O deus Ptah

 

Orlando Buratto – Monitor do Museu Egípcio e Rosacruz Tutankhamon

Ptah está entre as mais antigas e importantes divindades do panteão egípcio. Seu culto advém da cidade de Memphis, que fica cerca de 24km ao sul do Cairo. Na antiga cidade, que fora a primeira capital política do Egito, Ptah foi adorado como a principal divindade, sendo considerado o criador de Memphis e seu deus tutelar. O principal local de adoração dessa divindade era seu templo, chamado de Hut Ka Ptah, que significa “Recinto do Ka de Ptah”. Além de guardião da cidade, ele estava intimamente ligado aos artesãos, escultores, artistas e construtores, sendo considerado o deus patrono desses ofícios. Tal ligação provém em parte da cosmogonia memphita, uma narrativa, de cunho religioso, que se propunha a explicar a criação do universo, tendo como principal agente o deus construtor. Segundo o mito, Ptah teria originado tudo o que existe, desde os humanos, e tudo o que compunha o mundo dos vivos, até os deuses. Ele teria realizado a criação através de seu coração. Por meio do desejo formulou o mundo, que posteriormente tornou-se a realidade por intermédio de sua fala. Assim, o pensamento e o verbo seriam os meios utilizados por Ptah para a realização da criação do mundo.

Essa divindade, além de suas características inventivas e criadoras, possuía particularidades mortuárias. Essa conexão simbólica entre o deus e o elemento da morte pode ser explicado por meio de suas representações, pois seu corpo aparece revestido por um invólucro branco que remete à prática de enfaixamento, um dos muitos processos utilizados na mumificação. Fora a sua caracterização padrão, que consiste no já citado envoltório branco, porta a barba osiriana e o cetro que apresenta os hieróglifos Ankh, Djed e Was fundidos (vida, estabilidade e poder respectivamente). Contudo, havia também diferentes representações de sua figura, geralmente relacionadas com outras divindades, como Ptah-Tatenen, uma faceta andrógena de pele esverdeada, tendo acima de sua cabeça um par de plumas que ficavam sobre cornos horizontais. Essa versão apresentava uma relação simbólica com o monte de terra primordial e com a criação do mundo. Esse aspecto existe desde o Reino Antigo (2686 a.C. – 2181 a.C.), muito possivelmente tendo sido uma divindade a parte que acabou sendo assimilada pela principal potestade memphita. Tal assimilação garantiu o status de deus demiurgo a Ptah, já que originalmente Tatenen era considerado(a) como o(a) deus(a) responsável pelo surgimento das outras deidades.

No mundo divino egípcio, além de assimilações, era comum encontrar fusões entre os deuses, tal acontecimento poderia ter inúmeros motivos, podendo ser de ordem política e/ou religiosa. A figura de Ptah aparece em duas fusões divinas. A primeira engloba as principais divindades da cidade de Tebas e Heliópolis, formando assim a divindade Amon – Rá – Ptah, originada de uma aproximação de influências entre os maiores centros intelectuais do período. Na segunda tem-se Ptah – Sokar – Osíris, na qual há uma junção dos respectivos conceitos divinos, mais especificamente a ressureição e reconstituição do corpo por meio do nome da divindade, sendo uma palavra de caráter mágico relacionada ao pós vida, já que os três deuses tinham características mortuárias.

Além do sincretismo havia também outros tipos de relações entre os deuses. No Período Tardio do Egito se difundiu, entre os múltiplos templos, uma prática de definir grupos familiares entre as divindades, muito por conta da popularidade da estrutura familiar de Osíris, Ísis e Hórus. Nesse cenário Ptah formou uma tríade com Sekhmet e Nefertum, formando assim a tríade memphita.

Com isso posto pode-se observar que a religião egípcia possuía uma volubilidade em sua essência, que optava pela criação de conexões e não de impeditivos engessados. Ptah mostra conceitos como adaptabilidade, assimilação e junção, elementos esses que acabam por enriquecer o imaginário religioso egípcio que era igualmente volúvel, mágico e real, se inserindo na própria história daquele povo, esboçando uma parte da complexa perspectiva egípcia acerca da vida e crença.

 

REFERÊNCIA

FARIA, Thais Chaiane Costa. Mênfis. Museu Egípcio. Disponível em: http://museuegipcioerosacruz.org.br/menfis/. Acesso em: 14, jul. 2022.

LOPES, Maria Helena Trindade. Mênfis, a cidade “que desapareceu”. In: Vargas , A.Z, Pozzer, K, Martins, L.C.P (Orgs.) Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2018 ( p.4-55). Disponível em: https://run.unl.pt/handle/10362/63782. Acesso em: 15, jul. 2022.

 MENPHIS AND ITS NECROPOLIS. Ministry of Tourism and Antiquitties. Disponível em: https://egymonuments.gov.eg/en/world-heritage/memphis-and-its-necropolis. Acesso em: 14, jul. 2022.

TRAUNECKER, Claude. Os Deuses do Egito. 1° edição. Brasília: UNB, 1995.144 p.

HART, George. The Routledge Dictionary of Egyptian Gods and Goddesses. 2° edição. Nova York: Routledge, 2005. 168 p.

Estátua do deus do Museu Metropolitano de Nova Yorque httpsen.wikipedia.orgwikiPtah#mediaFilePtah_Statue_MET_DP216330.jpg

Deus Ptah no museu de Mit Rahina – Memphis httpsen.wikipedia.orgwikiPtah#mediaFileMemphis_Museum_32.jpg

Ptah no Museu Metropolitano de Nova Yorque httpsen.wikipedia.orgwikiPtah#mediaFileCult_Image_of_the_God_Ptah_MET_DP142956.jpg

Relevo com o deus Ptah [httpsen.wikipedia.orgwikiPtah#mediaFileRelief_of_Ptah.jpg __=”#” __=”#” __=”#” __=”#”]

REFERÊNCIA

FARIA, Thais Chaiane Costa. Mênfis. Museu Egípcio. Disponível em: http://museuegipcioerosacruz.org.br/menfis/. Acesso em: 14, jul. 2022.

LOPES, Maria Helena Trindade. Mênfis, a cidade “que desapareceu”. In: Vargas , A.Z, Pozzer, K, Martins, L.C.P (Orgs.) Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2018 ( p.4-55). Disponível em: https://run.unl.pt/handle/10362/63782. Acesso em: 15, jul. 2022.

 MENPHIS AND ITS NECROPOLIS. Ministry of Tourism and Antiquitties. Disponível em: https://egymonuments.gov.eg/en/world-heritage/memphis-and-its-necropolis. Acesso em: 14, jul. 2022.

TRAUNECKER, Claude. Os Deuses do Egito. 1° edição. Brasília: UNB, 1995.144 p.

HART, George. The Routledge Dictionary of Egyptian Gods and Goddesses. 2° edição. Nova York: Routledge, 2005. 168 p.

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