraó Djer era considerada pelos egípcios a própria tumba do deus Osíris, devido o faraó Khendjer, do Reino Médio, ter erigido uma estátua deste deus sobre o leito funerário de uma câmara na tumba de Djer. Consequentemente, milhares de pessoas todos os anos se reuniam na região com a finalidade de realizar oferendas ao “Senhor de Abydos”. A localização estratégica de Abydos permitia que as peregrinações viessem tanto do norte quanto do sul do Egito. O caráter popular dos festejos fazia com que muitas pessoas participassem com freqüência e durante a permanência na cidade muitos mandavam erigir Estelas Funerárias, na grande maioria, confeccionadas em materiais duráveis. Elas tinham o propósito de assegurar a perenidade de suas ideias sobre a vida e a morte, e, sobretudo representar a pessoa quando não pudesse mais participar das “procissões osirianas”. As estelas funerárias encontravam-se dispostas nos cenotáfios (monumento funerário simbólico edificado em clamor ao proprietário) ou em pequenas capelas. Quando associadas ao espaço sagrado em que poderiam estar depositadas, os antigos egípcios acreditavam que garantiriam proteção e víveres na outra vida. De maneira geral, eram retangulares e com topo arredondado ou no formato de “portas falsas”, tinham aspectos básicos como a representação do morto, algumas vezes de familiares ou servos, uma fórmula mágica e uma mesa de oferendas. A imagem seguia o padrão da escultura egípcia, geralmente gravadas em baixos relevos ou somente pintadas, apresentavam o morto sentado em bancos ou cadeiras de encosto baixo, o homem vestido com um saiote, as mulheres com uma túnica branca mostrando um dos seios, à sua frente eram desenhadas uma mesa de oferendas repleta de víveres dos quais são facilmente identificados pães, vasos de cerveja, partes de bovino e aves. Os textos presentes quase sempre começam com a “formula de oferendas”, ou seja, uma inscrição dotada de simbologias que iria garantir o fornecimento de alimento para o morto. Após estas inscrições, pode ser identificado o título do proprietário, que nada mais é a sua profissão. Estes objetos compunham parte do aparato funerário egípcio e eram bastante comuns. Muitas Estelas Funerárias chegaram aos nossos dias e são utilizadas pelos historiadores de diversas maneiras. Suas inscrições revelam informações sobre a sociedade em que viviam e ajudam a recuperar partes importantes da vida no Egito Antigo. Jeferson Fernando Nabosni

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Um Lugar para os justos: concepção de vida além-túmulo dos Antigos Egípcios

  Por Shara Lorena Gritten Mello No Egito Antigo sempre houve uma preocupação com a vida além-túmulo, muitas concepções foram construídas ao longo de três mil anos de história. Na crença egípcia acreditava-se que o ser humano era dividido em partes físicas e não físicas, no momento da morte elas se separavam e voltariam a se reunir no outro mundo. As partes físicas eram: O corpo físico (Ket), a sombra (Shut), o nome (Ren) e o coração (Ib).As partes não físicas: A força vital (Ka), princípio da mobilidade (Ba) e o princípio da imortalidade (Akh). Uma dasconcepções de vida após a morte bastante presente no contexto funerário dos faraós dizia que após a morte,o defunto se juntaria ao deus Rá em sua barca, ajudando-o a vencer a serpente Apep a qual enfrentaria todas as noites. Com a vitória, o sol poderia renascer em um novo dia. Com as dinastias do Reino Médio (2050-1750 a.C.) as práticas funerárias se popularizaram e a mumificação tornou-se acessível a todas as pessoas. A concepção mais aceita pelos antigos egípcios, a partir desse momento, foi a de uma vida eterna no Paraíso Agrário do deus Osíris, que foi um deus cultuado desde as primeiras dinastias do Egito Antigo, primeiramente foi adotado como deus da vegetação. Sua missão na terra, juntamente com sua esposa e irmã, a deusa Isis, era ensinar a agricultura, as leis, as confecções de objetos e a religião para os egípcios. Osíris se tornou um deus adorado por todo o Egito, seu irmão Seth era muito invejoso e queria tomar o seu trono. Seth elaborou um plano, mandando construir uma arca com as medidas exatas de seu irmão. Em uma festa, Seth ofereceu a arca como presente para quem pudesse entrar nela. Vários deuses tentaram e nenhum se encaixou. Quando Osíris entrou na arca coube perfeitamente, então Seth prendeu-o lacrando a arca com chumbo. Logo após, o deus é lançando ao rio Nilo, morrendo afogado. Isis utilizando-se de magia recupera o corpo de seu marido e retorna para o Egito, com medo ela o esconde, porém Seth encontra-o. Tomado pelo ódio, Seth corta o corpo do irmão em 14 partes e as espalha pelo Egito. Isis recupera essas partes com a ajuda de outros deuses, como Anúbis. Eles então mumificam Osíris que renasce tornando-se juiz da Sala das Duas Verdades. A morte não era o fim para os antigos egípcios.O maior medo era se tornar um morto para sempre. Isso aconteceria quando o egípcio não era justo em vida e infringisse uma das 42 regras de Maat. Para assegurar que o defunto se juntaria a Osíris, ele deveria passar por um julgamento que aconteceria na Sala das Duas Verdades. O morto seria guiado pelo deus Anúbis, que através da magia, o coração (Ib) seria retirado para a pesagem. O coração era uma das partes mais importantes para o egípcio, pois era a consciência. De um lado da balança seria depositado o coração e do outro estaria a pena de Maat (símbolo da verdade e da justiça). A sentença era dada e os resultados eram anotados pelo deus Toth. Se fosse positivo, o morto se juntaria ao deus Osíris e viveria eternamente nos campos de Aaru (Paraíso Agrário). Se negativo, o coração do defunto seria devorado pela deusa Âmit, divindade com corpo de leão, pernas de hipopótamo e cabeça de crocodilo. Assim, o morto desapareceria, pois para os egípcios eram necessária todas as partes para renascer no outro mundo. Por esse motivo, muitos amuletos e fórmulas mágicas foram produzidos para assegurar que o coração não se virasse contra seu dono, garantindo a boa passagem do morto para o além. Amuleto do Coração – Museu Metropolitano de Arte – Dinastia 18–19 (ca. 1550–1186 b.c.) Escaravelho do coração – Museu Britanico – Dinastia 17 – Rei Sobekemsaf Estatua de bronze Osíris – Museu Louvre Papiro Hunefer – Museu Brtitânico – Exemplar do livro dos mortos – julgamento tribunal de Osíris Isis com seu filho Hórus – Estatua Museu do Louvre

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Divindades egípcias – o deus Amon

  Por: Ewerson Thiago da Silva Dubiela Entre as diversas divindades cultuadas no Egito Antigo, concebidas na forma animal ou humana, havia um deus em especial que não tinha a propriedade ou a representação declarada como a de outros deuses, apesar de suas estátuas e baixos-relevos o representarem na forma humana. Este era Amon, deus muito antigo, tão mais quanto Rá, a divindade que havia criado o mundo. Assim, sua existência antecede a criação como foi concebida pelos egípcios. Ele fazia parte da Ogdoada, ou seja, um conjunto de deuses misturados e imersos em um oceano caótico. A Ogdoada era formada pelos seguintes seres divinos: Num e Naunet, Ket e Keket, Amon e Amonet e Hehu e Hehet. Respectivamente, tratam-se das propriedades do Oceano caótico ou líquido inerte, do Escuro, do Invisível ou Oculto e do Espaço Infinito. A Ogdoada pode ser remontada a partir do mito da cidade de Hermópolis e depois, completada, para a nossa compreensão, pelo mito de outra cidade, Heliópolis. O mito da cidade de Heliópolis conta que Atum surgira a partir de um monte criado do Num, o Oceano caótico, e então deu início à criação de outras divindades que hoje conhecemos como Shu e Tefnut, Geb e Nut, Osíris e Isis e, por último, Seth e Néftis. As quatro primeiras figuras são as representações do Ar, da Umidade, da Terra e do Céu. Os últimos são os deuses que davam a legitimidade para a família faraônica conforme nos conta a passagem “As contendas de Hórus e Seth” – Hórus sendo filho de Osíris e Isis, e Seth sendo o deus invejoso.A questão levantada remonta ao episódio anterior à criação, Amon era a propriedade Invisível ou Oculta. Até o final do Primeiro Período Intermediário este deus não era tão conhecido, sendo apenas uma divindade local, de um vilarejo distante da capital Mênfis, quase 650 Km ao sul, em Waset (Tebas), a atual Luxor. Amon tinha vantagens sobre outros deuses, enquanto a maioria poderia apenas ser adorada dentro do próprio Egito, Amon, sendo invisível, podia acompanhar o exército e o faraó para fora do país, era uma divindade imperial. Mas por que o culto cresceu? O motivo pode ter sido político, uma vez que Mênfis já não representava no período a força dos governantes, Tebas tomou a frente da situação para reunificar. Durante o Reino Médio Amon dividia poder, fama e dinheiro com outros dois deuses, Sobek e Montu. Mas, quando veio a invasão de um povo chamado HeqaKhasut, ou os Hicsos, apenas Amon conseguiu manter o culto de forma crescente em detrimento das outras duas divindades. No final do Segundo Período Intermediário, os egípcios, a partir novamente de Tebas e de seu deus patrono, Amon, iniciariam uma política de expansão ou de retomada de territórios, começada ainda na época do faraó Seqenenre Tao II, da XVII Dinastia. Uma batalha que se estenderia pelos reinados de Kamosé e do primeiro rei da XVIII Dinastia, Amósis I. A partir de então, os faraós priorizaram o culto a Amon, mesmo assim, Rá não poderia ser esquecido. Na religiosidade egípcia, Rá era o deus que a tudo criara, ele era o Sol, chamado de Khepri pela manhã, Rá ao meio dia e Atum ao entardecer. A majestade de Rá seria unida com o invisível e imperial de Amon, surgiria uma nova divindade, o rei dos deuses, Amon-Rá. Possuía um clero extremamente forte e rico, inclusive a rainha fazia os cultos à divindade como “Esposa do deus”, deveria acordá-lo todas as manhãs para realizar oferendas e assim, sempre recriar o mundo. Inclusive a rainha Hatshepsut se utilizou de maquinações políticas sobre Amon-Rá para tornar-se faraó, criando uma mitologia na qual dizia que o deus havia se disfarçado como seu pai, o rei Tutmés I, e assim se encontrado com sua mãe, Amósis, em seu leito. Essa história foi colocada nos relevos do templo de Deirel-Bahari, além de outras obras que a legitimavam no poder, chamando o deus de “seu pai”, como nos obeliscos de Karnak. Mais tarde, o faraó Tutmés III, aproveitando-se de um oráculo, dizia que Amon o havia escolhido pessoalmente, colocando sua estátua à sua frente quando era apenas um menino. Este faraó conseguiu conquistar a maior extensão territorial do Egito, da Quinta Catarata do Nilo, na Núbia, até a borda do rio Eufrates, no Iraque. Assim, Amon-Rá era ao mesmo tempo a majestade de Rá atrelado ao poder invisível de Amon o que o tornou uma das divindades egípcias mais conhecidas até os dias de hoje. Amon-Rá – XX Dinastia – MET Museum Amon-Rá com a faraó Hatshepsut – XVIII Dinastia – Templo de Karnak

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Adoração ao Sol

A religião desempenhou um papel fundamental na história da civilização egípcia antiga, havendo interferido em todas as áreas da sociedade. Nesse sentido, a adoração aos deuses nos quais os egípcios acreditavam fazia-se essencial, de forma a manter seus pedidos e agradecimentos pelo que as divindades haviam feito pelos homens. Uma das divindades mais importantes e mais lembradas do panteão egípcio é o deus Rá, também chamado de Rá-Harakhti. Considerado o deus-Sol, Rá era representado por corpo de homem, cabeça de falcão e um disco solar sobre a cabeça. Além disso, Rá era associado à realeza. Seu principal centro de culto era a cidade de Iunu, localizada ao norte do Egito e chamada pelos gregos de Heliópolis. Segundo a crença egípcia, essa foi a cidade onde Rá viveu e de onde governou o Egito antes do surgimento das dinastias históricas. Por esse motivo, os faraós eram considerados seus descendentes. Por conta do desenvolvimento agrícola ocorrido no território egípcio, os moradores locais deram ao Sol e, consequentemente, ao deus Rá, a supremacia, uma vez que passaram a reconhecer a luz solar como elemento fundamental para a produção de alimentos. Durante toda a história da civilização egípcia antiga existiram vários mitos que explicavam como havia ocorrido a criação do mundo e de tudo o que nele existe. Nesse sentido, um dos mitos mais conhecidos é o da cidade de Heliópolis. No mito de Heliópolis, Rá era visto como a divindade criadora que havia surgido das águas caóticas sobre um monte de terra e teria originado um casal de deuses, Shu e Tefnut que, por sua vez, deram origem à Geb e Nut, deuses da terra e do céu, respectivamente. Estes dois deuses teriam criado outras quatro divindades: Osíris, Ísis, Néftis e Seth. As nove divindades acima citadas formavam a enéade de Heliópolis. Para os egípcios, deus Rá nascia a cada manhã, cruzava o céu na barca solar, durante a noite viajava pelo mundo subterrâneo e lutava contra a serpente Apófis, personificação do mal, e a vencia todas as noites, de forma a permitir que outro dia surgisse. Além disso, os egípcios acreditavam que o deus-Sol possuía várias formas ao longo do dia: ao amanhecer era Kepri, uma divindade relacionada ao escaravelho, ao meio-dia era Rá propriamente dito e ao entardecer era Atum, um deus com forma humana que portava a coroa do Alto e Baixo Egito sobre sua cabeça. O ciclo solar assumiu grande importância na história da civilização egípcia antiga por haver originado diversas concepções mitológicas, como a da “destruição da humanidade” e a de “Ísis e Rá”, que têm como fato principal o envelhecimento do sol. De acordo com o mito da destruição da humanidade, Rá teria enviado à terra uma deusa vingativa chamada Sekhmet, representada como uma mulher com cabeça de leoa, para que punisse a humanidade por conta das atitudes negativas dos homens. No entanto, a raiva de Sekhmet teria tornado-se incontrolável, o que fez com que a deusa matasse pessoas inocentes. Para evitar que toda a humanidade fosse destruída por Sekhmet, Rá tingiu de vermelho vários barris de cerveja e deixou em locais onde a deusa poderia encontrá-los. Assim, ao acordar com sede e tomar o líquido pensando ser sangue humano, Sekhmet teria ficado embriagada, esquecendo-se de sua grande raiva e, dessa forma, deus Rá teria livrado a humanidade da destruição. Ao longo de toda a história da civilização egípcia, deus Rá fora relacionado a outros deuses, sobretudo a partir da V Dinastia. Entre os deuses aos quais o deus-Sol fora associado destacam-se Kepri, Atum, Amon e Hórus. Uma das associações mais conhecidas é a de Amon-Rá, quando os faraós do Novo Império o relacionaram com a principal divindade da cidade que havia se tornado a capital do Egito durante esse período. Thays da Silva

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O crocodilo como divindade no Egito Antigo

  Por Ewerson Dubiela Para os antigos egípcios tudo o que existia era fruto dos deuses. Sua fauna, sua flora e até mesmo as pessoas foram criadas e eram regidas pelas divindades. Cada deus representava uma condição da natureza. Vamos abordar um deus em específico, que não diferente de outros deuses egípcios, era representado como um ser antropozoomórfico (forma humana e animal) ou zoomórfico (apenas na forma animal). Primeiro, precisamos entender que para aquela população, os deuses viviam na Terra, no mesmo cenário que os homens. Os templos eram construídos para o culto aos deuses, eram as moradas divinas. Dentro deles havia estátuas que eram veneradas e todos os dias eram lavadas e perfumadas, vestidas e alimentadas, pois se acreditava que o Bá do deus, ou o que entendemos por alma, ali encarnaria e, portanto, precisaria de cuidados. A mesma ideia ocorria com o animal que era associado ao deus. Assim era com Sobek, o deus crocodilo, adorado principalmente nos templos do Fayum e de Kom-Ombo. Esta divindade era relacionada à violência, sexualidade e instabilidade da personalidade, portanto, propenso aos desejos mais primordiais. O seu nome, Sbk, apesar da grande discussão no meio acadêmico para seu significado, acredita-se estar relacionado ao verbo “Impregnar” devido à fertilidade do animal. No Reino Antigo, Sobek era chamado, em textos religiosos, de “O Raivoso”, posteriormente, durante o Reino Médio, foi associado ao poder faraônico por conta de sua habilidade em agarrar sua presa subitamente e destruí-la de forma única.[1] Como veremos no próximo parágrafo, esta é uma condição natural do animal que, pela interpretação dos antigos egípcios, se comparava ao faraó arrebatando e destruindo seus inimigos da mesma forma. A espécie Crocodylus Niloticus pode medir quase cinco metros de comprimento, atingindo em terra 14 km/h e, 30 km/h na água. Alimenta-se, quando adulto, de grandes animais que consegue capturar com seu poderoso ataque, não matando de imediato, mas levando a captura para a água, aonde deixa esta afogar-se e espera até que a carne amoleça. Para arrancar a carne, utiliza a sua mandíbula para girar na água, fazendo o “giro da morte”. Tente agora imaginar que este mesmo espécime, adulto, também poderia viver dentro de um templo, movimentando-se livremente pelo espaço, porém, todo enfeitado! E não obstante, ainda se tinham criadouros destes gigantescos e perigosos animais dentro do próprio templo. Os gregos Heródoto e Estrabão visitaram o Egito e relataram tais cuidados com os crocodilos, o primeiro escreveu: Parte dos egípcios (…) que habitam as vizinhanças de Tebas e do lago Moéris têm pelos referidos anfíbios muita veneração. Escolhem sempre um para criar e domesticar. Enfeitam-no com objetos de ouro ou com pedras falsas e colocam pequenas correntes ou braceletes em suas patas dianteiras. Nutrem-no com a carne das vítimas e lhe dão outros alimentos apropriados. Enquanto ele vive, cercam-no de cuidados; quando morre, embalsamam-no e depositam-no numa urna sagrada.[2] Como na estátua, o animal também possuiria o Bá do deus, e por isso era mantido e adorado, não existem registros de sacrifícios humanos para a divindade, apesar de saber-se da existência do ataque destes répteis durante o cotidiano nas bordas do rio. Nas artes, Sobek, era representado como um crocodilo por inteiro ou por um homem com cabeça de crocodilo com uma coroa em formato de plumas. Porém, existem outros deuses que tinham representações associadas ao animal, como as deusas Taueret e Âmit. Por que estas duas deusas também eram associadas ao crocodilo? Se observarmos como a mamãe crocodilo trata seus filhotes, conseguiremos identificar uma criatura extremamente gentil, assim como o papai crocodilo, que fica por um tempo protegendo sua ninhada junto com a fêmea. Talvez por isso, os egípcios tenham assimilado a deusa Taueret com este animal. Ela era relacionada ao nascimento, representada como uma mulher grávida, com cabeça e pernas de hipopótamo e costas e cauda de crocodilo. Quanto à Âmit, o Livro dos Mortos nos mostra que era um animal sagrado, que devoraria as almas daqueles que não tivessem seguido os princípios dos deuses em vida. Ela é representada por três animais, a cabeça de crocodilo, o corpo de um leão e as pernas de um hipopótamo. Vejamos que são três animais que atacavam os humanos e trazem uma ideia de terror. O fato é que, o poderoso réptil, bem como outros animais, acabava sendo associado aos deuses, muitas vezes por suas atribuições naturais, que o povo nilótico julgava como manifestações divinas. [1] HART, George. The Routledge Dictionary of Egyptian Gods and Godesses.New York. USA. Taylor & Francis Group. 2ªEd. 2005. [2] Heródoto, História: II, 229. Apud: Locks, Martha & Santos, Moacir Elias. Templos, Crocodilos e Múmias: Ex-votos de Sobek da coleção do Museu Nacional. In: Revista UNIANDRADE / Centro Universitário Campos de Andrade – v.6, n.1, 2005. Curitiba: UNIANDRADE, 2005. Alto Relevo no templo de Kom Ombo apresentando o deus Sobek. O crocodilo do Nilo Estatueta do deus Sobek. XII Dinastia. Museu Staatliches Ägyptischer Kunst – Munique

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