Thais Chaiane Costa de Faria – Monitora do Museu Egípcio e Rosacruz Tutankhamon A infância na Antiguidade é tema de diversos estudos recentes os quais buscam compreender o papel desempenhado pelas crianças na sociedade, com um olhar menos passivo, analisando-as como agentes sociais e suas contribuições para a comunidade em que estavam inseridas. Pesquisas nessa área da Egiptologia abordam aspectos desde a concepção, nascimento, até os primeiros anos de vida das crianças. Para os egípcios antigos ter filhos era sinal de honra, basicamente a finalidade do casamento, pois assim, garantiriam a perpetuação de sua linhagem familiar. Os filhos seriam aqueles que dariam apoio durante os momentos difíceis da vida, como em caso de doenças e a própria velhice, principalmente no plano pós morte. O filho mais velho seria responsável por proporcionar um funeral adequado aos seus pais, bem como as práticas relacionadas ao culto funerário em memória deles. No entanto, a gravidez no Egito Antigo tinha seus riscos e complicações, pois, no decorrer da gestação hemorragias poderiam ocorrer e, durante o parto, a mãe e o bebê corriam risco de vida dadas as circunstâncias da concepção somando a má nutrição da futura mãe. Portanto, os egípcios desenvolveram mecanismos para evitar tais riscos assegurando proteção para ambos: o culto a divindades relacionadas à concepção e a fertilidade eram adotados. Ísis, a senhora da magia, era a deusa da fertilidade, exemplo de mãe, protetora das crianças; a deusa Háthor estava associada a sexualidade e a maternidade, protetora das mulheres, assim como o deus Bes; Taueret era a divindade protetora das grávidas e das parturientes, dentre outras divindades. Amuletos, encantamentos recitados enquanto o parto era realizado e artefatos produzidos para uso doméstico, formavam um conjunto de práticas voltadas para a proteção da mãe e do recém-nascido. Os “tijolos do nascimento”, por exemplo, serviriam como apoio para a mãe no momento de dar à luz. Segundo estudos, supostamente no total de dois ou quatro, também poderiam ser agrupados lado a lado formando uma espécie de “cama” onde o bebê era colocado. Outros artefatos como as “presas de hipopótamos”, também chamados de “bastões do nascimento”, eram ornamentados com figuras animais, divinas e inscrições que tinham como função a proteção da criança, afastando as forças maléficas terrenas ou não que quisessem lhes fazer mal. Além dos amuletos usados como proteção diária, havia também aqueles associados aos encantamentos mágicos, utilizados pelas crianças para combater alguma enfermidade que estivesse afetando-as. Essa preocupação com a proteção e segurança dos bebês pelos egípcios está relacionada diretamente com a mortalidade infantil, muito comum na Antiguidade, pois além dos riscos da gestação e do parto, os primeiros anos de vida dos pequeninos, sem dúvidas, eram muito difíceis. A má nutrição da mãe poderia afetar o desenvolvimento inicial do crescimento do bebê, pois pelo menos até os três primeiros anos de idade o leite materno era sua principal fonte de alimentação. Após essa fase o lactente passaria aos poucos, a consumir novos alimentos em sua dieta, como frutas e verduras comuns na refeição cotidiana da família, entretanto essa transição poderia acarretar problemas intestinais e a carência de consumo de algum nutriente durante a infância como um todo, poderia ao longo do tempo, ocasionar doenças, como malformações ósseas. Contudo, apesar do alto índice da mortalidade infantil (mesmo que em números incertos), na medida em que a criança crescia sua expectativa de vida era prolongada. A inserção social da criança na comunidade se dava logo após seus primeiros meses de vida, acompanhada da mãe em suas tarefas rotineiras, era carregada em uma espécie de canga facilitando seu deslocamento e amamentação. Nos ambientes onde eram desenvolvidas essas atividades, a criança tinha seus primeiros contatos com outros membros da comunidade, provavelmente da mesma faixa etária, que se tornavam seus companheiros diários e parceiros nas brincadeiras. O lúdico também estava presente no dia a dia das crianças egípcias, pois foram encontrados diversos artefatos considerados brinquedos, dentre objetos com formas animais, dados, bonecas de pano e jogos, muito comuns inclusive no entretenimento dos adultos. O Senet, por exemplo, foi encontrado junto a outros artefatos, na tumba do faraó Tutankhamon. Era um jogo de tabuleiro o qual era dividido em três fileiras de dez quadrados. Alguns dos quadrados tinham símbolos que representavam a má e boa fortuna. Sabe-se que era um jogo de estratégia, mas não existe certeza de quais eram as suas regras. Entretanto, no geral, a crença é de que o vencedor era aquele que conseguisse levar suas peças para o final do lado do seu oponente. Contudo, através da análise das representações iconográficas podemos identificar facilmente algumas características que demonstram outros aspectos da infância e da juventude no Egito Antigo: geralmente as crianças são retratadas juntamente com os adultos alicerçando a ideia de dependência para com eles, menores que as demais figuras humanas representadas e em alguns casos, retratadas nuas. Entretanto essa condição não estaria necessariamente vinculada a realidade, sendo optada como um traço pertinente ao grupo representado, assim como as imagens onde a criança aparece com um dedo na boca. A típica trança lateral também poderia representar a infância e a juventude dependendo do contexto. O penteado era adotado pelos egípcios até certa idade entre a infância e a adolescência, depois passavam a usar o cabelo raspado, no caso dos homens, e com perucas para as mulheres. Conforme seu crescimento, as crianças logo iam adquirindo novas responsabilidades, explícitas em muitas cenas iconográficas, onde aparecem realizando diversas atividades, como a fabricação de utensílios para uso doméstico, além de participarem das tarefas agrícolas e dos cuidados da casa. Referências: Coelho, Liliane Cristina. Do nascimento aos primeiros anos de vida: um olhar sobre a infância no Egito do Reino Médio (c. 2040-1640 a. C.) Revista Plêthos, Rio de Janeiro, 2,2,12, p.30-50, fev.2012. Disponível em : https://www.historia.uff.br/revistaplethos/nova/downloads/4Liliane.pdf. Acesso em janeiro de 2021 Chapot, Gisela. A criança nas representações mortuárias privadas no Egito Antigo. SEMNA – Estudos de Egiptologia VI, Rio de Janeiro,2ª edição, p.44-59,2019. Disponível em:https://seshat.museunacional.ufrj.br/wp-content/uploads/2019/12/Segunda-Edi%C3%A7%C3%A3o-Estudos-de-Egiptologia-VI.pdf. Acesso em janeiro de 2021 Santos, Jessica Alexandra Monteiro. A protecção mágica da