Primeiro Período Intermediário

Orlando Buratto – monitor do Museu Egípcio e Rosacruz Tutankhamon

Ao final da VI Dinastia (2323 a.C. – 2150 a.C.), o Primeiro Período Intermediário (2134 a.C. – 2040 a.C.) foi um momento da história do Egito em que houve um enfraquecimento na centralização política.

A figura de autoridade do faraó começou perdendo parte de sua influência no final da VI Dinastia, possivelmente por conta de problemas agrários e da conturbada relação comercial e social com a baixa Núbia, se agravando ao longo do reinado de Pepi II (2246 a.C. – 2152 a.C.). A longevidade do faraó também foi um elemento de crise, já que no final de sua vida havia poucos herdeiros ideais vivos. Assim, todos esses elementos progressivamente enfraqueceram a centralização política durante as dinastias VII, VIII, IX e X.

Os reis de Heracleópolis, que reinaram durante as dinastias IX, X e no começo da XI, ao mesmo tempo que possuíam o direito de governar o território egípcio, acabaram não possuindo forte influência política para comandar todos os nomos. Essas unidades administrativas eram regiões que tinham uma cidade como capital e possuíam geralmente nomes relacionados a animais, elementos naturais ou conceitos do cotidiano e da religião. O grande responsável pelas províncias eram os nomarcas, governadores regionais que administravam essas cidades em nome do faraó.

O processo de descentralização política fez com que os nomarcas adquirissem mais autonomia. Uma prova dessa liberdade foi a incorporação da hereditariedade ao cargo, não sendo mais necessário que o rei admitisse os novos governadores. Esse fator criou uma série de famílias de governantes provinciais que encaravam os nomos como seus territórios particulares; esses grupos formaram clãs com outras famílias, também compostas por administradores de nomos, desenvolvendo grandes forças políticas que concorreram com os governos centrais.

No início da XI Dinastia, Tebas surgiu como uma nova força no Egito, transformando o cenário político em algo mais complexo. O país estava oficialmente dividido entre os governos do Sul, Tebas, o do Norte, Heracleópolis, e entre diversos nomarcas espalhados por todo o território egípcio, que cada vez mais adquiriam poder e influência na região. Vale salientar que ambos os protagonistas desse governo dual (Tebas e Heracleópolis) alegavam legitimidade em seus reinados, mesmo eles coexistindo.

Esse período foi repleto de guerras civis e confrontos internos, em grande parte motivados pelos interesses pessoais dos nomarcas na ampliação de seus domínios. Uma amostra disso é o grande número de relatos acerca de soldados e mercenários estrangeiros no norte do país.

A produção cultural também sofreu mudanças, já que cada nomo possuía mais autonomia, permitindo que suas produções artísticas e arquitetônicas passassem a apresentar características distintas de província para província. Os textos das pirâmides, que são uma série de escritos, reúnem orações, cosmogonia e ritos religiosos e tinham como objetivo guiar o rei até o mundo dos mortos. A obra, que era destinada somente aos faraós, passou a ser utilizada pelos nobres.

Esse período de instabilidade política e territorial no Egito acabou pelas mãos do principal rei da XI Dinastia, Montuhotep II (2061 a.C – 2010 a.C.), que reunificou todo o território nilótico, transformando a cidade de Tebas na nova capital do reino e centralizando novamente o poder na região. situava-se em Mênfis.

No início deste período (final da III dinastia e início da IV dinastia) ocorreu uma reforma religiosa com princípios voltados aos sacerdotes do deus Rá (deus solar), divindade associada à cidade de Heliópolis. Este processo ficou conhecido como solarização da monarquia e tornou a família real descendente do deus sol. Este aspecto pôde ser observado na necessidade de preservar o sangue solar da realeza como uma forma de legitimação ao trono. Diante disto, neste período, surgiram as relações endogâmicas, caracterizadas pelas uniões matrimoniais entre parentes, como os casamentos reais entre irmãos ou meios-irmãos.

Assim, tendo o mito como referência, o rei seria aquele que nascia da própria relação entre a rainha (divinizada como a deusa Ísis) e o faraó (filho do deus Rá). A partir do nascimento de novos descendentes, estes passariam a possuir a natureza divina antes pertencentes aos pais.

No período do Reino Antigo, o território egípcio estava unificado e o poder centralizado nas mãos do faraó. Este era responsável por administrar as terras e os homens, era o chefe da religião e dos cultos, sendo considerado o próprio deus na terra. Além disso, ele era responsável pela administração do território e construções públicas.

Para o controle administrativo, o território era dividido em 42 nomos, administrados pelos nomarcas (funcionários públicos que respondiam ao faraó). Os cargos importantes, como o de Vizir, eram ocupados por filhos ou netos reais. A legislação deste período tinha caráter divino, baseado na deusa da justiça e da verdade (Maat).

A arte do Reino Antigo teve reformas significativas, principalmente na arquitetura funerária. Foi durante a IV dinastia que o complexo de Gizé foi organizado. Construído por Khufu (Quéops) 2551-2528, Khaf-Rá (Quefren) 2520-2494 e Menkaurá (Miquerinos) 2490-2472, além das três pirâmides encontra-se na região a grande esfinge e inúmeras tumbas de altos funcionários, conhecidas como mastabas.

Antes das três famosas pirâmides, o faraó Snefru (2575-2551 a.c) construiu três pirâmides em seu nome, a pirâmide Meidum (começada por Huni, da III dinastia e finalizada por Snefru, da IV dinastia), a pirâmide romboidal (pirâmide curvada, a única construída neste formato) e a pirâmide vermelha, esta última ficou conhecida como a primeira pirâmide de faces lisas. As pirâmides da IV dinastia eram mais numerosas em quantidade, porém não apresentavam decoração nas paredes internas.

A construção das pirâmides está diretamente ligada a solarização da monarquia, pois esta forma arquitetônica representava o primeiro monte de terra a surgir durante a criação do mundo e, por isso, um símbolo solar. Além das pirâmides, as mastabas evidenciam, através de sua iconografia, a realidade deste contexto histórico, pois trazem informações bibliográficas do proprietário da tumba. Como exemplo desta produção artística das mastabas, tem-se a estela funerária de ladrilhos do arquiteto real, Upemnefert. Esta estela, além de retratar seus cargos e homenagear os deuses, traz informações de algo bom que ele fez em vida, por exemplo, Upemnefert era superior dos pescadores. 

Por fim, a decadência do período do Reino Antigo ocorreu a partir do reinado de Pepi II (2246-2152) por conta da deterioração das relações externas do Egito com a Baixa Nubia e Punt. Outro ponto foi o aumento da fome ocasionado por uma série de desastrosas inundações baixas, o surgimento de fatores que implicaram no crescimento do índice de mortalidade e o conturbado período de transição de sucessão do faraó.

Referência das imagens: 1 e 2. False Door of the Royal Sealer Neferiu – The Metropolitan Museum of Art
3. Statue of Nebhepetre Mentuhotep II in the Jubilee Garment – The Metropolitan Museum of Art
4. Statue of Queen Ankhnes-meryre II and Her Son, Pepy II – Creative Commons-BY (Photo: Brooklyn Museum, 39.119_threequarter_right_SL1.jpg)
5 e 6. Stela of the Gatekeeper Maati – The Metropolitan Museum of Art Referências Bibliográficas https://egymonuments.gov.eg/en/historical-periods/first-intermediate-period https://egymonuments.gov.eg/en/collections/thebes https://egymonuments.gov.eg/en/world-heritage/ancient-thebes-and-its-necropolis https://antigoegito.org/os-textos-das-piramides/
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