Háthor Representações do feminino no Egito Faraônico

 

Háthor em egípcio antigo ḥwt-ḥr, que significa recinto ou casa de Hórus, era uma das deusas mais cultuadas pelos antigos egípcios. Dentre suas várias representações ela aparece como sendo uma mulher com um disco solar acima de sua cabeça entre seus chifres bovinos ou com corpo de mulher e orelhas de vaca, quase sempre segurando um was, cetro com cabeça de um cervo, ou ainda o wadj, um cetro com a planta de papiro, já que para os egípcios a morada dessa deusa era nas plantações desse vegetal que localizavam-se na parte Delta do rio Nilo, onde havia também muitos rebanhos de bovinos.

Entre as suas múltiplas denominações as principais aparecem como: “A Grande Vaca Selvagem”, “A Distante” ou “A Senhora do Ocidente” pois era a senhora do deserto e das terras estrangeiras, “A Senhora Turquesa” e “A Dourada” uma vez que era também a deusa dos metais e dos minérios, e “A Senhora do Submundo”, sendo ela protetora dos mortos. Seu culto no Egito faraônico remonta ao Reino Antigo (2686-2181 a.C) considerando os registros de cabeça bovina esculpidos na paleta de Narmer (3100 a.C) e os achados arqueológicos junto a fonte textual no Templo do Rei Khafra (2520-2494 a.C). Contudo, houve claramente uma veneração de deusas-vacas no Egito pré-dinástico (5500- 3100 a.C) como a deusa Bat que foi associada a Háthor posteriormente.

Háthor era uma deusa muito popular na antiguidade egípcia. Por esse motivo era venerada em várias regiões do Egito, seu templo foi construído em Dendera, uma cidade localizada na margem ocidental do rio Nilo. Na mitologia egípcia Háthor possui várias faces, sua natureza é benigna, mas essa deusa possui um prisma relacionado a destruição e fúria. Háthor é filha do deus sol Rá, e a mitologia retrata a deusa como a vingadora de seu pai quando os homens se voltam contra ele, dentre suas várias manifestações, nesse momento se torna a deusa Sekhmet, um deusa leoa patrona de batalhas e da guerra. Em algumas partes a mitologia conta que Háthor carregou Hórus em seu ventre, portanto ela é considerada a mãe simbólica e divina do faraó, representante de Hórus na Terra.

Essa relação materna da deusa com o governante do Egito, está retratada na estátua de Amenhotep II (1424-1398 a.C) – atuamente no Museu do Cairo – nesse artefato a deusa está amamentando o próprio faráo em seu colo. Em algumas versões mitológicas mais antigas Háthor era venerada como a deusa que deu a luz e amamentou todos os outros deuses, por isso a deusa é muitas vezes representada e associada à Isis, a deusa da maternidade. As Sete Háthors* são os sete aspectos da deusa, essas em específico são mais ligadas a fertilidade e capazes de prever o futuro de um recém nascido. Na iconografia que ilustra passagens do livro dos mortos na tumba da rainha Nefertari (1292- 1186 a.C), Háthor é representada através das sete vacas cujo papel é determinar o destino de uma criança ao nascer. Em muitas versões entre os diversos mitos presentes na religião egípcia, a deusa é a paredra do deus Hórus, ou seja, sua esposa e consorte.

Tendo em vista a quantidade de faces que essa deusa possuia dentro da religiosidade egípcia, fica claro que ela tinha muitos atributos. Entre eles se destacam o amor, a beleza, a sexualidade, a dança e a alegria. Háthor era uma deusa muito ligada a festividades, pois os mitos contam que na ânsia de vingar seu pai ela promoveu uma carnificina entre os homens, e para apaziguar sua fúria, Rá a embebedou com sete mil jarros de cerveja, uma vez embriagada a deusa era associada a festas. Ela também é a deusa do amor, os gregos imediatamente associaram Háthor à Afrodite e os romanos a sua Vênus, rituais mágicos e poemas de amor são encontrados em nome da deusa em paredes de tumbas e templos. A beleza e a sensualidade eram princípios dessa deusa, mulheres utilizavam espelhos de bronze polido adornados com capiteis ou estátuas da deusa. Peles de pantera e incenso de ébano, joias de ouro, bronze e turquesa eram seus elementos.

A música era um componente importante nas celebrações de adoração a deusa Háthor, seus instrumentos rituais o sistrum, “sesheshet” em egípcio, um chocalho de bronze com capetéis hathóricos, e o menat, um colar espesso de contas com um contrapeso longo de ouro ou bronze, emitiam sons atribuidos a essa divindade. Na arquitetura, os capitéis hathóricos eram construídos acima de grandes pilares de templos para representar a suntuosa deusa. Por fim, Háthor era uma divindade com um culto acessível no Egito antigo, entre as diversas representações do feminino na religião egípcia, Háthor simbolizava o comportamento feminino, em especial a relação das mulheres egípcias com o corpo e o amor.

*Sete denominações e aspectos da deusa adorados por seus sacerdotes e sacerdotisas. Cada sacerdote (a) só poderia cultuar um aspecto. As denominações variam de acordo com a cidade e com os cultos locais de cada região, pois poderia ser inserido um deus local da cidade entre as sete.

Por: Jéssica Franco
Referências:
NOBLECOURT, Christiane Desroches. A mulher no tempo dos faraós. Campinas, Papirus, 1994.
REMLER, Pat. Egyptian Mythology A to Z. 3ª edition Publisher, Chelsea House, 2010.
HART, George. The Routledge Dictionary Of Egyptian Gods And Goddesses. 2ª edition Publisher, Taylor & Francis Group, 2005.
Site: www.seshat.com.br

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