Por: Celi Zinher Tsvetch – monitora do Museu Egípcio e Rosacruz Tutankhamon
Para questões de localização cronológica, o período pré-dinástico foi posterior ao Neolítico, e antecedeu o início da monarquia egípcia. Ele é dividido em épocas culturais, caracterizadas por culturas protodinásticas que não foram uniformes no território egípcio, sendo uma delas a cultura de Badari, com sua existência por volta de 5500 a 4200 a.C. O nome dessa cultura remete a cidade de El-Badari, que se localiza nas margens do rio Nilo, região que majoritariamente foram encontrados os vestígios sobre essa sociedade. Cerca de seiscentos túmulos e quarenta assentamentos, instalados predominantemente no Médio Egito, já prefiguravam o mundo dos mortos do Egito Faraônico.
Esse período é o primeiro em que há a confirmação da agricultura no Alto Egito, com predominância de plantas como o trigo, cevada e lentilhas. Além disso, essa cultura praticava um modo de vida de subsistência mista, já que a caça desempenhava também um papel importante no dia a dia da sociedade, além da agricultura e da pecuária. Os vestígios deixados por esse povo são basicamente cemitérios no baixo deserto, que se caracterizam por enterros simples. Os bens funerários encontrados indicam uma estratificação social, já que havia a distribuição desigual de riquezas e os túmulos mais ricos ficavam separados do restante. Essa estratificação ainda aparece de maneira limitada, já que ela só se tornou mais significativa no Período de Nagada.
Um elemento bastante característico da cultura Badariana é a cerâmica encontrada junto aos sepultamentos, esses objetos são principalmente xícaras e tigelas, todas feitas a mão, com argila do rio Nilo. A cerâmica normalmente não é decorada, mas ocasionalmente existem figuras geométricas, porventura imitando a cestaria. Itens pessoais como grampos de cabelo, pentes e pulseiras também são encontrados. Pelos vestígios deixados pela cerâmica, é possível concluir que os ceramistas badarianos se dedicavam em refinar a argila, já que os objetos feitos são bastante finos, de uma forma que não foi igualada em outra época do passado do Egito Antigo.
Os assentamentos encontrados dessa cultura, por serem muito leves, indicam que possivelmente eram construções temporárias, talvez acampamentos sazonais. Os locais de moradia e desenvolvimento da população deveriam se localizar próximos da planície de inundação do Nilo, que com o tempo e com as mudanças no trajeto do curso de água, foram arrastados pelo rio. Há a confirmação de que essa população já desenvolvia contato com outras localidades, pois foram encontradas conchas marinhas do Mar Vermelho nos túmulos badarianos, além de minério de cobre que pode ter sua origem no Deserto Oriental ou no Sinai.
Como é atestado com essa cultura, a hierarquização da sociedade egípcia já surge desde o período pré-dinástico. Algumas das tumbas do período badariano indicam a existência de diferentes tipos de elites durante o período aqui analisado, sendo eles religioso, militar e político-administrativo. É importante mencionar também, que o território badariano e a região da Núbia, atual Sudão, no contexto aqui estudado, era habitado por uma mesma população, que com o tempo foi se diferenciando e afastando. O Egito pré-dinástico, recebeu diversas influências como do Saara e do interior africano, ao Sul, o que resultou posteriormente no surgimento da monarquia faraônica egípcia, que se caracterizou pela unidade administrativa.
Referência das imagens:
HAYES, William C. 1953. Scepter of Egypt I: A Background for the Study of the Egyptian Antiquities in The Metropolitan Museum of Art: From the Earliest Times to the End of the Middle Kingdom. Cambridge, Mass.: The Metropolitan Museum of Art.
Links dos objetos:
Cordão: https://www.metmuseum.org/art/collection/search/557613?ft=badarian&offset=0&rpp=40&pos=7
Tigelafunda: https://www.metmuseum.org/art/collection/search/557591?ft=badarian&offset=0&rpp=40&pos=6
Tigela: https://www.metmuseum.org/art/collection/search/551018?ft=badarian&offset=0&rpp=40&pos=8
Referências:
BAINES, John. MÁLEK, Jaromír. A Civilização Egípcia. Coleção Grandes civilizações do passado. Barcelona: Ediciones Folio, 2008.
BRANCAGLION, Antônio. Quadro Cronológico: Lista de Reis. Seshat, Laboratório de Egiptologia do Museu Nacional, UFRJ.
CARVALHO, Alexandre Galvão. Novas interpretações sobre as condições de surgimento do Estado no Egito Antigo. PHOÎNIX, Rio de Janeiro: 152-167p., 2021. Disponível em: <https://revistas.ufrj.br/index.php/phoinix/article/download/49102/26795 Acesso em: 01 jun. 2023.
DESPLANCQUES, Sophie. Egito Antigo. 1° edição, L&PM Pocket Encyclopaedia, 2009.
LOPES, Nei. Dicionário da antiguidade africana. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
SHAW, Ian. The Oxford History of Ancient Egypt. 1° edição, United States, New York: Oxford University Press, 2003.