Divindades egípcias – o deus Amon

  Por: Ewerson Thiago da Silva Dubiela Entre as diversas divindades cultuadas no Egito Antigo, concebidas na forma animal ou humana, havia um deus em especial que não tinha a propriedade ou a representação declarada como a de outros deuses, apesar de suas estátuas e baixos-relevos o representarem na forma humana. Este era Amon, deus muito antigo, tão mais quanto Rá, a divindade que havia criado o mundo. Assim, sua existência antecede a criação como foi concebida pelos egípcios. Ele fazia parte da Ogdoada, ou seja, um conjunto de deuses misturados e imersos em um oceano caótico. A Ogdoada era formada pelos seguintes seres divinos: Num e Naunet, Ket e Keket, Amon e Amonet e Hehu e Hehet. Respectivamente, tratam-se das propriedades do Oceano caótico ou líquido inerte, do Escuro, do Invisível ou Oculto e do Espaço Infinito. A Ogdoada pode ser remontada a partir do mito da cidade de Hermópolis e depois, completada, para a nossa compreensão, pelo mito de outra cidade, Heliópolis. O mito da cidade de Heliópolis conta que Atum surgira a partir de um monte criado do Num, o Oceano caótico, e então deu início à criação de outras divindades que hoje conhecemos como Shu e Tefnut, Geb e Nut, Osíris e Isis e, por último, Seth e Néftis. As quatro primeiras figuras são as representações do Ar, da Umidade, da Terra e do Céu. Os últimos são os deuses que davam a legitimidade para a família faraônica conforme nos conta a passagem “As contendas de Hórus e Seth” – Hórus sendo filho de Osíris e Isis, e Seth sendo o deus invejoso.A questão levantada remonta ao episódio anterior à criação, Amon era a propriedade Invisível ou Oculta. Até o final do Primeiro Período Intermediário este deus não era tão conhecido, sendo apenas uma divindade local, de um vilarejo distante da capital Mênfis, quase 650 Km ao sul, em Waset (Tebas), a atual Luxor. Amon tinha vantagens sobre outros deuses, enquanto a maioria poderia apenas ser adorada dentro do próprio Egito, Amon, sendo invisível, podia acompanhar o exército e o faraó para fora do país, era uma divindade imperial. Mas por que o culto cresceu? O motivo pode ter sido político, uma vez que Mênfis já não representava no período a força dos governantes, Tebas tomou a frente da situação para reunificar. Durante o Reino Médio Amon dividia poder, fama e dinheiro com outros dois deuses, Sobek e Montu. Mas, quando veio a invasão de um povo chamado HeqaKhasut, ou os Hicsos, apenas Amon conseguiu manter o culto de forma crescente em detrimento das outras duas divindades. No final do Segundo Período Intermediário, os egípcios, a partir novamente de Tebas e de seu deus patrono, Amon, iniciariam uma política de expansão ou de retomada de territórios, começada ainda na época do faraó Seqenenre Tao II, da XVII Dinastia. Uma batalha que se estenderia pelos reinados de Kamosé e do primeiro rei da XVIII Dinastia, Amósis I. A partir de então, os faraós priorizaram o culto a Amon, mesmo assim, Rá não poderia ser esquecido. Na religiosidade egípcia, Rá era o deus que a tudo criara, ele era o Sol, chamado de Khepri pela manhã, Rá ao meio dia e Atum ao entardecer. A majestade de Rá seria unida com o invisível e imperial de Amon, surgiria uma nova divindade, o rei dos deuses, Amon-Rá. Possuía um clero extremamente forte e rico, inclusive a rainha fazia os cultos à divindade como “Esposa do deus”, deveria acordá-lo todas as manhãs para realizar oferendas e assim, sempre recriar o mundo. Inclusive a rainha Hatshepsut se utilizou de maquinações políticas sobre Amon-Rá para tornar-se faraó, criando uma mitologia na qual dizia que o deus havia se disfarçado como seu pai, o rei Tutmés I, e assim se encontrado com sua mãe, Amósis, em seu leito. Essa história foi colocada nos relevos do templo de Deirel-Bahari, além de outras obras que a legitimavam no poder, chamando o deus de “seu pai”, como nos obeliscos de Karnak. Mais tarde, o faraó Tutmés III, aproveitando-se de um oráculo, dizia que Amon o havia escolhido pessoalmente, colocando sua estátua à sua frente quando era apenas um menino. Este faraó conseguiu conquistar a maior extensão territorial do Egito, da Quinta Catarata do Nilo, na Núbia, até a borda do rio Eufrates, no Iraque. Assim, Amon-Rá era ao mesmo tempo a majestade de Rá atrelado ao poder invisível de Amon o que o tornou uma das divindades egípcias mais conhecidas até os dias de hoje. Amon-Rá – XX Dinastia – MET Museum Amon-Rá com a faraó Hatshepsut – XVIII Dinastia – Templo de Karnak

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O crocodilo como divindade no Egito Antigo

  Por Ewerson Dubiela Para os antigos egípcios tudo o que existia era fruto dos deuses. Sua fauna, sua flora e até mesmo as pessoas foram criadas e eram regidas pelas divindades. Cada deus representava uma condição da natureza. Vamos abordar um deus em específico, que não diferente de outros deuses egípcios, era representado como um ser antropozoomórfico (forma humana e animal) ou zoomórfico (apenas na forma animal). Primeiro, precisamos entender que para aquela população, os deuses viviam na Terra, no mesmo cenário que os homens. Os templos eram construídos para o culto aos deuses, eram as moradas divinas. Dentro deles havia estátuas que eram veneradas e todos os dias eram lavadas e perfumadas, vestidas e alimentadas, pois se acreditava que o Bá do deus, ou o que entendemos por alma, ali encarnaria e, portanto, precisaria de cuidados. A mesma ideia ocorria com o animal que era associado ao deus. Assim era com Sobek, o deus crocodilo, adorado principalmente nos templos do Fayum e de Kom-Ombo. Esta divindade era relacionada à violência, sexualidade e instabilidade da personalidade, portanto, propenso aos desejos mais primordiais. O seu nome, Sbk, apesar da grande discussão no meio acadêmico para seu significado, acredita-se estar relacionado ao verbo “Impregnar” devido à fertilidade do animal. No Reino Antigo, Sobek era chamado, em textos religiosos, de “O Raivoso”, posteriormente, durante o Reino Médio, foi associado ao poder faraônico por conta de sua habilidade em agarrar sua presa subitamente e destruí-la de forma única.[1] Como veremos no próximo parágrafo, esta é uma condição natural do animal que, pela interpretação dos antigos egípcios, se comparava ao faraó arrebatando e destruindo seus inimigos da mesma forma. A espécie Crocodylus Niloticus pode medir quase cinco metros de comprimento, atingindo em terra 14 km/h e, 30 km/h na água. Alimenta-se, quando adulto, de grandes animais que consegue capturar com seu poderoso ataque, não matando de imediato, mas levando a captura para a água, aonde deixa esta afogar-se e espera até que a carne amoleça. Para arrancar a carne, utiliza a sua mandíbula para girar na água, fazendo o “giro da morte”. Tente agora imaginar que este mesmo espécime, adulto, também poderia viver dentro de um templo, movimentando-se livremente pelo espaço, porém, todo enfeitado! E não obstante, ainda se tinham criadouros destes gigantescos e perigosos animais dentro do próprio templo. Os gregos Heródoto e Estrabão visitaram o Egito e relataram tais cuidados com os crocodilos, o primeiro escreveu: Parte dos egípcios (…) que habitam as vizinhanças de Tebas e do lago Moéris têm pelos referidos anfíbios muita veneração. Escolhem sempre um para criar e domesticar. Enfeitam-no com objetos de ouro ou com pedras falsas e colocam pequenas correntes ou braceletes em suas patas dianteiras. Nutrem-no com a carne das vítimas e lhe dão outros alimentos apropriados. Enquanto ele vive, cercam-no de cuidados; quando morre, embalsamam-no e depositam-no numa urna sagrada.[2] Como na estátua, o animal também possuiria o Bá do deus, e por isso era mantido e adorado, não existem registros de sacrifícios humanos para a divindade, apesar de saber-se da existência do ataque destes répteis durante o cotidiano nas bordas do rio. Nas artes, Sobek, era representado como um crocodilo por inteiro ou por um homem com cabeça de crocodilo com uma coroa em formato de plumas. Porém, existem outros deuses que tinham representações associadas ao animal, como as deusas Taueret e Âmit. Por que estas duas deusas também eram associadas ao crocodilo? Se observarmos como a mamãe crocodilo trata seus filhotes, conseguiremos identificar uma criatura extremamente gentil, assim como o papai crocodilo, que fica por um tempo protegendo sua ninhada junto com a fêmea. Talvez por isso, os egípcios tenham assimilado a deusa Taueret com este animal. Ela era relacionada ao nascimento, representada como uma mulher grávida, com cabeça e pernas de hipopótamo e costas e cauda de crocodilo. Quanto à Âmit, o Livro dos Mortos nos mostra que era um animal sagrado, que devoraria as almas daqueles que não tivessem seguido os princípios dos deuses em vida. Ela é representada por três animais, a cabeça de crocodilo, o corpo de um leão e as pernas de um hipopótamo. Vejamos que são três animais que atacavam os humanos e trazem uma ideia de terror. O fato é que, o poderoso réptil, bem como outros animais, acabava sendo associado aos deuses, muitas vezes por suas atribuições naturais, que o povo nilótico julgava como manifestações divinas. [1] HART, George. The Routledge Dictionary of Egyptian Gods and Godesses.New York. USA. Taylor & Francis Group. 2ªEd. 2005. [2] Heródoto, História: II, 229. Apud: Locks, Martha & Santos, Moacir Elias. Templos, Crocodilos e Múmias: Ex-votos de Sobek da coleção do Museu Nacional. In: Revista UNIANDRADE / Centro Universitário Campos de Andrade – v.6, n.1, 2005. Curitiba: UNIANDRADE, 2005. Alto Relevo no templo de Kom Ombo apresentando o deus Sobek. O crocodilo do Nilo Estatueta do deus Sobek. XII Dinastia. Museu Staatliches Ägyptischer Kunst – Munique

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