Tumba de Baqeet III – Beni Hassan

Baqeet III foi sucessor de seu pai Ramushent. Atuou como oficial egípcio e nomarca durante a XI dinastia no Reino Médio (2040-1640 aC.). Os nomarcas eram oficiais delegados pelo poder central para chefia de pequenas parcelas de territórios egípcios. Sob sua autoridade eram colocadas as principais decisões sobre o nomo, mas ainda assim estavam sujeitos ao poder do faraó. O nomo que Baqeet III chefiou foi o 16º do Alto Egito, denominado Oryx. Além de nomarca, desempenhou a função de tesoureiro do Baixo Egito.

O período em que Baqeet III chefiou o nomo Oryx foi uma fase notavelmente confusa enfrentada pela sociedade egípcia, no qual um lento declínio do poder real gerou o enfraquecimento da unidade e do controle do norte do território, favorecendo assim a emergência de poderes locais que possibilitaram aos nomarcas desfrutarem de um alto nível de independência, agindo como governantes autônomos.  

Durante esse período, o conflito entorno do poder central se disputava entre dois poderes: a monarquia heracliopolitana e a monarquia tebana. Em meio a esse cenário, os nomos se posicionavam também em defesa de seus interesses. Baqeet III, astuciosamente, ao perceber que a vitória se inclinava fortemente aos príncipes tebanos liderados Montuhotep II, quebrou a neutralidade de seu nomo e posicionou-se a favor dos tebanos, possibilitando através de sua lealdade aos vitoriosos, a sucessão da chefia do nomo Oryx para seus descendentes até a época de Amenemhat I.  

A tumba do nomarca Baqeet III se encontra localizada no complexo funerário de Beni Hassan, situado ao sul de Al-Minya, e na margem direita do Nilo. A disposição especial do local se divide em duas necrópoles, a superior e a inferior, contando com oitocentos e oitenta e oito túmulos na necrópole inferior, e trinta e nove na superior, mesmo sendo local criado para sediar membros da nobreza. A disposição do local era hierarquizada, estava associada a posição e aos recursos que o morto contava, sendo que os mais importantes eram enterrados no topo, e os menos na área inferior.

Como membro da alta nobreza egípcia, por conta de sua posição social e política como nomarca, o corpo de Baqeet III foi localizado na tumba XV da necrópole superior, entre as trinta e nove sepulturas de nomarcas do nomo Oryx, que governaram durante o Reino Médio (2040 a.C a 1640 aC.). Alinhadas em um eixo norte-sul, as tumbas neste local contavam com uma grande extensão, escavadas na rocha, ricamente decoradas e esculpidas, e exibindo em algumas delas inscrições biográficas e pinturas de cenas da vida cotidiana da sociedade egípcia.

A arte egípcia não era realizada livremente a partir de aspirações individuais. Havia intencionalidades determinadas em suas criações, com fins religiosos e mágicos ou mesmo para retratar uma imagem que o falecido deseja exibir de si. Dessa forma, as cenas de membros da alta nobreza eram cuidadosamente organizadas a fim de enfatizar uma mensagem. Como cada período carrega seu próprio estilo artístico, ao analisar as representações devemos observá-las dentro de seu contexto histórico. Como já vimos, o período de governo de Baqeet III foi marcado por grande instabilidade e conflitos e, em sua tumba, é possível observar iconografias do nomarca e sua esposa, da sua vida cotidiana, da atividade da caça, de lutas e cenas mais incomuns de serem representadas, como de castigos.

Na cena da parede oriental, há um impressionante número de posições e técnicas de luta livre, todos em poses diferentes. É possível observar em cada par de lutadores, que um deles foi pintado de vermelho e o outro de castanho escuro, talvez para que a interação entre eles pudesse ser vista claramente.

Cena de punição de uma mulher enquanto amamenta um bebê

No extremo poente da parece sul, na cena principal que representa as punições entre as iconografias incomuns de castigos, observa-se uma mulher sendo punida enquanto amamenta. A mulher é retratada sentada e segurando uma criança contra o peito, enquanto na frente dela está um homem que parece estar puxando sua cabeça com a mão esquerda, com a mão direita pronta golpeá-la com um bastão. O espancamento com bastão era um método aprovado para punições e interrogatórios, femininos ou masculinos, porém, não eram frequentemente representadas. A cena mencionada é ainda mais incomum, pois demonstra a punição de uma mulher que está amamentando, e esta era uma atividade apreciada e respeitada na sociedade egípcia, sendo inclusive uma profissão exercida até por mulheres importantes.

As cenas incomuns representadas tornam a tumba de Baqeet III única, sugerindo, por meio da iconografia, a natureza implacável do nomarca, manifestada também nas inscrições de seu tumulo: “Smiter dos plebeus”. Com a principal função destacá-lo como nomarca capaz de controlar e administrar seu nomo, as imagens expressam o máximo do poder do governante, servindo de alerta ao povo por meio das representações incomuns de castigos. Mostravam que qualquer um poderia ser punido, refletindo também uma demanda da época, que exigia fortes governantes para defender seus territórios de ataques externos, e para controlar conflitos internos.

Referências Bibliográficas:

BRANCAGLION, Antônio. Quadro Cronológico -Lista de Reis. Seshat, Laboratório de Egiptologia do Museu Nacional, UFRJ.

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DESPLANCQUES, Sophie. Egito Antigo: Uma breve introdução. L&PM Pocket Encyclopaedia, 2009.

FARAMAN, Ahmed Faraman. Peculiar Punishments from the Tomb of Baqet III At Beni Hassan. Egyptian Journal of Chemistry, 2019. <https://journals.ekb.eg/article_144978.html) Acesso em: 15 de maio.2023.

Texto por: Rafaela Gouvea deSouza – Monitora do Museu Egípcio e Rosacruz Tutankhamon

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