O Museu a céu aberto de Mit Rahina

Vivian Tedardi – Historiadora do Museu Egípcio e Rosacruz Tutankhamon Memphis foi a primeira capital do Egito tendo sido construída pelos primeiros faraós, fundada no início do terceiro milênio antes de Cristo. Foi um importante centro urbano ao longo de toda a história do Egito Antigo. Sua posição estratégica ligava não apenas o Delta e o Vale do Nilo, mas também as regiões desérticas do Saara até a região do Mar Vermelho. Embora tenha sido uma das cidades mais importantes do Egito faraônico, diferente de Luxor, onde ainda pode-se verificar muitas das suas construções, há muito pouco a ser visto de Memphis. Quando o Egito se tornou província romana em 30 a.C. a cidade memphita perdeu seu lugar para Alexandria. Depois, nos períodos bizantino e copta a cidade foi diminuindo gradualmente até deixar de existir. Nesse período, o material de muitas de suas edificações foi sendo utilizado para a construção de novos assentamentos próximos da região e, mais tarde, com a presença dos árabes, grande parte das pedras serviram para a construção de Fustat, a atual Cairo, no século VII. Escavações arqueológicas na região da antiga cidade de Memphis ocorrem desde o século XIX. E o acervo do Museu a céu aberto de Mit Rahina está intimamente ligado as descobertas arqueológicas da região. O período arqueológico mais bem documentado da cidade é o Raméssida, na XIX dinastia, pois inúmeras construções foram realizadas ao templo de Ptah, o deus padroeiro da cidade, embora o museu possua artefatos de diferentes períodos da história egípcia antiga. O primeiro objeto da coleção foi o colosso de Ramsés II, descoberto em 1821, conhecido como Abu’l-Hol, uma magnífica estátua do faraó que realizou inúmeras construções em Memphis. Depois de descoberto, devido ao seu tamanho e peso, permaneceu no mesmo local por muitos anos. Foi apenas na segunda metade do século XIX que um abrigo foi construído para a estátua. Este foi substituído em 1902, por uma estrutura melhor, e foi neste local que na década de 1950 o museu seria erigido. Até a organização do museu, neste espaço, além do abrigo do colosso de Ramsés havia casas que guardavam outros objetos fruto de escavações arqueológicas e o escritório do inspetor de antiguidades, que foi desmanchado quando da inauguração deste espaço museológico. Hoje são cerca de 81 objetos divididos nos seguintes temas: culto aos deuses em Memphis e viver e morrer na cidade, e é o único local da antiga Memphis que demonstra o patrimônio da região. Ele está localizado nos restos arqueológicos da cidade, dentro do antigo Grande Templo de Ptah, de onde vieram grande parte das peças expostas. Além do colosso Abu’l-Hol, outra peça notável da coleção é a esfinge de alabastro, que representa um dos reis da XVIII dinastia e está exposta em local de destaque. Assim, para a mostra desses objetos o museu está organizado da seguinte maneira: um vasto abrigo de concreto com uma plataforma para visitantes onde está o colosso de Ramsés II, reconstruído na época da inauguração. Há também diversos artefatos menores distribuídos ao redor da grande estátua. Fora desta área há três plataformas de concreto com outros objetos, a nordeste está a grande esfinge de alabastro e a leste desta fica o jardim, onde outro colosso de Ramsés II, flanqueado por duas plataformas com objetos menores, está exposto. Entre esses objetos podemos citar outras estátuas, colossos, esfinges e elementos arquitetônicos. Conforme as escavações arqueológicas continuaram ocorrendo ao longo do século XX a coleção foi crescendo e novas áreas foram sendo organizadas para expor os artefatos que chegavam. Foram mais de 160 anos e 150 escavações. Embora muitos objetos tenham sido levados para outros museus, os que foram dirigidos ao Museu de Mit Rahina demonstram a complexa arqueologia da região de Memphis que busca compreender este que foi um dos principais centros urbanos ao longo de toda a história egípcia e mostrar a riqueza histórica da região. Colosso Abul Hol httpsen. [wikipedia.orgwikiMemphis,_Egypt (2)] Esfinge de alabastro – [httpsen.wikipedia.orgwikiMemphis,_Egypt] Colosso Abul Hol httpsen. [wikipedia.orgwikiMemphis,_Egypt (2)] Referências Bibliográficas BAINES, John; MALEK, Jaromir. Deuses, templos e faraós: Atlas cultural do Antigo Egito (Tradução de Francisco Manhães, Maria Julia Braga, Michael Teixeira, Carlos Nougué). Barcelona: Folio, 2008 JEFFREYS, David. The Survey of Memphis, capital of Ancient Egypt: recent developments. Disponível em: (PDF) The Survey of Memphis, capital of ancient Egypt: recent developments (researchgate.net). Acesso 25 de julho de 2022. MEMPHIS, EGYPT. In: In: WIKIPEDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikipedia Fundation, 2022. Disponível em:  Memphis, Egypt – Wikipedia. Acesso em 02 de agosto de 2022. OHARA, Aude Gräzer. Treasures from the lost city of Memphis. Ancient Egypt Associates, Inc. Boston, 2020.

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Mit Rahina

  Katlyn Rodrigues – Monitora do Museu Egípcio e Rosacruz Tutankhamon Localizada próxima à Saqqara, na margem ocidental do rio Nilo, a vila de Mit Rahina é um museu egípcio a céu aberto, onde vários artefatos já foram descobertos. A cidade histórica é conhecida por ter sido a primeira capital política do Egito, anteriormente intitulada de Memphis, além de já ter sido local de diversos marcos históricos, como a coroação de Alexandre, o Grande e a Pedra de Roseta, documento que proporcionou a decifração da escrita hieroglífica e que foi originalmente emitida na cidade. Seu aparecimento se dá através da unificação do norte e do sul, ou seja, do Alto e do Baixo Egito, nos primórdios do Reino Antigo (2575 – 2134 a.C) pelo rei Narmer, durante a primeira dinastia (3000 – 2920 a.C). A cidade, após o século V a.C, foi mencionada por historiadores clássicos como Heródoto, Estrabão e Diodoro. Dessa forma, localizada nas proximidades do Delta, controlava todas as principais rotas de comércio tanto interno, quanto externo. Posteriormente, durante o Reino Médio (2040 – 1640 a.C), permaneceu como um centro religioso e comercial. Já no Reino Novo, foi tida como a principal sede do governo, assim como um campo de treinamento das forças militares egípcias e um porto fluvial cosmopolita. O local ficou conhecido como Inbu-Hed , que significa “Paredes Brancas”, isto porque suas construções eram de tijolos de barro pintados de branco que, segundo registros, brilhavam com a luz do Sol a quilômetros de distância. Durante o período do Reino Antigo (2613-2181 a.C) foi conhecida como Men-nefer “o duradouro e belo” que foi traduzido pelos gregos para “Memphis”. Devido seu tamanho, a cidade também passou a ser conhecida por vários outros nomes, que remetiam à localidade de espécies de bairros que tiveram certo destaque em um momento ou outro. Por exemplo, de acordo com um texto do Primeiro Período Intermediário (2134 – 2040 a.C), era conhecido como Djed-Sut “lugares eternos”, que é o nome da pirâmide de Teti. É provável que a moderna cidade árabe de Mit Rahina tenha recebido esse nome derivado de Mjt-Rhnt, usado posteriormente para se referir a Memphis, cujo significado é “Estrada das Esfinges com Cabeça de Carneiro”, que se refere a antiga calçada que fazia ligação da cidade até Saqqara. Acreditava-se que Memphis era protegida pelo deus Ptah, patrono dos artesãos, e que seu templo Hut-ka-Ptah, teria sido uma das mais notáveis construções da região. Além disso, o rei Amenhotep IV – Akhenaton (1353 – 1335 a.C), teria construído em Memphis um templo para adoração ao deus do disco solar, Aton. Similarmente, o rei Ramsés II (1279-1213 a.C) mudou a capital do país para sua nova cidade, Per-Ramsés, no local de Avaris, mas honrou Memphis com vários monumentos. Seus sucessores continuaram prestando o respeito pela região, que era considerada a segunda cidade do Egito depois da capital. Assim, a cidade sempre desfrutou de prestígio desde sua fundação até mesmo após o declínio do Reino Novo. Ainda que várias cidades tenham sofrido negligências, Memphis continuou tendo sua importância estável. Dessa forma, quando a cidade foi saqueada pelo rei assírio Esarhaddon, em 671 a.C, sua importância religiosa garantiu sua sobrevivência e reconstrução, tornando-se também centro de resistência à ocupação assíria. Foi novamente destruída por Assurbanipal em 666 a.C, levando-a a resistir novamente e ser fortificada, assim como seus deuses, especialmente Ptah, continuaram a ser adorados. Por conseguinte, durante a dinastia ptolomaica (323-30 a.C), que se seguiu à morte de Alexandre, o Grande, os governantes mantiveram a cidade em seu nível tradicional de prestígio. Ptolomeu I (323-283 a.C) respeitou a localidade e mandou sepultar o corpo de Alexandre ali no início de seu reinado. Ele ainda honrou Memphis ao estabelecer o culto de Serápis em Saqqara. Já Ptolomeu II (283-246 a.C) removeu o corpo de Alexandre para Alexandria e iniciou vários projetos de construção, como o Serapeum. Os templos de Memphis mantiveram a reputação da cidade em boas condições, mas com a continuidade da dinastia ptolomaica, ela perdeu seu status para Alexandria. O Decreto de Memphis, mais conhecido como Pedra de Roseta, foi emitido em 196 a.C, por Ptolomeu V Epifânio e, depois disso, a cidade perdeu seu prestígio. Através da ascensão do cristianismo no século IV d.C, Memphis declinou ainda mais à medida que cada vez menos pessoas visitavam os santuários e templos, e no século V d.C, quando o cristianismo se tornou a religião dominante do Império Romano, Memphis caiu no esquecimento. Nos dias atuais, nada resta da cidade, além de metades de pilares, fundações, restos de paredes, estátuas quebradas e pedaços de colunas perdidas perto da vila de Mit Rahina. O local foi incluído pela UNESCO em sua Lista do Patrimônio Mundial em 1979 devido sua importância cultural e pelos monumentos já encontrados até então, como a estátua do Ka de Ramsés II (XIX dinastia), feita em granito vermelho, onde ele é retratado usando uma peruca com o símbolo do Ka na cabeça, e possui 105cm de altura, 55cm de largura e 45cm de espessura. Essa relevância se dá pelo fato que, de acordo com o Ministério das Antiguidades do Egito, são registradas apenas duas estátuas Ka até o momento. Atualmente, está entre os projetos do governo egípcio o fortalecimento da circulação de turistas e o desenvolvimento da cidade de Mit Rahina, com foco na descoberta de novos artefatos.   A Esfinge Estatua em pé de Ramsés II Ramsés II Referências: AMER, Mohamed; ABDALLAH, Mohamed. (2014). Ancient Memphis: Human-induced Impact Assessment. 10.13140/RG.2.2.26046.33606. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/333799128_Ancient_Memphis_Human-induced_Impact_Assessment> Acesso em: 25, jul. 2022 Colossus of ancient Egyptian King Ramses moved to new home, carefully. Disponível em: <https://www.reuters.com/article/us-egypt-archaeology-idUSKBN1FE1WJ> Acesso em: 27, jul. 2022 Huge archaeological building uncovered in Mit Rahina. Disponível em: <https://www.egypttoday.com/Article/4/58095/Huge-archaeological-building-uncovered-in-Mit-Rahina> Acesso em: 27, jul. 2022. MARIETTE, Auguste. Le Sérapéum de Memphis. F. Vieweg, 1882. SOLIMAN, Fatma Ahmed. Socio-Economic Role of the Site Museums for Visitors and Local Communities An Applied Study on Memphis Site Museum (Mit Rahina). Terms and Rules of Publication First: General Rules of Publication, 2022. Unique red granite bust

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