Deusa Ísis, a Grande Senhora da Magia

Thays da Silva – Monitora do Museu Egípcio Conhecida como deusa da magia, exemplo de mãe e esposa ideal, protetora do lar e das crianças, a deusa Ísis foi adorada em diversos períodos da história egípcia antiga. Com templos em locais como Quft, Behbeitel-Hagar e Ilha de Philae, sendo o último o mais conhecido, Ísis é uma das deusas mais populares da cultura egípcia. Referências a ela podem ser encontradas em diversos mitos, sendo os mais conhecidos o mito da “Criação do Mundo”, da cidade de Heliópolis, e o mito de “Isis e Rá”. Ísis seria parte do panteão principal do mito da cidade de Heliópolis, formado por nove deuses. Segundo esse mito, essa divindade teria se casado com seu irmão, o deus Osíris, deus relacionado ao mundo dos mortos e à ideia de vida após a morte. Os dois formaram, segundo a crença egípcia, o primeiro casal real. Ísis também foi a mãe do deus Hórus, divindade relacionada ao poder dos faraós. No mito de Ísis e Rá, essa deusa teve o intuito de descobrir o nome verdadeiro do deus, e assim desejava obter domínio sobre seu poder. Para isso, teria feito com que uma serpente envenenasse esse deus e, em troca de sua cura, Rá teria que lhe dizer seu verdadeiro nome. Depois, com o poder adquirido por Ísis a partir desse conhecimento, essa divindade restabeleceu as forças do deus. Esse mito é muitas vezes associado a um importante aspecto da figura de Ísis, que consiste em sua relação com a magia. Ísis é representada como uma mulher com um trono sobre sua cabeça e, como personificação desse objeto, a deusa foi uma representação importante do poder faraônico, da mesma forma que a própria figura do faraó foi associada a seu filho, o deus Hórus. Um amuleto egípcio chamado “Tyet”, comumente conhecido como “Nó de Ísis” também é relacionado a essa divindade. Esse item teria formato similar ao “Ankh”, amuleto que, para os antigos egípcios, representava a vida. No entanto, o “Tyet” teria as extremidades laterais curvadas para baixo. Segundo a crença dos antigos egípcios, esse amuleto garantiria a proteção daqueles que o utilizassem. Ísis teve inúmeros títulos ao longo de toda a história da civilização egípcia antiga, como “Rainha do Céu”, “Mãe dos Deuses”, “A mais brilhante no firmamento”, “Grande Senhora da Magia”, “Senhora das Palavras de Poder”, entre outros. Após a conquista do Egito por Alexandre, O Grande, o culto a essa divindade estendeu-se à civilização greco-romana. Templo dedicado à deusa Ísis – Ilha de Philae Ísis protegendo Osíris – XXVI Dinastia – Museu Britânico Amuleto Tyet (Nó de Ísis) – 1250-1100 a.C. – Museu Britânico Ísis e Hórus – Período Ptolomaico – Museu Metropolitano de Arte de Nova York

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Estelas funerárias da cidade de Abydos

  A antiga cidade-necrópole de Abdju, mais conhecida pelo nome grego de Abydos, esta localizada no Alto Egito Setentrional a aproximadamente 150 quilômetros da atual cidade de Luxor. Abydos era a capital da oitava província administrativa chamada Ta-ur, ou “terra mais antiga”, e foi um importante centro religioso relacionado ao culto aos mortos no Egito faraônico. As descobertas arqueológicas na região nos mostram que esta cidade esteve em constante atividade, desde o período Proto-dinástico (anterior a 3.000 a.C.). O culto a Osíris tornou-se tão popular no final do Reino Antigo, que esta divindade acabou absorvendo e incorporando atributos de dois deuses relacionados ao poder e a morte. É o caso da divindade real de Busíris, Anedjit, e da divindade da própria necrópole de Abydos, Kenthiamentiu, cujo nome significa “o que esta a frente dos ocidentais”, ou seja, o soberano do mundo dos mortos. Nesta cidade foram enterrados todos os faraós da I dinastia e dois da II dinastia. A tumba do faraó Djer era considerada pelos egípcios a própria tumba do deus Osíris, devido o faraó Khendjer, do Reino Médio, ter erigido uma estátua deste deus sobre o leito funerário de uma câmara na tumba de Djer. Consequentemente, milhares de pessoas todos os anos se reuniam na região com a finalidade de realizar oferendas ao “Senhor de Abydos”. A localização estratégica de Abydos permitia que as peregrinações viessem tanto do norte quanto do sul do Egito. O caráter popular dos festejos fazia com que muitas pessoas participassem com freqüência e durante a permanência na cidade muitos mandavam erigir Estelas Funerárias, na grande maioria, confeccionadas em materiais duráveis. Elas tinham o propósito de assegurar a perenidade de suas ideias sobre a vida e a morte, e, sobretudo representar a pessoa quando não pudesse mais participar das “procissões osirianas”. As estelas funerárias encontravam-se dispostas nos cenotáfios (monumento funerário simbólico edificado em clamor ao proprietário) ou em pequenas capelas. Quando associadas ao espaço sagrado em que poderiam estar depositadas, os antigos egípcios acreditavam que garantiriam proteção e víveres na outra vida. De maneira geral, eram retangulares e com topo arredondado ou no formato de “portas falsas”, tinham aspectos básicos como a representação do morto, algumas vezes de familiares ou servos, uma fórmula mágica e uma mesa de oferendas. A imagem seguia o padrão da escultura egípcia, geralmente gravadas em baixos relevos ou somente pintadas, apresentavam o morto sentado em bancos ou cadeiras de encosto baixo, o homem vestido com um saiote, as mulheres com uma túnica branca mostrando um dos seios, à sua frente eram desenhadas uma mesa de oferendas repleta de víveres dos quais são facilmente identificados pães, vasos de cerveja, partes de bovino e aves. Os textos presentes quase sempre começam com a “formula de oferendas”, ou seja, uma inscrição dotada de simbologias que iria garantir o fornecimento de alimento para o morto. Após estas inscrições, pode ser identificado o título do proprietário, que nada mais é a sua profissão. Estes objetos compunham parte do aparato funerário egípcio e eram bastante comuns. Muitas Estelas Funerárias chegaram aos nossos dias e são utilizadas pelos historiadores de diversas maneiras. Suas inscrições revelam informações sobre a sociedade em que viviam e ajudam a recuperar partes importantes da vida no Egito Antigo. Jeferson Fernando Nabosni

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Um Lugar para os justos: concepção de vida além-túmulo dos Antigos Egípcios

  Por Shara Lorena Gritten Mello No Egito Antigo sempre houve uma preocupação com a vida além-túmulo, muitas concepções foram construídas ao longo de três mil anos de história. Na crença egípcia acreditava-se que o ser humano era dividido em partes físicas e não físicas, no momento da morte elas se separavam e voltariam a se reunir no outro mundo. As partes físicas eram: O corpo físico (Ket), a sombra (Shut), o nome (Ren) e o coração (Ib).As partes não físicas: A força vital (Ka), princípio da mobilidade (Ba) e o princípio da imortalidade (Akh). Uma dasconcepções de vida após a morte bastante presente no contexto funerário dos faraós dizia que após a morte,o defunto se juntaria ao deus Rá em sua barca, ajudando-o a vencer a serpente Apep a qual enfrentaria todas as noites. Com a vitória, o sol poderia renascer em um novo dia. Com as dinastias do Reino Médio (2050-1750 a.C.) as práticas funerárias se popularizaram e a mumificação tornou-se acessível a todas as pessoas. A concepção mais aceita pelos antigos egípcios, a partir desse momento, foi a de uma vida eterna no Paraíso Agrário do deus Osíris, que foi um deus cultuado desde as primeiras dinastias do Egito Antigo, primeiramente foi adotado como deus da vegetação. Sua missão na terra, juntamente com sua esposa e irmã, a deusa Isis, era ensinar a agricultura, as leis, as confecções de objetos e a religião para os egípcios. Osíris se tornou um deus adorado por todo o Egito, seu irmão Seth era muito invejoso e queria tomar o seu trono. Seth elaborou um plano, mandando construir uma arca com as medidas exatas de seu irmão. Em uma festa, Seth ofereceu a arca como presente para quem pudesse entrar nela. Vários deuses tentaram e nenhum se encaixou. Quando Osíris entrou na arca coube perfeitamente, então Seth prendeu-o lacrando a arca com chumbo. Logo após, o deus é lançando ao rio Nilo, morrendo afogado. Isis utilizando-se de magia recupera o corpo de seu marido e retorna para o Egito, com medo ela o esconde, porém Seth encontra-o. Tomado pelo ódio, Seth corta o corpo do irmão em 14 partes e as espalha pelo Egito. Isis recupera essas partes com a ajuda de outros deuses, como Anúbis. Eles então mumificam Osíris que renasce tornando-se juiz da Sala das Duas Verdades. A morte não era o fim para os antigos egípcios.O maior medo era se tornar um morto para sempre. Isso aconteceria quando o egípcio não era justo em vida e infringisse uma das 42 regras de Maat. Para assegurar que o defunto se juntaria a Osíris, ele deveria passar por um julgamento que aconteceria na Sala das Duas Verdades. O morto seria guiado pelo deus Anúbis, que através da magia, o coração (Ib) seria retirado para a pesagem. O coração era uma das partes mais importantes para o egípcio, pois era a consciência. De um lado da balança seria depositado o coração e do outro estaria a pena de Maat (símbolo da verdade e da justiça). A sentença era dada e os resultados eram anotados pelo deus Toth. Se fosse positivo, o morto se juntaria ao deus Osíris e viveria eternamente nos campos de Aaru (Paraíso Agrário). Se negativo, o coração do defunto seria devorado pela deusa Âmit, divindade com corpo de leão, pernas de hipopótamo e cabeça de crocodilo. Assim, o morto desapareceria, pois para os egípcios eram necessária todas as partes para renascer no outro mundo. Por esse motivo, muitos amuletos e fórmulas mágicas foram produzidos para assegurar que o coração não se virasse contra seu dono, garantindo a boa passagem do morto para o além. Amuleto do Coração – Museu Metropolitano de Arte – Dinastia 18–19 (ca. 1550–1186 b.c.) Escaravelho do coração – Museu Britanico – Dinastia 17 – Rei Sobekemsaf Estatua de bronze Osíris – Museu Louvre Papiro Hunefer – Museu Brtitânico – Exemplar do livro dos mortos – julgamento tribunal de Osíris Isis com seu filho Hórus – Estatua Museu do Louvre

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Divindades egípcias – o deus Amon

  Por: Ewerson Thiago da Silva Dubiela Entre as diversas divindades cultuadas no Egito Antigo, concebidas na forma animal ou humana, havia um deus em especial que não tinha a propriedade ou a representação declarada como a de outros deuses, apesar de suas estátuas e baixos-relevos o representarem na forma humana. Este era Amon, deus muito antigo, tão mais quanto Rá, a divindade que havia criado o mundo. Assim, sua existência antecede a criação como foi concebida pelos egípcios. Ele fazia parte da Ogdoada, ou seja, um conjunto de deuses misturados e imersos em um oceano caótico. A Ogdoada era formada pelos seguintes seres divinos: Num e Naunet, Ket e Keket, Amon e Amonet e Hehu e Hehet. Respectivamente, tratam-se das propriedades do Oceano caótico ou líquido inerte, do Escuro, do Invisível ou Oculto e do Espaço Infinito. A Ogdoada pode ser remontada a partir do mito da cidade de Hermópolis e depois, completada, para a nossa compreensão, pelo mito de outra cidade, Heliópolis. O mito da cidade de Heliópolis conta que Atum surgira a partir de um monte criado do Num, o Oceano caótico, e então deu início à criação de outras divindades que hoje conhecemos como Shu e Tefnut, Geb e Nut, Osíris e Isis e, por último, Seth e Néftis. As quatro primeiras figuras são as representações do Ar, da Umidade, da Terra e do Céu. Os últimos são os deuses que davam a legitimidade para a família faraônica conforme nos conta a passagem “As contendas de Hórus e Seth” – Hórus sendo filho de Osíris e Isis, e Seth sendo o deus invejoso.A questão levantada remonta ao episódio anterior à criação, Amon era a propriedade Invisível ou Oculta. Até o final do Primeiro Período Intermediário este deus não era tão conhecido, sendo apenas uma divindade local, de um vilarejo distante da capital Mênfis, quase 650 Km ao sul, em Waset (Tebas), a atual Luxor. Amon tinha vantagens sobre outros deuses, enquanto a maioria poderia apenas ser adorada dentro do próprio Egito, Amon, sendo invisível, podia acompanhar o exército e o faraó para fora do país, era uma divindade imperial. Mas por que o culto cresceu? O motivo pode ter sido político, uma vez que Mênfis já não representava no período a força dos governantes, Tebas tomou a frente da situação para reunificar. Durante o Reino Médio Amon dividia poder, fama e dinheiro com outros dois deuses, Sobek e Montu. Mas, quando veio a invasão de um povo chamado HeqaKhasut, ou os Hicsos, apenas Amon conseguiu manter o culto de forma crescente em detrimento das outras duas divindades. No final do Segundo Período Intermediário, os egípcios, a partir novamente de Tebas e de seu deus patrono, Amon, iniciariam uma política de expansão ou de retomada de territórios, começada ainda na época do faraó Seqenenre Tao II, da XVII Dinastia. Uma batalha que se estenderia pelos reinados de Kamosé e do primeiro rei da XVIII Dinastia, Amósis I. A partir de então, os faraós priorizaram o culto a Amon, mesmo assim, Rá não poderia ser esquecido. Na religiosidade egípcia, Rá era o deus que a tudo criara, ele era o Sol, chamado de Khepri pela manhã, Rá ao meio dia e Atum ao entardecer. A majestade de Rá seria unida com o invisível e imperial de Amon, surgiria uma nova divindade, o rei dos deuses, Amon-Rá. Possuía um clero extremamente forte e rico, inclusive a rainha fazia os cultos à divindade como “Esposa do deus”, deveria acordá-lo todas as manhãs para realizar oferendas e assim, sempre recriar o mundo. Inclusive a rainha Hatshepsut se utilizou de maquinações políticas sobre Amon-Rá para tornar-se faraó, criando uma mitologia na qual dizia que o deus havia se disfarçado como seu pai, o rei Tutmés I, e assim se encontrado com sua mãe, Amósis, em seu leito. Essa história foi colocada nos relevos do templo de Deirel-Bahari, além de outras obras que a legitimavam no poder, chamando o deus de “seu pai”, como nos obeliscos de Karnak. Mais tarde, o faraó Tutmés III, aproveitando-se de um oráculo, dizia que Amon o havia escolhido pessoalmente, colocando sua estátua à sua frente quando era apenas um menino. Este faraó conseguiu conquistar a maior extensão territorial do Egito, da Quinta Catarata do Nilo, na Núbia, até a borda do rio Eufrates, no Iraque. Assim, Amon-Rá era ao mesmo tempo a majestade de Rá atrelado ao poder invisível de Amon o que o tornou uma das divindades egípcias mais conhecidas até os dias de hoje. Amon-Rá – XX Dinastia – MET Museum Amon-Rá com a faraó Hatshepsut – XVIII Dinastia – Templo de Karnak

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Adoração ao Sol

A religião desempenhou um papel fundamental na história da civilização egípcia antiga, havendo interferido em todas as áreas da sociedade. Nesse sentido, a adoração aos deuses nos quais os egípcios acreditavam fazia-se essencial, de forma a manter seus pedidos e agradecimentos pelo que as divindades haviam feito pelos homens. Uma das divindades mais importantes e mais lembradas do panteão egípcio é o deus Rá, também chamado de Rá-Harakhti. Considerado o deus-Sol, Rá era representado por corpo de homem, cabeça de falcão e um disco solar sobre a cabeça. Além disso, Rá era associado à realeza. Seu principal centro de culto era a cidade de Iunu, localizada ao norte do Egito e chamada pelos gregos de Heliópolis. Segundo a crença egípcia, essa foi a cidade onde Rá viveu e de onde governou o Egito antes do surgimento das dinastias históricas. Por esse motivo, os faraós eram considerados seus descendentes. Por conta do desenvolvimento agrícola ocorrido no território egípcio, os moradores locais deram ao Sol e, consequentemente, ao deus Rá, a supremacia, uma vez que passaram a reconhecer a luz solar como elemento fundamental para a produção de alimentos. Durante toda a história da civilização egípcia antiga existiram vários mitos que explicavam como havia ocorrido a criação do mundo e de tudo o que nele existe. Nesse sentido, um dos mitos mais conhecidos é o da cidade de Heliópolis. No mito de Heliópolis, Rá era visto como a divindade criadora que havia surgido das águas caóticas sobre um monte de terra e teria originado um casal de deuses, Shu e Tefnut que, por sua vez, deram origem à Geb e Nut, deuses da terra e do céu, respectivamente. Estes dois deuses teriam criado outras quatro divindades: Osíris, Ísis, Néftis e Seth. As nove divindades acima citadas formavam a enéade de Heliópolis. Para os egípcios, deus Rá nascia a cada manhã, cruzava o céu na barca solar, durante a noite viajava pelo mundo subterrâneo e lutava contra a serpente Apófis, personificação do mal, e a vencia todas as noites, de forma a permitir que outro dia surgisse. Além disso, os egípcios acreditavam que o deus-Sol possuía várias formas ao longo do dia: ao amanhecer era Kepri, uma divindade relacionada ao escaravelho, ao meio-dia era Rá propriamente dito e ao entardecer era Atum, um deus com forma humana que portava a coroa do Alto e Baixo Egito sobre sua cabeça. O ciclo solar assumiu grande importância na história da civilização egípcia antiga por haver originado diversas concepções mitológicas, como a da “destruição da humanidade” e a de “Ísis e Rá”, que têm como fato principal o envelhecimento do sol. De acordo com o mito da destruição da humanidade, Rá teria enviado à terra uma deusa vingativa chamada Sekhmet, representada como uma mulher com cabeça de leoa, para que punisse a humanidade por conta das atitudes negativas dos homens. No entanto, a raiva de Sekhmet teria tornado-se incontrolável, o que fez com que a deusa matasse pessoas inocentes. Para evitar que toda a humanidade fosse destruída por Sekhmet, Rá tingiu de vermelho vários barris de cerveja e deixou em locais onde a deusa poderia encontrá-los. Assim, ao acordar com sede e tomar o líquido pensando ser sangue humano, Sekhmet teria ficado embriagada, esquecendo-se de sua grande raiva e, dessa forma, deus Rá teria livrado a humanidade da destruição. Ao longo de toda a história da civilização egípcia, deus Rá fora relacionado a outros deuses, sobretudo a partir da V Dinastia. Entre os deuses aos quais o deus-Sol fora associado destacam-se Kepri, Atum, Amon e Hórus. Uma das associações mais conhecidas é a de Amon-Rá, quando os faraós do Novo Império o relacionaram com a principal divindade da cidade que havia se tornado a capital do Egito durante esse período. Thays da Silva

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O crocodilo como divindade no Egito Antigo

  Por Ewerson Dubiela Para os antigos egípcios tudo o que existia era fruto dos deuses. Sua fauna, sua flora e até mesmo as pessoas foram criadas e eram regidas pelas divindades. Cada deus representava uma condição da natureza. Vamos abordar um deus em específico, que não diferente de outros deuses egípcios, era representado como um ser antropozoomórfico (forma humana e animal) ou zoomórfico (apenas na forma animal). Primeiro, precisamos entender que para aquela população, os deuses viviam na Terra, no mesmo cenário que os homens. Os templos eram construídos para o culto aos deuses, eram as moradas divinas. Dentro deles havia estátuas que eram veneradas e todos os dias eram lavadas e perfumadas, vestidas e alimentadas, pois se acreditava que o Bá do deus, ou o que entendemos por alma, ali encarnaria e, portanto, precisaria de cuidados. A mesma ideia ocorria com o animal que era associado ao deus. Assim era com Sobek, o deus crocodilo, adorado principalmente nos templos do Fayum e de Kom-Ombo. Esta divindade era relacionada à violência, sexualidade e instabilidade da personalidade, portanto, propenso aos desejos mais primordiais. O seu nome, Sbk, apesar da grande discussão no meio acadêmico para seu significado, acredita-se estar relacionado ao verbo “Impregnar” devido à fertilidade do animal. No Reino Antigo, Sobek era chamado, em textos religiosos, de “O Raivoso”, posteriormente, durante o Reino Médio, foi associado ao poder faraônico por conta de sua habilidade em agarrar sua presa subitamente e destruí-la de forma única.[1] Como veremos no próximo parágrafo, esta é uma condição natural do animal que, pela interpretação dos antigos egípcios, se comparava ao faraó arrebatando e destruindo seus inimigos da mesma forma. A espécie Crocodylus Niloticus pode medir quase cinco metros de comprimento, atingindo em terra 14 km/h e, 30 km/h na água. Alimenta-se, quando adulto, de grandes animais que consegue capturar com seu poderoso ataque, não matando de imediato, mas levando a captura para a água, aonde deixa esta afogar-se e espera até que a carne amoleça. Para arrancar a carne, utiliza a sua mandíbula para girar na água, fazendo o “giro da morte”. Tente agora imaginar que este mesmo espécime, adulto, também poderia viver dentro de um templo, movimentando-se livremente pelo espaço, porém, todo enfeitado! E não obstante, ainda se tinham criadouros destes gigantescos e perigosos animais dentro do próprio templo. Os gregos Heródoto e Estrabão visitaram o Egito e relataram tais cuidados com os crocodilos, o primeiro escreveu: Parte dos egípcios (…) que habitam as vizinhanças de Tebas e do lago Moéris têm pelos referidos anfíbios muita veneração. Escolhem sempre um para criar e domesticar. Enfeitam-no com objetos de ouro ou com pedras falsas e colocam pequenas correntes ou braceletes em suas patas dianteiras. Nutrem-no com a carne das vítimas e lhe dão outros alimentos apropriados. Enquanto ele vive, cercam-no de cuidados; quando morre, embalsamam-no e depositam-no numa urna sagrada.[2] Como na estátua, o animal também possuiria o Bá do deus, e por isso era mantido e adorado, não existem registros de sacrifícios humanos para a divindade, apesar de saber-se da existência do ataque destes répteis durante o cotidiano nas bordas do rio. Nas artes, Sobek, era representado como um crocodilo por inteiro ou por um homem com cabeça de crocodilo com uma coroa em formato de plumas. Porém, existem outros deuses que tinham representações associadas ao animal, como as deusas Taueret e Âmit. Por que estas duas deusas também eram associadas ao crocodilo? Se observarmos como a mamãe crocodilo trata seus filhotes, conseguiremos identificar uma criatura extremamente gentil, assim como o papai crocodilo, que fica por um tempo protegendo sua ninhada junto com a fêmea. Talvez por isso, os egípcios tenham assimilado a deusa Taueret com este animal. Ela era relacionada ao nascimento, representada como uma mulher grávida, com cabeça e pernas de hipopótamo e costas e cauda de crocodilo. Quanto à Âmit, o Livro dos Mortos nos mostra que era um animal sagrado, que devoraria as almas daqueles que não tivessem seguido os princípios dos deuses em vida. Ela é representada por três animais, a cabeça de crocodilo, o corpo de um leão e as pernas de um hipopótamo. Vejamos que são três animais que atacavam os humanos e trazem uma ideia de terror. O fato é que, o poderoso réptil, bem como outros animais, acabava sendo associado aos deuses, muitas vezes por suas atribuições naturais, que o povo nilótico julgava como manifestações divinas. [1] HART, George. The Routledge Dictionary of Egyptian Gods and Godesses.New York. USA. Taylor & Francis Group. 2ªEd. 2005. [2] Heródoto, História: II, 229. Apud: Locks, Martha & Santos, Moacir Elias. Templos, Crocodilos e Múmias: Ex-votos de Sobek da coleção do Museu Nacional. In: Revista UNIANDRADE / Centro Universitário Campos de Andrade – v.6, n.1, 2005. Curitiba: UNIANDRADE, 2005. Alto Relevo no templo de Kom Ombo apresentando o deus Sobek. O crocodilo do Nilo Estatueta do deus Sobek. XII Dinastia. Museu Staatliches Ägyptischer Kunst – Munique

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A Deusa Néftis: aspectos e definições

  Shara Lorena Gritten Mello – Monitora do Museu Egípcio Embora pouco lembrada, Néftis é uma deusa da enéade da cidade de Heliópolis, e uma das principais divindades presentes no panteão dos egípcios antigos, tendo sua aparência idêntica à de sua irmã Isis. Porém, muitos de seus aspectos são misteriosos até os dias de hoje. Na mitologia desenvolvida na cidade de Heliópolis, Néftis era esposa do deus Seth, que era estéril, e para poder conceber um filho se disfarçou de Isis, que era casada com Osíris, e passou uma noite com o marido de sua irmã. Desse ato nasceu Anúbis, deus da mumificação. As principais representações iconográficas da deusa aparecem em tumbas ou sarcófagos. Podemos usar para melhor entende-la os “Textos das Pirâmides” e os “Textos dos Sarcófagos”, que são um conjunto de fórmulas mágicas, encontrados nos caixões e paredes das tumbas. Seu nome significa “Senhora da Casa” ou “Senhora do Templo”, embora ainda não se tenha encontrado nenhum centro de culto dedicado a deusa. A literatura egípcia esclarece pouco sobre o papel de Néftis, pois antes da mitologia da cidade de Heliópolis, não se conhece outro texto com citação sobre a deusa. O que sabemos é que ela está ligada com a mitologia Osiriana. Muitas vezes, Néftis aparece associada com Isis e no contexto funerário elas protegem o morto. Isis vai a frente do morto protegendo seus pés, Néftis vai atrás protegendo a cabeça. Segunda a mitologia, Néftis chorou com sua irmã pelo falecimento do deus Osíris. Dentro das tumbas a deusa aparece como protetora dos mortos e dos vasos canópicos. Muitos amuletos foram produzidos para a deusa principalmente durante as 22° e 26° dinastias egípcias, onde a produção desses objetos é muito comum. Infelizmente podemos saber apenas alguns aspectos e definições de Néfits, porém, ela foi largamente representada no Egito, desde o Reino Antigo chegando até a Baixa Época. Por mais que o papel da deusa não fique completamente definido, podemos concluir que ela foi muito importante para os egípcios, pois ela é a mãe do deus da mumificação, Anúbis, além de estar relacionada à crença da vida além-túmulo, pois auxiliava o morto em sua travessia para os campos de Osíris. Estátua néftis-Periodo Tardio-encontra-se no museu do Brooklyn(Brooklyn Museum) Néftis e Isis – Tumba nefertari Isis and Nephtys- Tumba Sennedjam

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