A Representação dos Estrangeiros no Reino Novo – Egito Antigo
Assim, os estrangeiros foram criados pelas divindades no processo de organização do mundo, sendo, no caso do exemplo acima, pelo deus Aton. Ainda no campo religioso, os estrangeiros poderiam receber a proteção de alguns deuses, principalmente de Hórus ou Sekhmet.
Os estrangeiros eram identificados como parte de grupos específicos: núbios, líbios e asiáticos. Estes, juntamente com a sociedade egípcia, compunham os grupos que formavam a humanidade, e eram representados de maneira específica, como pode se observar abaixo (Figura 3), na parte superior, da esquerda para a direita estariam os: egípcios; núbios; asiáticos e líbios.
Essa incorporação dos estrangeiros em sua cosmogonia não retira a centralidade egípcia autoimposta perante outras sociedades. Quando se compreende o conceito de Maat , de buscar viver em ordem e equilíbrio, é preciso ter em mente que isso é algo direcionado para a sociedade egípcia, colocando os estrangeiros fora deste processo. Isso pode ser visto com o deus Seth (Figura 2), que além do deus do caos, estava também associado aos estrangeiros. É como se a ordenação cósmica apenas existisse em terras egípcias e aqules que operam fora deste território seriam passíveis de trazer o caos.
Essa identificação do estrangeiro com o caos pode ser vista ao longo da arte egípcia, ainda mais aquela produzida ao longo da XVIII dinastia, marcada pelas expansões territoriais. O faraó Tutankhamon (1341 a.C. – 1323 a.C.) detinha objetos que exemplificam isto, primeiramente uma de suas sandálias (Figura 4), que representa em sua sola núbios e asiáticos, demonstrando o poder do faraó que, ao usá-la, estaria “pisando” sobre seus inimigos e, dessa forma, afastava o caos que poderiam trazer para o Egito. Ainda com Tutankhamon, temos o seu vaso de cosméticos (Figura 5), onde em sua base é possível observar cabeças de estrangeiros núbios e líbios, novamente em uma posição de inferioridade. Outro artefato que demonstra um conflito direto é a Paleta de Narmer (Figura 6), que simboliza a unificação do Egito, mediante guerras, realizadas pelo Faraó Narmer. Em um dos lados observa-se o governante golpeando um homem líbio, ao mesmo tempo que está “pisando” em outros, simbolizando o processo de expansão territorial através do conflito contra esses estrangeiros.
[2] Para ver mais sobre o conceito e deusa Maat, ver: https://museuegipcioerosacruz.org.br/maat-principios-regentes-do-egito-faraonico/.
Figura 1. Rotas comerciais do Egito – Principalmente com o continente Asiático
Figura 2. Set (à direita) travando uma disputa com Hórus (à esquerda).
Figura 3. Quatro grupos que formam a humanidade – Presentes na tumba de Séty I (KV17)
Figura 4. Sandálias de Tutankhamon com homens núbios e asiáticos. Réplicas expostas no Museu Egípcio Rosacruz.
Figura 6. Vaso de cosméticos de Tutankhamon. Réplica exposta no Museu Egípcio Rosacruz.
Referências:
SANTOS, Elias Moacir. A presença de estrangeiros no contexto funerário egípcio do Reino Novo. RJ: Universidade Federal Fluminense, Plêthos, 2, 1, 2012.
ANTHONY, Brooke Flora. Foreigners in Ancient Egypt: Theban Tomb Paintings from the Early Eighteenth Dynasty. UK: Blommsbury Academic, 2017.
Imagens:
1 – https://pt.wikipedia.org/wiki/Via_Maris
2- https://pt.wikipedia.org/wiki/Seth_(divindade)
3 – https://www.academia.edu/download/28029098/edi_c3_a7_c3_a3ofinal.pdf#page=52
4 – https://museuegipcioerosacruz.org.br/tesouros-do-museu-sandalias-do-farao-tutankhamon/
5 – https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Narmer_Palette.jpg