Katlyn Rodrigues – Monitora do Museu Egípcio e Rosacruz Tutankhamon Localizada próxima à Saqqara, na margem ocidental do rio Nilo, a vila de Mit Rahina é um museu egípcio a céu aberto, onde vários artefatos já foram descobertos. A cidade histórica é conhecida por ter sido a primeira capital política do Egito, anteriormente intitulada de Memphis, além de já ter sido local de diversos marcos históricos, como a coroação de Alexandre, o Grande e a Pedra de Roseta, documento que proporcionou a decifração da escrita hieroglífica e que foi originalmente emitida na cidade. Seu aparecimento se dá através da unificação do norte e do sul, ou seja, do Alto e do Baixo Egito, nos primórdios do Reino Antigo (2575 – 2134 a.C) pelo rei Narmer, durante a primeira dinastia (3000 – 2920 a.C). A cidade, após o século V a.C, foi mencionada por historiadores clássicos como Heródoto, Estrabão e Diodoro. Dessa forma, localizada nas proximidades do Delta, controlava todas as principais rotas de comércio tanto interno, quanto externo. Posteriormente, durante o Reino Médio (2040 – 1640 a.C), permaneceu como um centro religioso e comercial. Já no Reino Novo, foi tida como a principal sede do governo, assim como um campo de treinamento das forças militares egípcias e um porto fluvial cosmopolita. O local ficou conhecido como Inbu-Hed , que significa “Paredes Brancas”, isto porque suas construções eram de tijolos de barro pintados de branco que, segundo registros, brilhavam com a luz do Sol a quilômetros de distância. Durante o período do Reino Antigo (2613-2181 a.C) foi conhecida como Men-nefer “o duradouro e belo” que foi traduzido pelos gregos para “Memphis”. Devido seu tamanho, a cidade também passou a ser conhecida por vários outros nomes, que remetiam à localidade de espécies de bairros que tiveram certo destaque em um momento ou outro. Por exemplo, de acordo com um texto do Primeiro Período Intermediário (2134 – 2040 a.C), era conhecido como Djed-Sut “lugares eternos”, que é o nome da pirâmide de Teti. É provável que a moderna cidade árabe de Mit Rahina tenha recebido esse nome derivado de Mjt-Rhnt, usado posteriormente para se referir a Memphis, cujo significado é “Estrada das Esfinges com Cabeça de Carneiro”, que se refere a antiga calçada que fazia ligação da cidade até Saqqara. Acreditava-se que Memphis era protegida pelo deus Ptah, patrono dos artesãos, e que seu templo Hut-ka-Ptah, teria sido uma das mais notáveis construções da região. Além disso, o rei Amenhotep IV – Akhenaton (1353 – 1335 a.C), teria construído em Memphis um templo para adoração ao deus do disco solar, Aton. Similarmente, o rei Ramsés II (1279-1213 a.C) mudou a capital do país para sua nova cidade, Per-Ramsés, no local de Avaris, mas honrou Memphis com vários monumentos. Seus sucessores continuaram prestando o respeito pela região, que era considerada a segunda cidade do Egito depois da capital. Assim, a cidade sempre desfrutou de prestígio desde sua fundação até mesmo após o declínio do Reino Novo. Ainda que várias cidades tenham sofrido negligências, Memphis continuou tendo sua importância estável. Dessa forma, quando a cidade foi saqueada pelo rei assírio Esarhaddon, em 671 a.C, sua importância religiosa garantiu sua sobrevivência e reconstrução, tornando-se também centro de resistência à ocupação assíria. Foi novamente destruída por Assurbanipal em 666 a.C, levando-a a resistir novamente e ser fortificada, assim como seus deuses, especialmente Ptah, continuaram a ser adorados. Por conseguinte, durante a dinastia ptolomaica (323-30 a.C), que se seguiu à morte de Alexandre, o Grande, os governantes mantiveram a cidade em seu nível tradicional de prestígio. Ptolomeu I (323-283 a.C) respeitou a localidade e mandou sepultar o corpo de Alexandre ali no início de seu reinado. Ele ainda honrou Memphis ao estabelecer o culto de Serápis em Saqqara. Já Ptolomeu II (283-246 a.C) removeu o corpo de Alexandre para Alexandria e iniciou vários projetos de construção, como o Serapeum. Os templos de Memphis mantiveram a reputação da cidade em boas condições, mas com a continuidade da dinastia ptolomaica, ela perdeu seu status para Alexandria. O Decreto de Memphis, mais conhecido como Pedra de Roseta, foi emitido em 196 a.C, por Ptolomeu V Epifânio e, depois disso, a cidade perdeu seu prestígio. Através da ascensão do cristianismo no século IV d.C, Memphis declinou ainda mais à medida que cada vez menos pessoas visitavam os santuários e templos, e no século V d.C, quando o cristianismo se tornou a religião dominante do Império Romano, Memphis caiu no esquecimento. Nos dias atuais, nada resta da cidade, além de metades de pilares, fundações, restos de paredes, estátuas quebradas e pedaços de colunas perdidas perto da vila de Mit Rahina. O local foi incluído pela UNESCO em sua Lista do Patrimônio Mundial em 1979 devido sua importância cultural e pelos monumentos já encontrados até então, como a estátua do Ka de Ramsés II (XIX dinastia), feita em granito vermelho, onde ele é retratado usando uma peruca com o símbolo do Ka na cabeça, e possui 105cm de altura, 55cm de largura e 45cm de espessura. Essa relevância se dá pelo fato que, de acordo com o Ministério das Antiguidades do Egito, são registradas apenas duas estátuas Ka até o momento. Atualmente, está entre os projetos do governo egípcio o fortalecimento da circulação de turistas e o desenvolvimento da cidade de Mit Rahina, com foco na descoberta de novos artefatos. A Esfinge Estatua em pé de Ramsés II Ramsés II Referências: AMER, Mohamed; ABDALLAH, Mohamed. (2014). Ancient Memphis: Human-induced Impact Assessment. 10.13140/RG.2.2.26046.33606. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/333799128_Ancient_Memphis_Human-induced_Impact_Assessment> Acesso em: 25, jul. 2022 Colossus of ancient Egyptian King Ramses moved to new home, carefully. Disponível em: <https://www.reuters.com/article/us-egypt-archaeology-idUSKBN1FE1WJ> Acesso em: 27, jul. 2022 Huge archaeological building uncovered in Mit Rahina. Disponível em: <https://www.egypttoday.com/Article/4/58095/Huge-archaeological-building-uncovered-in-Mit-Rahina> Acesso em: 27, jul. 2022. MARIETTE, Auguste. Le Sérapéum de Memphis. F. Vieweg, 1882. SOLIMAN, Fatma Ahmed. Socio-Economic Role of the Site Museums for Visitors and Local Communities An Applied Study on Memphis Site Museum (Mit Rahina). Terms and Rules of Publication First: General Rules of Publication, 2022. Unique red granite bust