Anúbis – O Senhor do Embalsamamento

  Por: Arthur Fanini Carneiro –  Monitor do Museu Egípcio e Rosacruz A divindade representativa da mumificação, Anúbis, é o senhor do embalsamamento, seu nome vem do grego Ἄνουβις (Anupu), mas o povo egípcio o chamava de Inpw que significa abridor dos caminhos, era representado na sua forma antropozoomórfica com cabeça de chacal e corpo de homem ou um chacal deitado. De acordo com a crença egípcia, o falecido depois de mumificado, renasceria no mundo dos mortos e passaria a eternidade com os deuses. Os mitos e lendas do Egito Antigo se referem a Anúbis com a forma de canídeo, uma espécie de “cão”, pois observavam que essa espécie de cachorro, o chamado “chacal”, habitava a região desértica ocidental do vale do Nilo, próxima as necrópoles, locais destinados as tumbas e sepultamentos. O deus Anúbis poderia ser representado inclinado sobre pavilhões, atuando como protetor das múmias dentro das tumbas, guardando-as contra as forças que tentassem prejudicar a pessoa morta. O deus da mumificação está presente em objetos, amuletos, entalhes ou pinturas nas paredes de tumbas e sarcófagos. A origem de Anúbis está narrada nos textos das Pirâmides. De acordo com estes textos, Nut e Geb, deuses do céu e da terra respectivamente, tiveram quatro filhos, Osíris, deus da fertilidade e responsável por tudo que cresce no Egito, Isis e Néftis, deusas da magia e Seth, deus do caos.  O principal deus do panteão egípcio era Ra, divindade relacionada ao sol, o mesmo governava todo aquele mundo. Quando estava ficando cansado e velho, Ra passou as coroas do Alto e Baixo Egito para seu bisneto Osíris, mas com essa tarefa, houve o despertar da inveja do seu irmão mais novo, Seth. Como deus da fertilidade, Osíris poderia ter filhos, diferente de seu irmão, que era casado com Néftis. Após uma briga, a deusa teve uma ideia, se disfarçou de Isis, sua irmã gêmea e esposa de Osíris, e foi aos aposentos desse deus. Néftis acabou engravidando, dando à luz a Anúbis, o que aumentou o ódio de Seth pelo seu irmão mais velho. Seth tomado pelo ódio fez com que seu irmão caísse em uma armadinha, trancou-o em uma caixa e o jogou no Nilo. Após o assassinato, Isis sabendo do ocorrido, partiu em busca do corpo de Osíris, encontrando-o no palácio do rei da cidade de Biblos, na Fenícia. Conseguindo recuperar o corpo, voltou ao Egito, aonde tentou através de magia, ressuscitar o deus. Ao falhar, a deusa escondeu Osíris em um pântano de papiro, e viajou a fim de aprender a magia necessária. Entretanto, Seth encontrou o cadáver do irmão durante uma caça. Resolveu esquarteja-lo em quatorze partes que foram espalhadas por todo o Egito. Na companhia de alguns deuses, Isis foi em busca das partes de Osíris. Ao reuni-las, Isis tentou novamente devolver-lhe a vida, mas sem êxito. Então, Anúbis ficou responsável pela guarda do corpo do pai, o embalsamou, transformando Osíris na primeira múmia. Por conta dessa história, o povo egípcio aderiu a ideia de que era necessária a conservação do corpo para garantir a vida além-túmulo. Osíris embalsamado, portanto, tornou-se o soberano do outro mundo. Segundo o Livro dos Mortos, no tribunal de Osíris, Anúbis auxiliava na pesagem do coração da pessoa morta. O coração simbolizava o que a pessoa fez de bom e de ruim durante sua vida terrena. É difícil atribuir o início do culto ao deus Anúbis, mas sabe-se que havia uma divindade chamada Kbentiamentiu cuja fisionomia era muito semelhante à de Anúbis. Ao mesmo tempo, Kbentiamentiu também possuía semelhanças com o deus Osíris, por ser também representado como uma múmia. Era comum no Egito a mumificação de animais ligados as divindades, como cães e chacais em honra ao deus Anúbis, algumas foram encontradas na necrópole de Saqqara, em Mênfis. Com a presença greco-macedônica e romana no Egito, verifica-se que Anúbis foi helenizado, sendo associado à Hermes, transformando-se em Hermanubis. Seu culto era bastante forte no período romano, mas ao longo do tempo, com a cristianização dos povos habitantes do Império, o culto foi abandonado. Suas representações eram com corpo humano, cabeça de chacal e portando o caduceu, um bastão em torno do qual se entrelaçam duas serpentes e cuja parte superior é adornada com asas e com a cabeça do deus egípcio na sua forma canídea.   REFERÊNCIAS SHAFER, Byron E. As Religiões no Egito Antigo – Deuses, mitos e rituais domésticos. São Paulo: Editora Nova Alexandria, 2002. ARAÚJO, Emanuel. Escritos para a eternidade: a literatura no Egito faraônico. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2000. WILKINSON, R. H. Reading Egyptian art. A hieroglyphic guide to ancient Egyptian painting and scupture. Londres: Editora Thames and Hudson, 1994. TRAUNECKER, C. Os deuses do Egito. Trad. Emanuel Araújo. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1995. RICE, Michael. Who’s Who in Ancient Egypt. 1ª Edição. Londres: Editora Routledg. 1999.  

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Háthor Representações do feminino no Egito Faraônico

  Háthor em egípcio antigo ḥwt-ḥr, que significa recinto ou casa de Hórus, era uma das deusas mais cultuadas pelos antigos egípcios. Dentre suas várias representações ela aparece como sendo uma mulher com um disco solar acima de sua cabeça entre seus chifres bovinos ou com corpo de mulher e orelhas de vaca, quase sempre segurando um was, cetro com cabeça de um cervo, ou ainda o wadj, um cetro com a planta de papiro, já que para os egípcios a morada dessa deusa era nas plantações desse vegetal que localizavam-se na parte Delta do rio Nilo, onde havia também muitos rebanhos de bovinos. Entre as suas múltiplas denominações as principais aparecem como: “A Grande Vaca Selvagem”, “A Distante” ou “A Senhora do Ocidente” pois era a senhora do deserto e das terras estrangeiras, “A Senhora Turquesa” e “A Dourada” uma vez que era também a deusa dos metais e dos minérios, e “A Senhora do Submundo”, sendo ela protetora dos mortos. Seu culto no Egito faraônico remonta ao Reino Antigo (2686-2181 a.C) considerando os registros de cabeça bovina esculpidos na paleta de Narmer (3100 a.C) e os achados arqueológicos junto a fonte textual no Templo do Rei Khafra (2520-2494 a.C). Contudo, houve claramente uma veneração de deusas-vacas no Egito pré-dinástico (5500- 3100 a.C) como a deusa Bat que foi associada a Háthor posteriormente. Háthor era uma deusa muito popular na antiguidade egípcia. Por esse motivo era venerada em várias regiões do Egito, seu templo foi construído em Dendera, uma cidade localizada na margem ocidental do rio Nilo. Na mitologia egípcia Háthor possui várias faces, sua natureza é benigna, mas essa deusa possui um prisma relacionado a destruição e fúria. Háthor é filha do deus sol Rá, e a mitologia retrata a deusa como a vingadora de seu pai quando os homens se voltam contra ele, dentre suas várias manifestações, nesse momento se torna a deusa Sekhmet, um deusa leoa patrona de batalhas e da guerra. Em algumas partes a mitologia conta que Háthor carregou Hórus em seu ventre, portanto ela é considerada a mãe simbólica e divina do faraó, representante de Hórus na Terra. Essa relação materna da deusa com o governante do Egito, está retratada na estátua de Amenhotep II (1424-1398 a.C) – atuamente no Museu do Cairo – nesse artefato a deusa está amamentando o próprio faráo em seu colo. Em algumas versões mitológicas mais antigas Háthor era venerada como a deusa que deu a luz e amamentou todos os outros deuses, por isso a deusa é muitas vezes representada e associada à Isis, a deusa da maternidade. As Sete Háthors* são os sete aspectos da deusa, essas em específico são mais ligadas a fertilidade e capazes de prever o futuro de um recém nascido. Na iconografia que ilustra passagens do livro dos mortos na tumba da rainha Nefertari (1292- 1186 a.C), Háthor é representada através das sete vacas cujo papel é determinar o destino de uma criança ao nascer. Em muitas versões entre os diversos mitos presentes na religião egípcia, a deusa é a paredra do deus Hórus, ou seja, sua esposa e consorte. Tendo em vista a quantidade de faces que essa deusa possuia dentro da religiosidade egípcia, fica claro que ela tinha muitos atributos. Entre eles se destacam o amor, a beleza, a sexualidade, a dança e a alegria. Háthor era uma deusa muito ligada a festividades, pois os mitos contam que na ânsia de vingar seu pai ela promoveu uma carnificina entre os homens, e para apaziguar sua fúria, Rá a embebedou com sete mil jarros de cerveja, uma vez embriagada a deusa era associada a festas. Ela também é a deusa do amor, os gregos imediatamente associaram Háthor à Afrodite e os romanos a sua Vênus, rituais mágicos e poemas de amor são encontrados em nome da deusa em paredes de tumbas e templos. A beleza e a sensualidade eram princípios dessa deusa, mulheres utilizavam espelhos de bronze polido adornados com capiteis ou estátuas da deusa. Peles de pantera e incenso de ébano, joias de ouro, bronze e turquesa eram seus elementos. A música era um componente importante nas celebrações de adoração a deusa Háthor, seus instrumentos rituais o sistrum, “sesheshet” em egípcio, um chocalho de bronze com capetéis hathóricos, e o menat, um colar espesso de contas com um contrapeso longo de ouro ou bronze, emitiam sons atribuidos a essa divindade. Na arquitetura, os capitéis hathóricos eram construídos acima de grandes pilares de templos para representar a suntuosa deusa. Por fim, Háthor era uma divindade com um culto acessível no Egito antigo, entre as diversas representações do feminino na religião egípcia, Háthor simbolizava o comportamento feminino, em especial a relação das mulheres egípcias com o corpo e o amor. *Sete denominações e aspectos da deusa adorados por seus sacerdotes e sacerdotisas. Cada sacerdote (a) só poderia cultuar um aspecto. As denominações variam de acordo com a cidade e com os cultos locais de cada região, pois poderia ser inserido um deus local da cidade entre as sete. Por: Jéssica Franco Referências: NOBLECOURT, Christiane Desroches. A mulher no tempo dos faraós. Campinas, Papirus, 1994. REMLER, Pat. Egyptian Mythology A to Z. 3ª edition Publisher, Chelsea House, 2010. HART, George. The Routledge Dictionary Of Egyptian Gods And Goddesses. 2ª edition Publisher, Taylor & Francis Group, 2005. Site: www.seshat.com.br

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O deus egípcio Bes

O nome pelo qual é chamado, ‘Bes’, originário da palavra ‘besa’, que significa ‘proteger’ era designado para representar uma variação de dez deuses que tinham muitas características semelhantes – Aha, Amam, Bes, Hayet, Ihty, Mefdjet, Menew, Segeb, Sopdu e Tetetenu. Suas origens datam do Reino Antigo, onde o deus Aha seria seu ancestral. Existe a hipótese de que seja originário da região onde atualmente se encontra a Turquia, uma vez que imagens do mesmo foram encontradas em escavações em território turco. Bem como acredita-se também de que seja originário da África subsaariana, pois um dos títulos que lhe é agregado, “Senhor de Punt”, denomina uma antiga terra pertencente à região. Inclusive, a coroa emplumada que Bes utiliza é muito semelhante com a coroa da deusa Anuket, originária das fronteiras sulistas do Egito. Há várias maneiras de ser representado, sendo muitas vezes de forma pitoresca, sendo um anão, de corpo peludo e nu ou envolvido em uma pele felina e também vestindo o saiote kilt. Rosto largo, barbudo, dotado de características felinas, muitas vezes projetando sua língua para fora da boca, pernas tortas e flexionadas. Em algumas representações aparece com as mãos apoiadas à cintura, em outras, empunha uma espécie de espada em uma delas e, ainda, a estrangular uma serpente. Também pode aparecer com o sinal ‘sa’, que significa proteção. Há casos em que é mostrado batucando um pandeiro. Sua forma de ser representado também se diferencia muito de os outros deuses egípcios, pois Bes muitas vezes é mostrado de frente e poucas vezes de perfil, como a maioria dos demais deuses egípcios, dando a sua representação uma maior impressão de movimento. Apesar da aparência grotesca em que muitas vezes é representado, Bes é dotado de uma índole benéfica, onde uma das suas principais funções era salvaguardar as gestantes, inclusive, o mesmo faz parte do grupo seleto de sete deuses do parto junto às deusas Hathor, Heket, Meskhenet, Isis, Nekbet e Tauret. Várias representações do deus são encontradas nas casas ‘mammisi’, típicas do período romano, onde eram locais sagrados para a realização do parto. Era também protetor principalmente das crianças, onde através de sua ‘feiura’, afastava maus espíritos e também ameaças peçonhentas como escorpiões e serpentes. Guardião do bom sono, prospector de fertilidade e de boa sorte, amuletos e representações eram encontrados nas paredes de casas de artesãos que trabalhavam na construção de tumbas da região de Deir el-Medina. Era o deus também das festas, sendo relacionado a dança e também a música, onde é encontrado em móveis do túmulo da rainha Tiye (XVIII Dinastia), onde Bes é representado tocando um pandeiro, exemplo encontrado também nas paredes do santuário da deusa Hathor, na ilha de Philae. Apesar da sua grande popularidade, nunca foi encontrado um templo dedicado especificamente a sua veneração. Restando somente uma vasta coleção de amuletos e pingentes, bem como pequenas estatuetas, representações em vários objetos, como potes cosméticos, máscaras, além de suas representações nas casas ‘mammisi’, e nas paredes de casas, tumbas e templos. Jean Carlo Pelanda

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Seshat

Seu nome, Seshat, quer dizer ““*a escriba” , pois sesh significa escriba e o sufixo et (ou at) indica o gênero feminino. Outro nome atribuído à deusa é Sefkhet-Abwy, referente aos emblemas característicos colocados sobre a cabeça da deusa. Ela também pode ser chamada de a primeira de per-medjat “a casa dos livros”, a primeira de per-ankh “casa da vida”, biblioteca do templo, senhora da escrita, dos anos, dos construtores ou weret-hekau, que significa “a grande da magia” – título dado também a outras deusas. Seshat geralmente é representada vestida com pele de leopardo, uma veste que simboliza o ofício sacerdotal. O adorno sobre sua cabeça consiste em uma flor de sete pétalas ou estrela de sete pontas – a interpretação desses aspectos é variada -, contornada por um objeto que pode ser um par de chifres invertido ou duas serpentes. O símbolo que há sobre sua cabeça se pronuncia [ s’sh’t ] e é o hieróglifo da deusa. Normalmente, ela aparece segurando um instrumento para marcar a passagem do tempo e seus eventos, além do tempo previsto para o Faraó na sua jornada terrena, bem como instrumentos específicos da atividade de escriba – como o filete de junco utilizado para escrever e a paleta. Em dados momentos, a deusa Seshat é identificada com aspectos semelhantes aos da deusa Néftis e ocasionalmente também pode ser associada à deusa Háthor. As primeiras aparições da deusa na mitologia egípcia datam ainda do Reino Antigo (a partir de 2920 a.C.), pois há indícios do culto à Seshat na Segunda Dinastia (2770 a.C. – 2649 a.C.). Não se tem conhecimento de nenhum templo dedicado exclusivamente à deusa, mas ela é sempre referenciada como a patrona da construção dos edifícios sagrados e é representada no interior de diversos templos, como os de Abydos, Edfu, Dendera, Karnak e Luxor. Também é possível encontrar representações suas nas paredes do templo de Abu Simbel, assim como no templo do deus Toth, em Hermópolis ou Khemenu. O culto à deusa prolongou-se até as épocas tardias na cidade de Alexandria, onde foi construída a famosa biblioteca de mesmo nome, visto que Seshat é a deusa da sabedoria e protetora das bibliotecas. Na mitologia egípcia, Seshat ocupa um papel que a coloca como a deusa das escrituras e dos projetos arquitetônicos, padroeira também da astronomia e matemática pois era a deusa que media e registrava o mundo. Seshat é a páredra do deus Toth, ou seja, uma contraparte feminina do deus da sabedoria e do conhecimento. Ela e Toth fixavam a duração do reinado de um rei gravando seu nome sobre as folhas da árvore ished em Heliópolis. Como deusa da escrita, Seshat era a guardiã dos registros reais e das genealogias. Ela também é mostrada fazendo a gravação do espólio adquirido pelos reis nas batalhas, talvez como um lembrete de que uma parte é devida aos deuses. Logo a partir da Segunda Dinastia, ela foi mostrada ajudando os reis a colocar as bases para construção dos templos e a alinhá-los com as estrelas e planetas. Em alguns textos dos sarcófagos, Toth e Seshat “trazem escritos para um homem no reino dos mortos”. Estes escritos eram os feitiços que poderiam ajudar a pessoa morta a vencer os terrores do submundo e tornar-se um espírito poderoso. Infelizmente, pela escassez de registros sobre essa deusa, Seshat não é tão conhecida atualmente como as deusas Ísis, Bastet ou Maat. Contudo, pelos vários significados atribuídos à deusa, percebemos que Seshat tinha valor e notoriedade para os egípcios antigos, visto que foi reverenciada até os períodos mais tardios da civilização faraônica. *Por mais que Seshat seja a senhora da escrita e carregue os instrumentos de um escriba, a deusa não é representada escrevendo e não é recorrente nas fontes que mulheres exercessem o papel de escribas na sociedade egípcia. Por: Jéssica Cabral Referências: Seshat. Dieux et Déesses de l’Ancienne Égypte. Disponível em: . L. C. F. (org.). A comprehensive list of Gods and Goddessesof Ancient Egypt. p. 276. Disponível em: PINCH, Geraldine. Handbook of Egyptian Mythology. ABC-CLIO, 2002. p. 190-192. WAINWRIGHT, G. A. Seshat and the Pharaoh. Journal of Egyptian Archaeology. n.26. 1940. p.30–40.

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