Christianne Ribeiro.

A necrópole de Beni Hassan, localizada perto de El Minya, no Egito, guarda antigos enterramentos feitos para sacerdotes, oficiais e governantes que pertenceram ao Primeiro Período Intermediário (2134 – 2040 a.C.). Por ser um ambiente que trata diretamente de tumbas que, em sua maioria, pertenceram a governantes de diferentes nomos (parcelas de território que eram administradas por um nomarca), o local é um importante ponto de visitação para os turistas, já que conta em sua estrutura com belíssimas decorações e afrescos que descrevem sobre a cultura funerária e sobre os costumes ligados ao dia a dia dos egípcios, como práticas de lutas corporais, da agricultura, de sua religião e até mesmo, sobre itens ligados a configuração administrativa de cada governante.

Uma das necrópoles mais conhecidas deste grande complexo subterrâneo se trata da tumba do governante Kethy I, que pertenceu ao 13º nomo superior, durante a X dinastia (2134 – 2040 a.C.). Ele era membro de uma longa linhagem de nomarcas da cidade de Asyut, e assim como outros governantes da localidade, era também sacerdote e prestava cultos a divindade Upuaet, considerado deus da guerra cujo nome significa “abridor dos caminhos”. De acordo com os estudos acerca deste nomarca, Khety I governou seus nomos em um período considerado pacífico, e sabe-se que ele ordenou a construção de muitos canais de irrigação para facilitar o trabalho em tempos de plantio, o que ajudou suas terras a serem mais cultiváveis e próprias para plantio.      

Durante um período difícil de fome enfrentado dentro de seu território, causado por longas cheias do rio Nilo, Khety I concordou em entregar grãos ao povo que residia dentro de seu distrito, embora se negasse a ajudar povos que estivessem além de sua administração. Este nomarca também gostava de enfatizar suas habilidades como guerreiro, onde em certa ocasião ordenou uma milicia de defesa da sua província. Após sua morte, seus títulos administrativos e sacerdotais passaram para seu filho Téfibi, que passou a ser conde, portador do selo real, único companheiro e sumo sacerdote de Upuaet. Posteriormente este também passaria seus deveres ao seu filho, chamado de Khety II.

A tumba de Khety I consiste em um pátio que conduz à sua entrada, e uma sala que possui três colunas sobrepostas apresentando o formato da planta papiro. Em suas paredes, há diversas cenas muito interessantes, como as de luta livre, onde os lutadores aparecem em diferentes posições de movimento e exercícios militares, sob a forma de três filas em preparação para a defesa das fortalezas reais. Na entrada estão representados combatentes distribuídos entre cinco fileiras, representando claramente sua força bélica em uma batalha. Abaixo dos guerreiros do governante, estão cenas de defensores presos em um forte, que lutam contra seus rivais.

Em sua parede Norte (à esquerda da entrada), como é comum nas tumbas de Beni Hassan, há cenas representando o trabalho dos carpinteiros, seguidas de uma representação da importância do governante e de sua esposa. Em seguida, há imagens relacionadas ao rito funerário, à fiação e tecelagem, além de brincadeiras envolvendo jogos de tabuleiro e jovens mulheres a brincar e a realizar acrobacias.

Por fim, podemos saber que, Khety I, juntamente de sua esposa, eram os responsáveis de todas estas atividades de cunho político e cultural praticadas. Já a parede Sul é repleta de pinturas que trazem a prática da vinificação com os procedimentos e processos que fazem parte da transformação da uva madura em vinho, juntamente com cenas mostrando a apreciação de instrumentos musicais em momentos de lazer e práticas de diferentes esportes.

REFERÊNCIAS:

BRANCAGLION, Antônio. Quadro Cronológico – Lista de Reis. Sehat. Museu Nacional.

CAIRO Top Tours. O Túmulo Kheti. Disponível em: < https://www.cairotoptours.com/pr/Egipto—Viagens—Guia/bani-hassan-tumulos-/-tomba-Kheti-the >. Acesso em 11 de abril de 2023.

REDFORD, Donald B. A Enciclopédia Oxford do Antigo Egito. 2001, pg. 154-56. Disponível em: < https://www.academia.edu/16284928/Egyptology_in_Oxford_Encyclopedia_of_Ancient_Egypt_vol_1_2001_ >. Acesso em 10 de abril de 2023.

SANTOS, Moacir Elias. Escritas, Mitos e Lendas do Antigo Egito. Curso de Férias – Ordem Rosacruz, AMORC. Pg. 12-13.