EXPOSIÇÃO DE LONGA DURAÇÃO
Maat era, para o egípcio antigo, tanto um conceito quanto uma divindade e estava associada à verdade, ordem, justiça e equilíbrio. O mito era a referência para a compreensão do mundo e de acordo com a cosmogonia egípcia, Maat teria surgido no início dos tempos, ainda no princípio do processo de criação que estava sendo empreendido pelo deus sol Rá. Foi por meio de Maat que o demiurgo pôde trazer as coisas à existência e, por conseguinte, para conservar a harmonia de tudo que havia sido criado era essencial manter Maat. Assim, como conceito/princípio explicava e legitimava a organização religiosa, política e social que foi estabelecida no processo de criação, uma vez que a humanidade era herdeira da ordenação estabelecida pelos deuses.
Não há como compreender o funcionamento do Egito faraônico sem Maat, pois ao personificar a ordenação cósmica a deusa permeava todas as áreas da vida do homem egípcio antigo. E este é o objetivo da XVII exposição de longa duração do Museu Egípcio e Rosacruz Tutankhamon, demonstrar como esse conceito estava presente no papel exercido pelo rei, na maneira de compreender a natureza, na organização social e na vida além-túmulo.
Para os egípcios antigos era essencial representar suas divindades. Neste ambiente o visitante será apresentado à Maat a partir do modo como ao longo do tempo os egípcios foram representando a deusa. Além disso, encontrará um conjunto de telas, elaboradas pelo artista plástico Eduardo D’Ávila Vilela, com cenas do Egito que evidenciam a importância de Maat como princípio em várias esferas da vida.
Como o mito nos conta sobre a origem da deusa Maat?
Como ordenação cósmica, para o egípcio antigo, não havia como compreender o funcionamento de seu mundo sem a existência da deusa. Além disso, para assegurar que a ordem que foi estabelecida no momento da criação não deixasse de existir, era fundamental a existência e a função do rei como intermediário entre as divindades e os homens. E esse é o tema desse ambiente que apresenta quem era a deusa, o mito associado a ela e a função do rei como mantenedor de Maat.
O modo como os egípcios observavam a natureza e, principalmente, seu funcionamento era reflexo da ordenação cósmica, ou seja, era Maat agindo. A vida foi organizada através dos ciclos naturais mostrando uma interdependência entre a organização social e o meio ambiente. Maat era também a justiça e os princípios morais que regiam a estrutura social egípcia. Assim, neste ambiente o visitante conhecerá como através dos artefatos egípcios é possível refletir sobre essas questões.
Maat precisava ser mantida diariamente, pois o caos, Isfet, estava sempre à espreita. O caos era tudo o que iria contra a ordem estabelecida pelos deuses, como a invasão de povos estrangeiros, doenças, crises políticas… Além disso, o conceito associado a deusa também estava presente na concepção de vida além-túmulo. Uma das relações é a de que ela se fazia presente na viagem para o outro-mundo, o que é atestado no Livro dos Portões e no Livro para sair à luz do dia, ou seja, o Livro dos Mortos.
Em Tebas, a capital do Egito Antigo, durante o Reino Novo, as tumbas foram escavadas nas rochas dos vales montanhosos, a oeste do rio Nilo. Essas tumbas geralmente possuíam três partes: um pátio, a capela para o culto funerário e a câmara funerária subterrânea, na qual a múmia era encerrada. Todo o complexo era chamado de “Casa da Eternidade”, pois seria a morada permanente para o indivíduo e sua família após a morte.
A capela mortuária, em especial, era o local onde os familiares deveriam realizar o culto funerário para o proprietário da tumba. Por isso era decorada e revelava a crença e a atitude dos egípcios em relação à morte. Suas imagens demonstram o status e o prestígio de seu proprietário. Muitas vezes organizada em dois ambientes, as cenas da primeira sala eram associadas ao mundo dos vivos, ao passo que as cenas da sala interna eram relativas à vida além-túmulo.
Muitas vezes, com o passar do tempo, tumbas eram abandonadas e reutilizadas por gerações futuras. E é justamente o que representamos aqui no Museu Egípcio com a organização de uma capela funerária para a visita à múmia Tothmea, pois no período em que ela viveu não se construíam mais complexos funerários como este.
Assim, nós o convidamos a conhecer um pouco mais sobre a crença egípcia na vida além-túmulo ao visitar a “Casa da Eternidade da múmia Tothmea”.