O Reino Antigo

Amenemhat viveu no início da XII Dinastia (1991 a.C – 1783 a.C.), uma época de grande riqueza material para a nobreza egípcia e para os funcionários do Estado.

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A área de Kom el-Rabia em Mênfis

Por Ewerson Dubiela – Historiador e Museólogo do Museu Egípcio & Rosacruz Tutankhamon Fundada na época da unificação do Egito pelo faraó Narmer (3150-3050 a.C.), Memphis é uma cidade milenar que, infelizmente, teve muitos dos seus edifícios e monumentos desmantelados, soterrados ou perdidos devido às ações humana e natural. Graças aos esforços de equipes arqueológicas, diversos elementos sobre a vida das populações ocupantes de Memphis ressurgem, demonstrando crenças e modos de percepção em relação aos espaços que formavam o templo de Ptah. De tal forma, diversas vilas acabaram sendo fundadas ao longo de séculos e ficavam ao lado daquilo que um dia foram as muralhas que cercavam o recinto sagrado. Um destes locais é Kom el-Rabia, sítio arqueológico presente na área sudoeste de Memphis. Sua ocupação pode ter sido iniciada ainda no Reino Médio (2040-1640 a.C.), porém é mais evidente a presença de elementos que datam do Segundo Período Intermediário até o período Saíta. (1640-525 a.C.) As escavações na área de Kom el-Rabia foram realizadas entre 1984 e 1985 através do Memphis Project da Egypt Exploration Society, que já havia realizado outros trabalhos entre 1891 e 1893 na área mais central do Templo de Ptah, permitindo que pudesse ser escolhido este novo local. Dessa forma, na temporada de 1984, houve a descoberta de uma área de casas de trabalhadores artesãos dos Reino Novo (1550-1070 a.C.).  Estas casas, cuja arquitetura já não existe exemplares, sobrando apenas as linhas de suas fundações, ainda nos mostram que possuíam grandes pátios de terra batida, com dimensões modestas e, havendo na área mais a nordeste, um armazém. A casa mais bem preservada possui um forno em seu interior e sinais de que havia pequenos poços para fogueiras em uma de suas paredes, indicando relativa atividade industrial. Sobre o armazém, as casas e pátios estavam organizados de maneira a permitir o acesso comum a ele, sendo substituído apenas quando outro fora construído na área noroeste do sítio e o primeiro bloqueado por uma parede. Algumas dessas casas, devido ao período de suas construções, se parecem bastante com aquelas encontradas em Amarna ou próximas a Karnak, sendo uma pequena câmara de entrada, sala de estar e pares de pequenas salas na área interna conectadas a um longo corredor. Sobre os objetos localizados durante a escavação, esta lista pode ser resumida em itens de caráter doméstico ou de trabalho, como martelos para rochas duras, selas e tripés de basalto, geralmente localizados em salas nas áreas mais afastadas das casas. Objetos em metal também foram localizados, produzidos em bronze e ainda em ótima condição de conservação. Nesse caso, foram descobertas pequenas ferramentas como ponteiras, espátulas e cinzéis, ou utensílios domésticos como anéis, brincos, navalhas e punhais e, ainda, itens votivos, como estátuas do deus Ptah, placas com inscrições, amuletos em forma de escaravelho e colunas Djed feitas em calcário com incrustações em bronze. As colunas Djed representam estabilidade a partir da coluna do deus Osíris e podiam ser usadas tanto para vivos quanto para os mortos. Há também pedaços de metal fundido, de ferro e bronze, encontrados junto com elementos descartados, o que determina trabalhos de fundição local. Outros objetos, dessa vez em cerâmica, foram localizados em grande quantidade e representam concubinas nuas deitadas em camas, porém, sem as crianças que geralmente eram representadas ao seu lado e estátuas de serpentes. As estátuas de concubinas nuas podem ser interpretadas em um contexto doméstico em que sua presença na casa ofereceria para a mulher fertilidade e proteção durante a gravidez e o parto. Sobre materiais com escrita, pouco foi encontrado. Há, principalmente, anéis com cartuchos reais, escaravelhos e blocos usados em portas, sendo que um possuía um título real e o outro pertencia ao sacerdote leitor de Ptah, Sethnakht. Os anéis e escaravelhos têm os nomes de Tothmés III, Amenhotep II, Amenhotep III, Tutankhamon, Horemheb, Seti I e Ramsés II, todos faraós do período o Reino Novo. Por fim, jarros de cerâmica característicos do Segundo Período Intermediário também foram encontrados, demonstrando que a vida neste assentamento perdurou por quase 1000 anos. Para conhecer o sítio de Kom el-Rabia e o trabalho executado pela equipe da Egypt Exploration Society no Memphis Project, acesse o perfil do Flickr pelo link: Referências ANDREW, Carol. Amulets of Ancient Egypt. British Museum Press. London. 1994. BAINES, John; MÁLEK, Jaromír. A civilização egípcia. Folio. Barcelona. 2008. GIDDY, Lisa. Kom Rabiʿa: The New Kingdom and Post‐New Kingdom Objects. Journal of Eastern Studies. Vol. 62. N. 3. 2003 HART, George. The routledge dictionary of Egyptian gods and goddess. 2nd ed. 2005 JEFFREYS, D. G., et al. “Memphis 1984.” The Journal of Egyptian Archaeology, vol. 72, 1986, pp. 1–14. JSTOR, https://doi.org/10.2307/3821476. Accessed 11 Aug. 2022. JEFFREYS, D. G., et al. “Memphis 1985.” The Journal of Egyptian Archaeology, vol. 73, 1987, pp. 11–20. JSTOR, https://doi.org/10.2307/3821518. Accessed 11 Aug. 2022. PROJECT, Amarna. Model of the city. Tour of the Model. 2017. Consulta em: https://www.amarnaproject.com/pages/model_of_the_city/index.shtml Disponível em: agosto de 2022. ROSE, Charlotte. Childbirth Magic. Deciphering bed figurines from ancient Egypt. Vol. 58. N. 3. 2016. SMITH, H. S., and D. G. JEFFREYS. “The Survey of Memphis, 1983.” The Journal of Egyptian Archaeology, vol. 71, 1985, pp. 5–11. JSTOR, https://doi.org/10.2307/3821707. Accessed 11 Aug. 2022.

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Mênfis

Thais Chaiane Costa de Faria – Monitora do Museu Egípcio e Rosacruz Tutankhamon Segundo a crença egípcia, Mênfis teria sido fundada pelo primeiro rei do Egito, em cerca de 3100 a.C, e foi a primeira capital no Reino Antigo. As primeiras fontes conhecidas que relatam a importância da cidade, estão descritas nos trabalhos de autores como, Heródoto que a visitou ainda na Antiguidade, Estrabão e Diodoro de Sicília. A metrópole, ficava localizada entre o Baixo e o Alto Egito, próxima ao delta do Nilo e para os egípcios antigos, era conhecida como Muro Branco (Ineb hedj). A denominação utilizada hoje decorre do período helenístico, Mênfis é uma palavra grega derivada da construção hieroglífica Mn-Nfr, que significa “Duradoura e Bela”, designação atribuída à pirâmide do rei Pepi I, da VI dinastia (2287 a.C. – 2187 a.C). No Reino Antigo, a cidade era uma das mais populosas de todo o Egito e onde ficava a residência real dos faraós. A localização estratégica da capital entre os dois reinos, possibilitou que a cidade se tornasse um grande centro cultural, religioso e populacional. Nas suas bibliotecas e ateliês, conservaram-se ou transmitiram-se os manuais, os tratados, os cânones e o saber relativos aos monumentos sacralizados. Apesar das transferências da capital para outras regiões ao longo dos anos, para Tebas e Amarna, por exemplo, Mênfis não perdeu sua importância, sempre ocupando uma posição de destaque. No Reino Novo, tornou-se uma metrópole cosmopolita, um grande centro do comércio internacional e uma base militar fundamental para o Império com o seu porto de Peru-Nefer. Entretanto, apesar da sua importância econômica, sua decadência começou a partir do crescimento de Alexandria, no período ptolomaico, que se transformou na grande metrópole e no mais importante porto comercial do Egito. Um dos grandes eventos realizados em Mênfis, na Antiguidade, era marcado pela legitimação do poder faraônico: a cerimônia de coroação do rei e o festival Heb-Sed, também conhecido como jubileu. A cerimônia de coroação era realizada no templo de Ptah e cada detalhe do ritual simbolizava o renascimento do faraó, que ao ser coroado transformava-se em um ser divino. O festival Heb-Sed acontecia a cada trinta anos com o intuito de reafirmar e revitalizar o poder faraônico, no evento uma série de ritos eram realizados, dentre eles, com a típica cauda postiça envergando o saiote real, o faraó corria em volta dos muros da cidade, simbolizando a afirmação e legitimação do seu poder sobre todo território egípcio. Enquanto centro religioso, Mênfis tinha como deus principal, Ptah um deus muito antigo, mencionado nos textos das pirâmides desde o Reino Antigo, e considerado pelo clero da cidade o deus demiurgo, responsável pela criação do mundo. Segundo a mitologia, Ptah manifestou o desejo em seu coração (sua consciência) e através da fala tudo criou. O seu local de culto mais importante era o templo Hut-ka-Ptah, localizado em Mênfis, onde seria a morada do ka do deus. Enquanto criador, o deus era chamado Ptah Tatenen relacionado a terra e posteriormente tornou-se patrono dos artesãos, sendo considerado o inventor dos trabalhos manuais. O deus também foi associado a outras divindades, como Sokar e Osíris, então denominado Ptah-Sokar-Osíris, que estava relacionado ao culto funerário. No Reino Novo, Ptah ganhou uma nova família, ao lado da deusa Sekhmet e seu filho Nefertum, formando a tríade menfita. Já no período ptolomaico ele foi associado ao deus grego Hefesto, ferreiro e mestre no trabalho com metais, pois Mênfis era o centro metalúrgico mais famoso do país. No entanto, a cidade perdeu sua importância religiosa quando Teodósio I (379-395 d.c) decretou que o cristianismo passaria a ser a religião de todo o Império Romano. Diversos estudos foram realizados em busca de entender a extensão de Mênfis e os trabalhos mais recentes demonstram que a cidade se estendia por, pelo menos, 10 Km de Norte para Sul. Contudo, o local “desapareceu” restando apenas as ruínas, pois estaria soterrada devido a acumulação de sedimentos no decorrer dos milênios, além da própria influência do curso do rio Nilo, que provocou uma erosão nos vestígios históricos. É importante lembrar que Mênfis não se resumiu à região de Mit-Rahina, mas estendeu-se de Abu Rawash a Gizé, Abusir, Saqqara e Dahshur. Quem visita Mit-Rahina, pode contemplar as ruínas do recinto do templo de Ptah, com estátuas colossais de Ramsés II e uma grande esfinge de alabastro encontrada por Flinders Petrie, em 1912, que acredita-se que ela estava dentro do templo de Ptah e representaria a rainha Hatshepsut, da XVIII dinastia, entre outros templos menores de distintos períodos. Ptah Ruinas templo de Ptah Esfinge Hatshepsut Referências Telo Canhão, A alimentação no antigo Egipto. Revista Hapi, Lisboa, n.3, p.33-89,Novembro,2015. Disponível em < https://www.academia.edu/35273753/_A_alimenta%C3%A7%C3%A3o_no_antigo_Egipto_in_Hapi_Revista_da_Associa%C3%A7%C3%A3o_Cultural_de_Amizade_Portugal_Egipto_no_3_Lisboa_Novembro_de_2015_pp_33_89_ISSN_2183_0991?email_work_card=view-paper> Acesso em março de 2021 Fonseca, Sofia. Guasch Jané, Maria Rosa. Ibrahim, Mahmoud. O vinho no Antigo Egito: uma história mediterrânea. Revista Mundo Antigo, (NEHMAAT-UFF/PUCG), Campos dos Goytacazes (RJ), ano 1, v.1, nº1, p.131-146, Junho, 2012.  Disponível em <http://www.nehmaat.uff.br/revistasAnteriores2012-1PORT.html> Acesso em março de 2021.

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Montuhotep II e a reunificação do Egito

Para que possamos falar sobre os faraós e, principalmente, sobre a reunificação do Egito, podemos destacar a unificação do território por volta do ano de 3100 a.C. O responsável por essa união e também o primeiro monarca que temos registros é Narmer (ou Menes para os gregos). Antes, a região egípcia era dividida em diferentes tribos, as quais cada uma tinha seus respectivos chefes denominados nomarcas, eram ao mesmo tempo chefes militares e políticos que lideravam unidades administrativas chamadas nomos. Um registro importantíssimo que retrata este acontecimento é a paleta de Narmer. Deve ser destacada a importância que o faraó tinha dentro do Egito: para eles, o soberano seria um deus vivo que teria a alma de Hórus, sendo assim a própria divindade na terra. O faraó era o intermédio entre o povo e os deuses, sendo também sumo sacerdote que realizava rituais sagrados nos templos. Os monarcas eram aqueles que governavam as Duas Terras – o Alto e Baixo Egito –  e através de guerras de conquista e expedições punitivas mantinham os inimigos sob seu controle ou os destruíam – o que complementa Maat (a ordem cósmica). O chamado Primeiro Período Intermediário, que teve o início por volta de 2.134 a.C. e seu termino em 2.040 a.C., leva esse nome por questões de guerras e conflitos internos entre diferentes soberanos, marca também a transição do Reino Antigo para o Reino Médio e inclui a VII até a XI Dinastias. Para classificar essa transição há diferentes estágios. Os monarcas egípcios do Primeiro Período Intermediário dividiam o poder entre duas cidades especificas sendo elas as cidades de Heracleópolis e Mênfis. A primeira perdeu seu território e seu poder para os governantes da XI Dinastia (2134 – 2040 a.C), chamada também de Dinastia tebana, que transformou Tebas na nova capital do Egito durante parte do Reino Médio (2040 – 1640 a.C.). O primeiro estágio foi representado pela desintegração do país na VI Dinastia que corresponde aos anos de 2.323 até 2.150 a.C., e o declínio do governo centralizador que corresponde à VII e VIII Dinastias, além de vários regentes que continuaram a deter o poder na cidade de Mênfis (primeira capital do Egito). Já o segundo ocorreu por um colapso na monarquia Menfita, que foi marcada por certas questões como, por exemplo: a anarquia e as guerras entre os governantes provinciais. A fome, a pobreza e a doença espalharam-se por todo o território egípcio. Há registros que falam sobre sepulturas e monumentos que foram saqueados e destruídos por ladrões, e tais problemas desencadearam conflitos bélicos e religiosos, esses eventos foram registrados nos chamados “Textos Literários Pessimistas”. Os conflitos internos eram também contínuos ataques surpresas realizados pelos beduínos que residiam na região fronteiriça que se localizava ao nordeste do Médio Egito. O terceiro estágio destaca-se por questões em que os governantes da cidade de Heracleópolis surgiram como novos regentes que dominaram o Médio Egito, entre as cidades de Tebas e Mênfis (IX e X Dinastias). O chamado Akhtoy (Kheti) foi o governante que conduziu seu povo a vitória e estabeleceu Heracleópolis como a nova capital do Egito durante o Primeiro Período Intermediário. A anarquia foi controlada temporariamente, houve um período de paz no qual realizaram construções de templos nas localidades de Beni Hassan, Akhemim e El – Bersh. Neste mesmo período se erguia a família dos Antef´s na cidade de Tebas. Logo, esta família teve disputas e conflitos com os soberanos da cidade de Heracleópolis. Tal fato foi gravado na tumba do governante Akhetoy em Assiut. Outros acontecidos foram registrados no texto “A Instrução Dirigida ao Rei Merikare” em que um regente já com uma certa idade dirigia a palavra para seu sucessor e filho, tal escritura tinha como finalidade estabelecer o poder politico do monarca. No último estágio, Montuhotep II, descendente dos Antef´s, conquistou o poder geral do país, restaurando então as questões políticas e sociais, acabando com a anarquia e a guerra civil. O monarca apaziguou todo o território egípcio e permitiu que os governantes provinciais mantivessem o seu poder. Consolidou a cidade de Tebas como nova capital do Egito e estimulou o crescimento da arte e arquitetura. Montuhotep II foi responsável por reunificar o Egito depois do Primeiro Período Intermediário e também responsável por fundar o Reino Médio, por volta do ano de 2040 a.C. Talvez Montuhotep II não tenha governado todo o território egípcio, mas com certeza foi o reunificador do país. A construção mais famosa da XI Dinastia é o monumento funerário único que Montuhotep II Nebhepetre mandou construir para si em Deir el-Bahari, em Tebas.   Por: Bruno Luiz Deniski – Referências: DESPLANCQUES, Sophie. Egito Antigo. São Paulo 2009. CARDOSO, Ciro Flamarion. O Egito Antigo. 1982. DAVID, Rosalie. Religião e Magia no Antigo Egito. Ed. Difiel. BRANGAGLION, Antônio. Quadro Cronológico – Seshet. Museu Nacional.

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