O Reino Antigo

Camila Czelusniaki– Monitora do Museu Egípcio e Rosacruz Tutankhamon

O Reino Antigo é o período da história egípcia que compreende da IV a VI dinastia, entre os anos 2575-2134 a.C. Este período também é conhecido como o “Império Menfita”, pois a capital situava-se em Mênfis.

No início deste período (final da III dinastia e início da IV dinastia) ocorreu uma reforma religiosa com princípios voltados aos sacerdotes do deus Rá (deus solar), divindade associada à cidade de Heliópolis. Este processo ficou conhecido como solarização da monarquia e tornou a família real descendente do deus sol. Este aspecto pôde ser observado na necessidade de preservar o sangue solar da realeza como uma forma de legitimação ao trono. Diante disto, neste período, surgiram as relações endogâmicas, caracterizadas pelas uniões matrimoniais entre parentes, como os casamentos reais entre irmãos ou meios-irmãos.

Assim, tendo o mito como referência, o rei seria aquele que nascia da própria relação entre a rainha (divinizada como a deusa Ísis) e o faraó (filho do deus Rá). A partir do nascimento de novos descendentes, estes passariam a possuir a natureza divina antes pertencentes aos pais.

No período do Reino Antigo, o território egípcio estava unificado e o poder centralizado nas mãos do faraó. Este era responsável por administrar as terras e os homens, era o chefe da religião e dos cultos, sendo considerado o próprio deus na terra. Além disso, ele era responsável pela administração do território e construções públicas.

Para o controle administrativo, o território era dividido em 42 nomos, administrados pelos nomarcas (funcionários públicos que respondiam ao faraó). Os cargos importantes, como o de Vizir, eram ocupados por filhos ou netos reais. A legislação deste período tinha caráter divino, baseado na deusa da justiça e da verdade (Maat).

A arte do Reino Antigo teve reformas significativas, principalmente na arquitetura funerária. Foi durante a IV dinastia que o complexo de Gizé foi organizado. Construído por Khufu (Quéops) 2551-2528, Khaf-Rá (Quefren) 2520-2494 e Menkaurá (Miquerinos) 2490-2472, além das três pirâmides encontra-se na região a grande esfinge e inúmeras tumbas de altos funcionários, conhecidas como mastabas.

Antes das três famosas pirâmides, o faraó Snefru (2575-2551 a.c) construiu três pirâmides em seu nome, a pirâmide Meidum (começada por Huni, da III dinastia e finalizada por Snefru, da IV dinastia), a pirâmide romboidal (pirâmide curvada, a única construída neste formato) e a pirâmide vermelha, esta última ficou conhecida como a primeira pirâmide de faces lisas. As pirâmides da IV dinastia eram mais numerosas em quantidade, porém não apresentavam decoração nas paredes internas.

A construção das pirâmides está diretamente ligada a solarização da monarquia, pois esta forma arquitetônica representava o primeiro monte de terra a surgir durante a criação do mundo e, por isso, um símbolo solar. Além das pirâmides, as mastabas evidenciam, através de sua iconografia, a realidade deste contexto histórico, pois trazem informações bibliográficas do proprietário da tumba. Como exemplo desta produção artística das mastabas, tem-se a estela funerária de ladrilhos do arquiteto real, Upemnefert. Esta estela, além de retratar seus cargos e homenagear os deuses, traz informações de algo bom que ele fez em vida, por exemplo, Upemnefert era superior dos pescadores. 

Por fim, a decadência do período do Reino Antigo ocorreu a partir do reinado de Pepi II (2246-2152) por conta da deterioração das relações externas do Egito com a Baixa Nubia e Punt. Outro ponto foi o aumento da fome ocasionado por uma série de desastrosas inundações baixas, o surgimento de fatores que implicaram no crescimento do índice de mortalidade e o conturbado período de transição de sucessão do faraó.


Figura 1Complexo funerário de Gizé, Wikimedia commons, autor: Theklan. Disponível em:https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gizah_complex_from_the_plane.jpg.

Figura 2 Esfinge de Gizé, vista lateral. Foto: Dan Breckwoldt / Shutterstock.com, imagem disponível em: https://www.infoescola.com/civilizacao-egipcia/esfinge-de-gize.

 

Figura 3 Estela de Upemnefert. Retirado de slab stelae of the Giza Necropolis, “Painting of the slab stela of Wepemnefret (from g 1201) by Norman de Garis Davies, on behalf of the Hearst Egyptian Expedition, March, 1905. Photograph courtesy Museum of Fine Arts, Boston”.

Referências

BRANCAGLION, Antônio. Quadro Cronológico: Lista de Reis. Seshat, Laboratório de Egiptologia do Museu Nacional, UFRJ.

BAINES, John; MÁLEK, Jaromír. A civilização egípcia. Edição Brasileira. Folio. Barcelona. 2008.

GORLINSKI, Virginia. Pepi II: Rei do Egito. Britannica. Seção história e sociedade. Disponível em: https://www.britannica.com/biography/Pepi-II. Acesso em: 16 de ago. 2023.

SILVA, Daniela Neves. A arte egípcia. História do mundo. Disponível em: https://www.historiadomundo.com.br/imprimir/280. Acesso em: 08 de ago. 2023.

MANUELIAN, Peter Der. SLAB STELAE OF THE GIZA NECROPOLIS. He Pennsylvania–Yale Expedition to Egypt, New Haven and Philadelphia, n. 7, p. 1-279, 2003.

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